Multinacional reafirma chantagem e tem agora a ajuda da CUTCinco meses após ser derrotada em sua proposta de retirar direitos dos metalúrgicos da fábrica de São José dos Campos, a GM retoma agora a ofensiva contra os trabalhadores da cidade. E não vem sozinha. Tem ao seu lado grande parte do empresariado da região do Vale do Paraíba, o governo, a imprensa e, como se não bastasse, a CUT.

No início do ano, a montadora apresentou a proposta de contratação de 600 novos operários para a planta na cidade, a fim de aumentar sua produção e atender a crescente demanda. A medida, no entanto, estaria condicionada à redução do piso salarial e a adoção do banco de horas aos novos contratados. Apesar da brutal pressão da empresa, os metalúrgicos rejeitaram em assembléia os ataques.

Isso atraiu o ódio da burguesia da cidade e do governo municipal, que articularam uma frente em defesa da montadora. Tal frente inclui a igreja católica, a ACI e a OAB, encabeçada por um vereador do DEM. Uma ampla campanha contra os metalúrgicos e o sindicato foi impulsionada pela frente. Já a GM cumpriu a ameaça e transferiu os empregos para a planta de São Caetano do Sul, cujo sindicato é ligado à Força Sindical. A direção da empresa anunciou, porém, que faria uma nova proposta para a cidade. E assim o fez.

Novos ataques
A nova proposta da multinacional foi apresentada no último dia 5, na Câmara de Vereadores da cidade. O próprio vice-presidente da GM no Brasil, José Carlos Pinheiro Neto, apresentou o projeto. No mesmo dia, a montadora paralisou a planta para apresentar a proposta para os trabalhadores. O sindicato só foi informado oficialmente no dia 9.

A nova proposta, na verdade, não difere da antiga. A GM quer abrir um novo turno no MVA (Montagem de Veículos Automotores) e contratar 600 novos empregados. Os novos funcionários teriam, porém, piso rebaixado e banco de horas. Foi anunciado ainda U$ 500 milhões de investimentos. “Eles anunciaram esse investimento, mas na verdade ele se refere a todo o investimento que seria realizado no setor de engenharia da montadora, nacionalmente”, explica Vivaldo Moreira, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região.

Caso a proposta não seja aceita pelos metalúrgicos, a GM ameaça fechar a fábrica na cidade e construir uma nova planta. O prazo dado pela montadora para a resposta dos metalúrgicos foi até o próximo dia 19. A campanha contra os trabalhadores, que polarizou a cidade no início do ano, volta com tudo. Jornais, TV´s e rádio saem em defesa da empresa. Contam ainda com o auxílio da CUT.

Do lado dos patrões
Ao lado da empresa, a Oposição dos Metalúrgicos, ligada à CUT, vem realizando a campanha em defesa da retirada de direitos, mas no interior da fábrica. Além de panfletagens em defesa da proposta da montadora, no inicio de junho eles realizaram uma pesquisa entre os metalúrgicos. Tal pesquisa, na verdade, foi já uma campanha contra o sindicato disfarçado em forma de pergunta.

Uma das questões era a seguinte: “A direção do sindicato afirma que não atenderá a proposta da GM e que sequer consultará os trabalhadores. Você concorda com isso?”. Nenhum trabalhador, evidentemente, concordaria com isso. O sindicato, porém, desde o início, colocou as propostas da GM em votação para a base dos operários. Também nunca se recusou a dialogar com a montadora, apesar das constantes ameaças da multinacional.

A CUT divulgou a falsa pesquisa afirmando que ela “revelava o descontentamento dos trabalhadores da GM-SJC com a direção do sindicato”. A central chapa-branca se coloca, desta forma, a serviço da multinacional, fazendo coro com a GM ao taxar o sindicato de intransigente.

Lucros e subsídios
Apesar de exigir a retirada de direitos, a montadora norte-americana está tendo lucros recordes no país. Só neste 1º trimestre a GM lucrou U$ 517 milhões. Além dos lucros e do aumento das vendas e da produção que a montadora goza no país, a multinacional vem se beneficiando com uma série de subsídios e isenções do governo. O governo Lula anunciou recentemente um pacote de subsídios que privilegia em primeiro lugar a indústria automobílistica. Em São José, a prefeitura tucana de Eduardo Cury prometeu também um conjunto de isenções à montadora.

Em defesa dos direitos e dos empregos
Os metalúrgicos, porém, já derrotaram a GM uma vez e não pretendem aceitar esse ataque agora. O sindicato, junto com a Conlutas, promove uma campanha internacional em defesa dos direitos e, em São José dos Campos, busca uma audiência com o governo estadual e federal. “Vamos organizar ainda um ato nacional em defesa dos direitos e dos empregos, possivelmente no próximo dia 17”, afirma Vivaldo.