Os efeitos da crise mundial na economia brasileira continuam aparecendo. A “bola da vez” é o setor automotivo, tido como um setor de ponta da economia brasileira, e que vinha batendo recordes de vendas nos últimos anos, com aproveitamento total de sua capacidade de produção.

Esse setor já dá sinais de crise, com queda na produção de 13,8% em relação a setembro. Como é controlado por multinacionais, o setor reflete os impactos da crise aqui e em seus países de origem, inclusive os Estados Unidos. A General Motors, norte-americana, inaugurou esta semana mais um capítulo desta crise. A GM anunciou a abertura de um Plano de Demissões Voluntárias (PDV) em São José dos Campos (SP), a começar em 28 de novembro.

A GM de São José já havia lançado mão do recurso das férias coletivas, entre o dia 20 de outubro e 2 de novembro. Depois, anunciou nova rodada, a ser cumprido entre novembro e dezembro, e que devem atingir em torno de 3 mil metalúrgicos. Em setembro deste ano, também já havia recorrido a um PDV.

“É curioso que essas medidas para reduzir pessoal ocorram menos de quatro meses após o fim da campanha feita pela empresa na cidade para tentar reduzir direitos e salários em troca da criação de 600 vagas, e que, na imprensa, a GM continue dizendo que vai manter seus investimentos”, disse Vivaldo Moreira Araújo, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos. “Exigimos a estabilidade no emprego e, para isso, vamos intensificar nossa mobilização para garantir os empregos e direitos dos metalúrgicos”, concluiu.

Efeito férias coletivas se espalha
A Ford, gigante do setor automotivo, anunciou férias coletivas e redução da produção. As unidades atingidas serão as de Camaçari (BA), São Bernardo do Campo (SP) e Taubaté (SP).

Em Camaçari, as férias, que deveriam iniciar no dia 24 de dezembro, vão começar no dia 10. Já as outras duas fábricas terão recesso a partir de 15 de dezembro e não às vésperas do Natal, como normalmente acontece.

Em São Bernardo, onde a Ford produz caminhões, foi suspensa a implementação do segundo turno, que estava prevista para 2009. A jornada aos sábados também está paralisada até o final do ano.

A fábrica de São Bernardo do Campo (SP) da Scania, uma das maiores de caminhões do país, também anunciou férias coletivas para os seus 2.100 funcionários. A produção vai ser interrompida de 15 de dezembro a 18 de janeiro. Segundo a empresa, a intenção é se adaptar a uma redução da procura no mercado global.

Emprego por um fio
O recurso das férias coletivas para reduzir a produção tem se alastrado na indústria. Recentemente, outras empresas seguiram as montadoras e anunciaram a mesma medida, como a Vale e empresas da Zona Franca de Manaus, como Yamaha. Na Zona Franca, as contratações caíram. O desemprego é 12% maior do que no mesmo período de 2007.

Se este quadro continuar, o que vai ocorrer é o caos na classe trabalhadora, o aumento da miséria, demissões em massa e ataques aos direitos e às condições de trabalho. Com o aprofundamento da crise, é urgente que seja garantida a estabilidade no emprego. Os trabalhadores precisam se organizar para resistir e lutar, exigindo do governo que crie medidas que impeçam que as empresas continuem jogando a conta da crise sobre quem trabalha.