Enquanto o governo prepara a maior campanha desde o Plano Real em defesa da reforma previdenciária, na grande imprensa o festival em defesa do fim da Previdência pública e pela reforma trabalhista já está adiantado. Na vanguarda, como não poderia deixar de ser, está a poderosa Rede Globo.
No dia 8 de abril, o programa Fantástico exibiu uma reportagem especial destinada a atacar os supostos privilégios dos aposentados no Brasil. Você saberia dizer em qual país é mais fácil se aposentar?, perguntava inicialmente o narrador. A matéria, tecnicamente impecável, tenta mostrar como, no Brasil, é fácil se aposentar. Para tanto, a emissora se baseia num estudo do Ipea anunciado em primeira mão.
O documento compara o sistema previdenciário brasileiro com o de países como Alemanha, Bélgica, França e Japão. Como nesses países é exigida uma combinação de idade mínima e tempo de serviço, os brasileiros seriam mais privilegiados que os trabalhadores do primeiro mundo. Um dos exemplos de privilégio mostrado pela reportagem é o de Jurema, aposentada de 48 anos que recebe R$ 350 por mês.
A reportagem só não diz que, nos países citados, a média de idade para aposentadoria por tempo de contribuição é menor que a do Brasil, ou seja, na Bélgica e na França as pessoas se aposentam mais cedo. Enquanto no Brasil o trabalhador se aposenta com 60,8 anos, em média, na Bélgica essa idade é de 58,1 anos e na França de 58,7, com uma expectativa de vida bem superior à brasileira. No Brasil, a expectativa de vida é de 71 anos. Já na França e na Bélgica, ela supera os 78.
O pesquisador Paulo Tafner afirma, na reportagem, que o atual sistema é ruim para os mais pobres, que demoram a contribuir para a Previdência por causa da informalidade, e bom para a classe média, os mais ricos. Que o diga Jurema, com seus R$ 350 mensais.
A matéria de oito minutos e meio, transmitida em horário nobre, termina com mais uma mentira ao afirmar que o Ipea propõe a adoção de critérios mais rígidos para a concessão de benefícios, sem que isso comprometa os mais pobres, a imensa maioria dos pensionistas e aposentados do Brasil.
A reforma proposta pelo Ipea com a desvinculação do piso da aposentadoria do salário mínimo, o fim da aposentadoria rural e o aumento do tempo de contribuição prejudicará justamente os trabalhadores mais pobres. Poucas vezes se viu uma ação tão coordenada entre um órgão público e uma rede privada de TV numa campanha.
Ligada aos grandes bancos e ao sistema financeiro internacional, a Globo está de olho no mercado bilionário da previdência complementar. Com a reforma, os principais beneficiários da retirada de direitos seriam os grandes fundos privados de pensão. Desta forma, a Rede Globo continua coerente com sua vergonhosa trajetória ao lado da burguesia e do grande capital, representados agora pelo governo Lula.
Combater as mentiras do governo e da Globo
Para levar às ruas uma forte campanha contra a reforma da Previdência, é necessário desmascarar perante a população tanto as mentiras do governo e seu Fórum Nacional da Previdência Social, quanto as reportagens da Globo.
Como explicou o programa de TV do PSTU, a Previdência arrecadou em 2006 R$ 312 bilhões e gastou R$ 254 bilhões. A verdade é que o sistema previdenciário teve um superávit de R$ 58 bilhões. O real déficit é o rombo causado pela transferência de recursos para o pagamento dos juros da dívida pública aos grandes banqueiros e especuladores internacionais.
Ao contrário do que se diz, o sistema da Seguridade Social tem superávit. A manobra para apontar seu suposto déficit consiste em contabilizar a Previdência independente do restante da Seguridade. No entanto, considerando todo o sistema, que inclui as receitas de Cofins, CSLL e CPMF, o superávit é muito maior que o déficit isolado da Previdência. Segundo a pesquisadora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Gentil, a Seguridade teve em 2006 um superávit de R$ 72,2 bilhões.
Todos às ruas no dia 23 de maio
Parte fundamental da luta contra as reformas, em particular contra a reforma da Previdência, ocorrerá no dia 23 de maio. É necessário preparar e impulsionar um grande dia nacional de mobilização contra os ataques do governo.
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