No dia 30 de setembro, cerca de duas mil pessoas protestaram contra o desemprego em Sapiranga (RS). No fim do protesto, às margens de uma rodovia, policiais militares cercaram e agrediram o sapateiro Jair Antônio da Costa, de 31 anos. Eles o haviam perseguido por toda a passeata e o espancaram até que caísse inconsciente. Jair morreu asfixiado.

Cinco anos antes, policiais de Brasília assassinaram outro sindicalista, Gildo da Silva Rocha, militante do PSTU. Gildo tinha 33 anos, era casado, tinha uma filha e participava de um piquete com outros servidores públicos de Brasília, em 6 de outubro de 2000. Policiais do ainda hoje governador Joaquim Roriz perseguiram o grupo e acertaram Gildo pelas costas, que caiu sem vida.

A morte de Gildo foi lembrada neste dia 6, durante o ato da Conlutas em Brasília. Em frente ao Ministério da Justiça, cerca de 100 pessoas fizeram um minuto de silêncio e cantaram “Roriz, governador, assassino de trabalhador”. No protesto estavam a esposa de Gildo, sua filha, amigos e companheiros de luta, do partido e da categoria. Camisas com sua foto exigiam punição dos culpados, que seguem impunes devido à paralisia da Justiça e ao descaso dos governantes. Na faixa do PSTU de Brasília, a mensagem “Seu assassinato não será esquecido”.

Gildo, Jair. Os nomes e as cidades podem ser diferentes, mas escondem uma mesma história. Suas mortes não foram ações isoladas, cometidas por policiais despreparados. Revelam a orientação e a real função das forças policiais e militares, que, para garantir o patrimônio e os lucros dos patrões, reprimem os movimentos sociais violentamente, até a morte, se preciso.

Depois de matar, inventam calúnias e buscam justificativas. A mais comum é a da resistência à prisão, quase uma rotina para justificar o assassinato de jovens negros nas periferias das grandes cidades. Quando esta soa muito absurda, criam-se novas. Contra Jair, os cinco policiais que o cercaram disseram que ele ‘tentou roubar a chave de uma moto. Seus amigos, que estavam ao seu lado no momento da agressão, negam. Também caluniaram Gildo. Disseram que ele estava drogado e com uma ‘arma branca’. A autópsia não encontrou sinais de uso de drogas e a arma nunca foi apresentada.

A morte dos dois é também um alerta para os que acreditam que vivemos em uma democracia, que não é preciso preocupar-se com esse tipo de coisa. Mas essa é a democracia do ricos, uma ditadura dos patrões. Nela, estudantes que protestam no Congresso Nacional são levados para uma ‘salinha’ e ameaçados de tortura e trabalhadores rodoviários do Amapá recebem avisos de que suas vidas valem menos do que a de um cachorrro’. E é essa mesma democracia dos ricos que agora vende uma farsa, prometendo que o Sim no referendo de domingo irá diminuir a violência. Só que sua polícia, inimiga de quem luta, não será desarmada.
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