Foto: Romerito Pontes

A líder indígena guarani-kaiowá Valdelice Veron, esteve num ato em setembro de 2015 e, representando a CSP-Conlutas, denunciou que mais de 300 lideranças indígenas do Mato Grosso do Sul já foram mortas. Entre elas, estão os parentes de Valdelice e seu pai, o cacique Marcos Veron.
 
Valdelice é uma grande figura pública na luta pelas demarcações de terra no MS. Por isso, é frequentemente ameaçada de morte por capangas do agronegócio, ruralistas e fazendeiros que cercam as terras indígenas já demarcadas pela Funai e outros territórios que ainda estão em processo de demarcação, como a Terra Indígena Dourados-Amambai Pegua I. Esta terra foi atacada por fazendeiros na última terça-feira, 14 de junho. Além de crianças e mulheres feridas gravemente, o líder indígena Cloudione Souza, 26 anos, foi morto brutalmente durante o confronto.
 
O território indígena Dourados-Amambai Pegua I, fica dentro de una fazenda que, de caordo com a Funai, faz parte de território tradicional indígena. Cerca de 300 indígenas teriam retomado 5.000 hectares de terra, o que gerou morte e feridos.
 
Breve histórico de lutas
A desapropriação dos guarani-kaiowá do Mato Grosso do Sul começou em 1880 com a chegada da Cia. Matte Larangeira logo após a guerra do Paraguai. Segundo Antonio J. Brand, a exploração ervadeira durou até 1940. Depois, a agropecuária se implantou até 1970, ano marcado pelo início das organizações de várias etnias indígenas do Brasil. A partir daí, estendeu-se o plantio de soja e, em 1980, começaram as primeiras produções de açúcar e álcool.
 
Estávamos vivendo o fim da ditadura militar no Brasil e o início de uma nova política econômica, o neoliberalismo, que adentrou ferozmente a década de 1990 no Brasil. Expandir, se apropriar e destruir qualquer forma heterogenia de sociedade era o slogan mundial, a lei é a do mercado em plena expansão capitalista.
 
O Serviço de Proteção ao Índio (SPI) demarcou, no início do século 20, oito territórios indígenas e entregou outras tantas terras que também eram e continuam sendo Terra Indígena, para colonos, transformando as áreas demarcadas em pequenos feudos de isolamento da população guarani-kaiowá. Esse povo sofreu e sofre até hoje o peso da exploração e da submissão. Os índios cercados serviam como mão de obra barata.
 
Além disso, sofrem a destruição de territórios tradicionais, causando dispersão e destruição social de várias aldeias. Com isso, até hoje, muitas aldeias indígenas sofrem a tutela de programas de segurança alimentar do governo e de colaborações e doações, porque não há condições para plantar, pois as áreas, muitas vezes, são pequenas, e outras sofrem com as plantações de eucalipto, pastos para criação de gados e soja, impedindo a nutrição do solo e tornando impossível plantar.
 
O que mudou nas últimas duas décadas?
Infelizmente nada mudou. O legado do PT nestes 13 anos de governo só fez aumentar o número deste genocídio. 
 
Segundo dados da Unicef, em 2013, o aumento de mortes comparado ao governo anterior (FHC) subiu para 269%, ou seja, a negligência contra os povos originários deste país vem crescendo de governo a governo, o que não é nenhuma novidade para as populações indígenas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população indígena do Mato Grosso do Sul é de 61.737 pessoas. Só uma aldeia, em Dourados, concentra 18% dos índios no Estado, com uma população de 11.146 pessoas (dados de 2012).
 
O agronegócio de Kátia Abreu, a maior inimiga da população indígena, se aliou ao governo petista, que faz acordos e conchavos políticos com a bancada BBB (boi, bala e bíblia). Kátia Abreu assumiu o Ministério da Agricultara ainda no governo petista, o que é considerado um grande retrocesso para os lutadores de diversas etnias indígenas e quilombolas. A ministra era presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) que, após sua defesa ao governo Dilma, foi afastada do cargo. 
Atualmente, quem ocupa o posto de ministro da agricultura é o Blairo Magg (PMDB), partido do atual presidente Michel Temer, que segue os planos de austeridade contra as populações tradicionais e, com certeza, não fará nenhum avanço. Os ataques continuaram e tendem a aumentar devido a crise econômica na América Latina. Desde sua chegada, em 2012, a “marolinha”, como Lula dizia em 2008 quando a população dos Estados Unidos sofreu fortemente com a crise, não desviou seu percurso. Hoje, a crise e os ataques se dão em nível mundial. Basta olharmos para os grandes ascenso das lutas dos trabalhadores seja na América Latina, seja como os peruanos contra as mineradoras ilegais, em 2011, e as lutas na Europa contra os ataques previdenciários na frança, que levou, há duas semanas, 300 mil trabalhadores e estudantes para as ruas.
 
O chamado
Chamamos os bravos e bravas mulheres e homens que resistem para manter seu modo de vida, resistem para retomar aquilo que é seu por direito, o direito à terra, para lutar junto conosco ombro a ombro. Ao lado da população indígena e das populações menos favorecidas, de homens e mulheres, negros e negras, moradores e trabalhadores das periferias, LGBTs, imigrantes etc., que sofrem e sofrerão ainda mais com as mazelas do neoliberalismo. Devemos unir forças e fazer um único coro contra os ataques do governo omisso quanto ao genocídio das populações indígenas e quilombolas.
 
Não há capitalismo humanista. Temos de unificar as lutas para que possamos lutar numa corrente contra o capitalismo destrutivo e termos a consciência de que, nesse processo, pequenas reformas podem até garantir nosso prosseguir, mas não extinguem a opressão. A revolução é o único meio para garantir, de fato, direitos plenos a todo trabalhador. Não podemos nos enganar com falsos discursos. Temos de nos unir para combater toda violência que recai sobre nós.
 
Cloudione Souza PRESENTE!