Redação

Após viver, em março, o mês mais mortal da pandemia, com 66 mil óbitos ligados à Covid-19, o Brasil pode vir a registrar 100 mil mortes somente em abril, segundo prevê uma análise do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. A projeção também indica que, até 1º de julho, o total de mortos no país pode se aproximar de 600 mil.

O descontrole total da pandemia faz com que o Brasil registre um terço de todas as mortes diárias causadas pela Covid-19 no mundo, embora o país tenha apenas 2,7% da população mundial.  A situação tende a se agravar no inverno, período no qual as doenças respiratórias proliferam com mais facilidade.

Os hospitais estão em colapso. Há milhares de pessoas nas filas, esperando por um leito de UTI, e o estoque de insumos para tratamento (oxigênio, analgésicos etc.) está a ponto de se esgotar. O sistema funerário também começa a dar sinais de colapso, com a sobrecarga de enterros diários (São Paulo, por exemplo, já registra mais de 400 enterros por dia) e a falta de caixões. Um colapso no sistema funerário pode produzir novas patologias, sobrecarregando os cemitérios e contaminando solos, alimentos e lençóis freáticos.

As altas taxas de infecção podem dar ainda mais força ao surgimento de variantes. Ou até de algo pior, como explica o médico e neurocientista Miguel Nicolelis: “Estamos dando a chance ao coronavírus de promover bilhões de mutações que vão levar ao aparecimento de novas variantes e até de um novo vírus, de acordo com combinações genéticas, o surgimento do SARS-CoV-3. Se começa a ter muitas mutações, você pode ter um rearranjo genético que pode gerar uma nova forma do vírus, que pode ser ainda mais infecciosa e letal”.

Tudo isso terá consequências imprevisíveis no futuro próximo. Vai impedir que nos livremos da pandemia e adiar por anos o retorno da normalidade ao país.

Foto: Pedro Guerreiro / Ag. Pará

Genocídio orquestrado pelo governo

Toda essa catástrofe é culpa do governo genocida de Bolsonaro. “Saíam às ruas, voltem a trabalhar e se contaminem”, essa é precisamente a campanha explícita desse governo assassino que nos levou à maior tragédia da história. Um governo criminoso, que se opõe a medidas restritivas, como o lockdown; que se nega a garantir vacinas para a população e que paga um mísero auxílio-emergencial, obrigando as pessoas a escolherem entre a fome ou a contaminação pela Covid (leia páginas 8 e 9).

Já os governadores fazem um lockdown fake, absolutamente insuficiente para deter a disseminação do vírus. Insistem até mesmo na retomada das aulas presenciais. Uma completa insanidade, que serve para Bolsonaro dizer que o lockdown não resolve nada.

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Editorial: A necessidade de uma greve geral sanitária

População apoia medidas restritivas

Enquanto 3.000 pessoas morrem de Covid-19 por dia, cresce o apoio da população às medidas de isolamento social, segundo pesquisa do Instituto Datafolha. O levantamento mostra que 71% apoiam medidas de diminuição do horário de funcionamento do comércio e serviços em geral e que 59% acham que, neste momento, é mais importante deixar as pessoas em casa. Tal sentimento é baseado na própria experiência da população. No Brasil, praticamente todas as famílias registraram alguma vítima fatal em função do vírus e da política genocida de Bolsonaro. Quase todo mundo já perdeu algum familiar, amigo ou ente querido.

Acerto de contas

Neste momento, vivemos em permanente condolências, que semeiam a revolta e o ódio contra o genocídio orquestrado por Bolsonaro. É impossível prever, ou até mesmo imaginar, toda a dimensão da tragédia que abraça o Brasil – particularmente, suas nefastas consequências sobre a população pobre e trabalhadora. Mas sabemos de uma coisa: em algum momento haverá um acerto de contas entre o povo com o genocida Bolsonaro. E não vai dar pra esperar 2022.

Vítimas do genocídio

Vírus é mais letal entre trabalhadores pobres e negros

Se é verdade que o vírus tem sua própria história natural e evolutiva, também é verdade que o descontrole total da pandemia imposto por Bolsonaro, somado às desigualdades sociais do país, tornou o vírus muito mais letal para a população pobre e negra.

Dados compilados pelo Pindograma, site de jornalismo de dados, e publicados pela revista “Piauí” mostram que pobres, negros e pessoas de baixa escolaridade, na cidade de São Paulo, correm maior risco de morrer pela Covid. Considerando os critérios de “pardos” e “pretos”, usados pelo IBGE (todos contabilizados, por nós, como “negros”), a possibilidade de uma pessoa parda morrer da doença é 42% maior que a de uma pessoa branca. Para uma pessoa preta, o risco é 77% maior que o de uma pessoa branca.

O estudo também aponta que mais pacientes morrem na UTIs no Brasil do que na Itália, 59% contra 48%. Mas, o risco de morrer de Covid em uma UTI pública no Brasil é maior do que em uma privada. A mortalidade de pacientes com Covid internados em UTIs privadas foi de 30%; enquanto, em UTIs públicas foi de 53%.

É na região Norte que a mortalidade de pacientes com Covid internados em UTIs é maior do que a média nacional. 79% das pessoas internadas em UTIs no Norte, entre fevereiro e agosto de 2020, morreram. No Nordeste, a mortalidade foi de 66%; no Sul, 53%; no Centro-Oeste, 51%. Já no Sudeste, que registrou a menor taxa, o risco de morte em UTI foi de 49%.

Um levantamento realizado pelo jornal “El País” (de 5 de abril) mostrou que houve um aumento do número de mortes em trabalhadores brasileiros que não puderam ficar em casa. Frentistas de postos de gasolina, por exemplo, tiveram um salto de 68%, na comparação das mortes entre janeiro e fevereiro de 2020 (pré-pandemia) e dois dos piores meses da crise sanitária, no início de 2021.

No mesmo período, operadores de caixa de supermercado perderam 67% mais colegas. Motoristas de ônibus tiveram 62% mais mortes. Entre os vigilantes, que incluem os profissionais terceirizados que monitoram a temperatura de quem entra em shoppings centers, houve 59% de mortes a mais.

Como se pode ver, o genocídio orquestrado por Bolsonaro é o extermínio consciente de trabalhadores pobres e negros.

As mentiras do governo sobre vacinas

O governo mente o tempo todo sobre as vacinas. A verdade é que a vacinação ocorre a passos de tartaruga, simplesmente porque Bolsonaro não quis comprar os imunizantes no ano passado. Por isso, apenas 6 milhões de pessoas, 2,64% da população do país, estão completamente imunizadas – ou seja, tomaram as duas doses das vacinas. Enquanto isso, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do SUS, tem capacidade para vacinar, pelo menos, dois milhões de pessoas por dia.

No dia 31, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou a baixar a previsão de entrega de vacinas em abril, de cerca de 40 milhões para 25 milhões de doses. Mesmo assim, no mesmo dia, o governo mentiu e disse que pretendia vacinar 80 milhões de pessoas até metade do ano. Para isso, contudo, precisaríamos de pelo menos 160 milhões de doses e vacinar um milhão de pessoas por dia.

No entanto, não há essa quantidade de imunizante no país. E não haverá, pelo menos até agosto ou setembro. Serão nesses meses que, em tese, tanto o Instituto Butantan, em São Paulo, quanto o Biomanguinhos da Fiocruz, no Rio de Janeiro, poderão fabricar o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) – matéria-prima necessária para a produção nacional de vacinas. Mas nada disso é certo, pois já há dificuldades de ambos institutos no recebimento do IFA proveniente da China.

A falta de vacinas, combinada com a ausência total de garantias para se manter o lockdown e o isolamento fake promovido pelos governadores, cria condições perfeitas para o surgimento e seleção de novas variantes do vírus e, com o tempo, o aumento da resistência aos imunizantes disponíveis.

URGENTE

Quebrar patentes pra deter o genocídio

Sem mais vacinas disponíveis, a única forma de combater a pandemia é com restrição da mobilidade, oferecendo total garantia para isso, como um auxílio emergencial digno.

Mas também é urgente quebrar as patentes das vacinas que estão nas mãos das grandes indústrias farmacêuticas e produzi-las no Brasil. São as grandes farmacêuticas que detém a exclusividade da produção e comercialização dos imunizantes, embora a maioria das vacinas tenha sido desenvolvida com muito dinheiro público.

No capitalismo é assim: as regras do mercado são ditadas por imensos monopólios, que ganham bilhões, enquanto a maioria da humanidade padece com a pandemia. Seis dos laboratórios que lideram o mercado das vacinas obtiveram uma valorização de mais de US$ 85 bilhões, em 2020.

Aproximadamente 60% das vacinas que serão produzidas em 2021 já foram monopolizadas por países que representam 16% da população mundial. Outros 40% das doses que serão produzidas estão sendo disputados por 84% dos seres humanos.

A gravidade da crise fez com que inclusive Estados burgueses periféricos, como a Índia e a África do Sul, solicitassem, em outubro passado, a liberação das patentes das vacinas contra a Covid-19 perante a Organização Mundial do Comércio (OMC). Bolsonaro foi contra e orientou o Brasil a votar a favor dos Estados Unidos.

Acabar com as patentes é romper com a principal barreira que impede que as vacinas possam ser produzidas em países com capacidade industrial adequada, mas ociosa, como Brasil, México, Argentina, Índia, Egito, Coréia do Sul, dentre outros. Para se ter uma ideia, só o Serum Institute, da Índia, é capaz de produzir 1,5 bilhão de doses ao ano.

O Brasil tem 30 fábricas produção de vacinas para gado e somente duas para vacinas humanas. É possível adaptar e converter essas fábricas para a produção de vacinas contra o coronavírus. O próprio setor admite isso e até propôs essa saída.

Programa

Vacina para todos já! Fora Bolsonaro e Mourão!

Bolsonaro é o maior militante a favor do vírus. Seu governo de morte é um obstáculo para a vacinação. Só a luta e a mobilização botarão abaixo esse governo miliciano. Tirá-lo de lá é condição fundamental para enfrentar a pandemia e salvar vidas.

Lockdown de 30 dias e testagem em massa da população!

Para garantir uma quarentena para valer, é preciso auxílio emergencial de R$ 600, no mínimo, até o fim da pandemia, para todos trabalhadores e com estabilidade no emprego, licença remunerada para os trabalhadores da indústria e do comércio etc.. Para os pequenos comerciantes ameaçados de falência, também é preciso um auxílio emergencial e suspensão de impostos e taxas.

Greve sanitária, em defesa da vida!

Os trabalhadores não são bucha de canhão. Não aceitam cavar suas próprias sepulturas, enquanto o país mergulha no colapso. É necessário discutir, preparar e organizar uma greve sanitária nas fábricas e nas grandes lojas de varejo, possibilitando aos trabalhadores ficarem em casa e receberem seus salários, sem redução. É preciso, também, unificar essas paralisações com as lutas pelo “Fora Bolsonaro e Mourão!”.

Suspender a dívida pública e taxar os bilionários!

Metade do orçamento do governo vai para pagar os juros da dívida, remunerando meia dúzia de banqueiros. É preciso suspender seu pagamento e taxar os ricos que ficaram ainda mais ricos na pandemia.