Crianças palestinas mortas durante ataques de Israel a Gaza

Após uma semana de intensos bombardeios sob a população civil de Gaza e a ameaça de uma invasão por terra, a exemplo da operação “Chumbo Fundido” de 2009, Israel foi obrigado a aceitar uma trégua com o Hamas no final desse dia 21 de novembro, quarta-feira.

Com a mediação do governo egípcio, ficou acertado o cessar fogo frente a algumas condições. O Hamas cessa o lançamento de foguetes e impede que outros grupos lancem, e Israel “afrouxa” o bloqueio que asfixia a população da Faixa de Gaza. Foi uma vitória, ainda que parcial, dos palestinos, que saíram às ruas para comemorar.

Oito dias de bombardeios israelenses deixaram um rastro de destruição em uma já combalida Gaza, e mais 166 mortos palestinos. No dia 22, um dia após a trégua, soldados israelenses executaram com tiros na cabeça mais um jovem palestino de apenas 23 anos que estava próximo à fronteira, mostrando que o cessar fogo não é tão sólido diante da fúria assassina do Estado de Israel.

Israel: terrorismo de Estado
Os ataques à Gaza se intensificaram com o assassinato de Ahmed Jabbari, líder das Brigadas Ezedin al Qasam, braço militar do Hamas. Jabbari, egresso do Fatah, foi o responsável pelo processo de negociação e troca do soldado isralense Gilat Shalit (preso em 2006 pelo Hamas) por mil presos políticos palestinos em 2011. Ao contrário da propaganda israelense que o caracteriza como um “radical terrorista”, especula-se que no último período o dirigente estivesse envolvido em um processo de negociação de paz com Israel.

Ou seja, a ação militar desencadeada por Israel contra Gaza, batizada de “Pilar de Defesa”, nada tem a ver com a segurança da população israelense ou os mísseis lançados pelo Hamas e outros grupos como resposta ao assassinato de Jabari. Tem sim a ver com as iminentes eleições legislativas no país, marcadas para janeiro de 2013, e a união dos partidos da ultradireita israelense, o Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ultrancionalista Yisrael Beitenu do Ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman. Uma guerra agora unificaria o país, reforçando o sentimento nacionalista e amarrando o apoio da população para 2013.

“A união entre o Likud e o Yisrael Beitenu permitiria proteger israel diante das ameaças de segurança e o poder de fazer as mudanças econômicas do país”, declarou à imprensa israelense Netanyahu. Os ataques à Faixa de Gaza, assim, serviram para distrair a atenção diante da crescente insatisfação com a inflação, a crise econômica e os cortes no orçamento impostos pelo governo do estado judeu. Demarca, principalmente, uma guinada ainda mais à direita, expressão dessa coalizão ultrancionalista e anti-palestina.

Uma outra situação
O recente bombardeio à Gaza não deixa ainda de ser uma resposta ao isolamento de Israel diante das revoluções e revoltas trazidas pela “Primavera Árabe”. O enclave militar do imperialismo no Oriente Médio sente necessidade de uma demonstração maior de força num momento em que já não conta com tradicionais aliados na região, e que outros tantos estão ameaçados.

O ex-ditador do Egito, Hosni Mubarak, sempre foi um auxílio a Israel no bloqueio das fronteiras de Gaza (em Rafah). Já o novo governo, encabeçado por Mursi e a Irmandade Muçulmana, embora se mantenha subserviente aos EUA (de quem depende financeiramente), já não pode atuar de forma abertamente favorável a Israel. A visita do primeiro-ministro egípcio Hisham Qandil à Gaza em pleno bombardeio, nesse sentido, foi vista como algo histórico.

Já o ditador sírio Bashar Al Assad, que embora no discurso apoie a causa palestina, sempre foi visto por Israel e os EUA como um garantidor da “estabilidade” no Oriente Médio, principalmente nas colinas de Golã. Outro aliado que faz fronteira com Israel, a Jordânia, vive uma onda de protestos inspirada na Primavera Árabe que ameaça a ditadura do rei Abdullah.

Quem saiu perdendo?
Apesar do cessar fogo, Israel tem seguido com provocações e ataques sistemáticos contra a população palestina. Além do assassinato do jovem palestino na fronteira com Gaza, num ataque que deixou vários feridos, o Exército sionista realizou dezenas de prisões na Cisjordânia. A região contou com fortes mobilizações contra os ataques de Israel, que se enfrentaram com as forças de segurança da Autoridade Palestina. Mas, ainda que a situação seja extremamente instável, pode-se dizer que Israel saiu enfraquecido. Percebeu que a região hoje, conflagrada, já não é a mesma que em 2009, quando pôde invadir Gaza e impor um saldo de 1400 mortos sem maiores problemas.

A Autoridade Nacional Palestina de Mahmoud Abbas, que controla a Cisjordânia, também sai abalada. Os ventos da Primavera Árabe se chocam com a política pró-Israel de Abbas e o seu governo de colaboração com os sionistas. Recentemente, quando Israel se preparava para atacar Gaza, o presidente da ANP deu uma declaração a uma TV israelense que foi tomada como uma renúncia ao direito de retorno. “Quero ver Safed. É meu direito vê-la, mas não morar lá”, afirmou referindo-se à cidade em que passou a infância e que hoje integra o território israelense. Além disso, a população dos territórios ocupados percebe que, uma década após os Acordos de Oslo, a vida não melhorou, ao contrário.

Por outro lado, o Hamas se vê fortalecido, militar e politicamente. Apesar de estar muito longe de fazer frente às forças armadas israelenses, o Hamas e outros grupos como a Jihad Islâmica já não contam apenas com foguetes caseiros que atingiam apenas o sul de Israel. Agora, apesar do ainda muito modesto poder de destruição, Jerusalém e Tel Aviv estão no alvo. O grupo é hoje o principal interlocutor dos palestinos, diante de um deslegitimado Fatah, direção da ANP.

Vai ficando cada vez mais claro, sobretudo, que a resistência do povo palestino contra o cerco e terror imposto por Israel e as revoluções árabes e do Norte da África, fazem parte de uma mesma luta. E ambas não tem como sair vitoriosas sem enfrentar esse enclave imperialista incrustado no Oriente Médio.

LEIA MAIS
LIT-QI: Não à matança sionista em Gaza!