Ruas do Rio ficaram novamente laranjas, tomadas por atos dos trabalhadores da limpeza urbana

Após diversas tentativas de serem ouvidos durante o período de campanha salarial, os garis do Rio entraram em greve. Iniciada dia 13 de março, acabou na última sexta-feira (20), após quatro horas de reunião no Ministério do Trabalho. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) já tinha considerado a greve ilegal, numa tentativa de desmobilizar os trabalhadores, mas sem sucesso: os garis garantiram 8% de reajuste salarial, pagamento de horas extras aos responsáveis pela coleta e R$ 800 de auxílio funeral. A proposta inicial da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) era de apenas 3% de reajuste.

Nesta segunda, houve audiência no TRT onde os magistrados foram favoráveis ao abono dos dias parados. Uma juíza chegou a dizer que não havia razão para não se conceder o abono, já que a Comlurb não perderia nada. A companhia, porém, se manteve intransigente e deixou clara sua intenção de castigar os grevistas. Uma nova audiência foi marcada e os trabalhadores prometeram se manter mobilizados pela questão.

Repressão aos trabalhadores
Se montar uma barraquinha no Comperj, consigo 18 mil garis”, provocou o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), em entrevista à imprensa. A afirmação faz alusão às milhares de demissões feitas no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A ideia de desmoralizar os garis, fazendo com que parecessem descartáveis, fez com que os demitidos do Comperj mantivessem a solidariedade à luta dos funcionários da limpeza.

Paes chegou a colocar jovens (que os garis suspeitam serem menores de idade) e idosos para realizar o trabalho de limpeza. Sem nenhum Equipamento de Proteção Individual (EPI), sequer usando luvas, e sem nenhum treinamento, homens e mulheres foram mandados à limpeza das ruas sem atenção às normas de saúde.

Os garis em greve logo passaram a receber SMS e telefonemas com ameaças de demissão. As lideranças da greve receberam um Interdito Proibitório, que tentava mantê-los distantes 500 metros das gerências de limpeza, para impedir que chegassem aos trabalhadores. A violência foi tanta que, em nome desse Interdito Proibitório, guardas municipais atacaram Célio Gari, um dos líderes da greve, com um mata-leão, quando este tentava falar aos companheiros na gerência localizada no Flamengo.

Ainda assim, Paes e o presidente da Comlurb, Vinícius Roriz, não conseguiram derrotar a greve, e os trabalhadores saíram ainda mais confiantes de sua capacidade de lutar e vencer: foi o PMDB o forçado a se curvar e negociar.

Exemplo a ser seguido
2014 fizemos história! 2015 demos continuidade!”. A afirmação do gari Celio Viana traduz o protagonismo da categoria nos últimos anos. Em 2014, às vésperas do Carnaval carioca, a categoria, majoritariamente negra e completamente invisibilizada, tomou as ruas e se tornou símbolo de resistência, repercutindo na imprensa mundial. O governo teve de ceder: os garis conquistaram 37% de reajuste, além de aumento no ticket alimentação.

 “Pra quem não sabe, nossa luta nunca foi somente por salário. Ela é principalmente para quebrar uma invisibilidade de décadas. Hoje somos vistos e respeitados por todos. Estamos conseguindo entender que somos aqueles que previnem a cidade de ficar doente”, explicou Celio. Esse respeito foi visto na quantidade de apoio recebido de todo o país. Por isso, em 2015 a greve já começou forte, com participação de mais de 1500 trabalhadores na assembleia.

Como os garis do Rio, outros trabalhadores estão indo às ruas. Aumento no preço dos transportes, luz e alimentos; demissões; retirada de diretos; Medidas Provisórias como as MP’s 664 e 665; escândalos de corrupção e anúncios de privatização incitam a necessidade de organização pela base para enfrentar os governos, patrões, corruptos e corruptores.

Os garis mostraram o caminho. Agora, a tarefa é maior. É preciso unificar as lutas para barrar os ataques dos governos. Não podemos pagar pela crise feita pelos ricos. O primeiro passo é construir uma greve geral com garis, operários do Comperj, professores e todas as categorias em luta. Só a mobilização e a união dos trabalhadores podem mudar os rumos do país.