Gabriela (de rosa) no momento em que saía do presídio
Samuel Tosta

Estudante de Belas Artes da UERJ conta como foram os dias em Bangu 8 e a preocupação constante com a saúde da senhora de 69 anos, também presa no ato. “Não dormíamos para que ela pudesse descansar”, contaGabriela Costa foi uma das três mulheres presas em 18 de março, no protesto contra a vinda de Obama. Como os outros, também foi pega de surpresa pela PM. A polícia escolheu de forma aleatória quem seria preso, mas deu preferência a ativistas que, como Gabriela, carregavam faixas ou bandeiras.

“Fui presa porque estava com uma bandeira” , conta Gabriela. “Eu estava voltando para a Cinelândia reencontrar o restante dos companheiros, quando apareceu a PM e mandou largar as bandeiras e sentar no chão” , conta. Lá mesmo, eles tiveram as bolsas revistadas e foram encaminhados à delegacia. “Só depois ficamos sabendo que apareceu uma mochila com pedras, coquetel molotov” , conta.

O que seria mais um caso de arbitrariedade, no entanto, foi ganhando uma dimensão maior. Após passarem a madrugada toda na delegacia, os militantes souberam que iriam para presídios: “Foi um pânico, chorei bastante, entrei em choque; os meninos me abraçaram, me diziam que era importante ser forte nessa hora, mas todo mundo ficou muito abalado“.

Presas políticas
As três mulheres seguiram então para o presídio de Bangu 8, incluindo aí Maria de Lourdes, 69 anos, que simplesmente passava pela rua quando encontrou a manifestação e resolveu se juntar ao protesto.

Lá, dividiram uma cela de 14 metros quadrados, isoladas das outras presas. “Sabiam que não éramos presas comuns, as inspetoras sabiam que éramos presas políticas” , relata Costa. Questionada se as inspetoras chegaram a usar o termo “presa política”, Gabriela diz: “sim, era isso o que elas diziam” .

O fato de serem reconhecidas como presas políticas, no entanto, não as livrou de constrangimentos. Como o de serem revistadas nuas assim que chegaram, antes de receber o uniforme de detentas.

Já nas celas, elas receberam a orientação de não saírem para os banhos de sol. “Assim que chegamos fomos tratadas com hostilidade pelas outras presas, elas gritavam coisas como ‘terroristas desgraçadas” , relata Gabriela, ressaltando que o tratamento foi mudando assim que souberam o que realmente tinha acontecido.

Tanto que ajudaram a pedir ajuda quando a senhora Maria de Lourdes teve uma convulsão na cela. “Ela passou muito mal o dia todo, aí à noite ela ficou chamando pela filha e começou a ter uma convulsão“, relata. As duas ativistas começaram a gritar por socorro, no que foram ajudadas pelas detentas do corredor.

“Demorou muito até aparecer alguém, mas aí apareceu uma inspetora e a Maria de Lourdes pôde ir para o hospital” , relembra. No hospital a senhora foi medicada e logo voltou para a cela.

As companheiras de cela, porém, ficaram apreensivas, pois outras detentas lhe informaram que as presas que iam ao hospital costumavam apanhar. Felizmente, Maria de Lourdes não sofreu agressões. “Ela era o centro de nossa preocupação, não dormíamos para que ela pudesse descansar“, conta Gabriela.

Medo e apreensão
O tempo passava e a apreensão das ativistas presas só aumentava. “A gente ficou bastante assustada, angustiada”diz. Elas passaram todo o sábado e o domingo confinadas na cela. Tempo em que puderam testemunhar a barbárie do sistema prisional. Como ver mulheres grávidas sendo agredidas e convivendo em celas superlotadas.

Foi só na segunda-feira que o medo e a apreensão foram diminuindo. “O genro da dona Maria é advogado e ele foi lá levar o alvará de soltura dela. Ela até desmaiou quando soube que seria solta”. As outras presas perceberam então que também seriam soltas, o que só foi acontecer no início da noite.

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