Quadrilha asiática fraudava placares no Brasil para beneficiar especuladores e apostadores internacionais

Nesta quarta-feira (6), a Polícia Civil de São Paulo desmontou um esquema de fraudes no futebol profissional brasileiro. A operação revelou que resultados de jogos eram fraudados com a ajuda de uma quadrilha asiática para beneficiar apostadores internacionais.

Segundo as investigações, as fraudes interferiam em resultados de jogos da série A2, A3 e B do campeonato paulista e também em jogos da primeira divisão no norte e nordeste do país.

Como funcionava o esquema
Diferente do que acontece no Brasil, onde o único jogo possível é a loteria (monopolizada pelo Estado), no exterior são comum casas de apostas onde se pode apostar em praticamente qualquer coisa. Na Inglaterra, por exemplo, ingleses apostam se o filho da princesa será menina ou menino.

O que acontecia então era que no Brasil juízes, técnicos e jogadores eram subornados. Os placares eram combinados e repassados para a quadrilha que atuava na Indonésia, Malásia e China.

Com o resultado combinado, os criminosos apostavam grandes quantias nesses resultados nas casas de apostas na Europa e na Ásia. Essas casas costumam aceitar apostas em várias modalidades de esporte em todo o mundo.

A denúncia
Ironicamente, o Ministério Público chegou a esse esquema a partir de uma denúncia da própria Fifa, ela mesma palco de muitos escândalos. A entidade já suspeitava das fraudes e contratou uma empresa privada para realizar uma auditoria.

O resultado apontou os indícios de manipulação de muitos jogos. Parte deles no Brasil. A denúncia foi passada para MP no começo de 2016 e uma investigação foi aberta pela  Drade (Delegacia de Repressão e Análise e Delitos de Intolerância).

A partir de denúncias feitas por dirigentes de clubes, descobriu-se que os valores variavam entre R$ 60 e R$ 100 mil por clube e que o esquema era controlado por um carioca, ex-jogador profissional na Indonésia.

Essa investigação ficou conhecida como Operação Game Over e pelo menos sete pessoas já foram presas. Não está descartada a possibilidade de fraudes em jogos de outros estados e também em outros países.

Edilson Pereira de Carvalho, árbitro da Fifa envolvido no esquema de fraudes de placares.

Não perdoam nem o nosso futebol
Não é de hoje que a corrupção afeta o nosso futebol. Em 2005, por exemplo, veio a público o escândalo da Máfia do Apito. O escândalo envolvia a manipulação de resultados através da compra dos árbitros. O mais famoso deles, Edílson Pereira de Carvalho, na época, árbitro da Fifa e que hoje está banido do esporte.

Os resultados beneficiavam um grupo de bandidos que faziam apostas em sites. Ao todo, onze jogos foram anulados e remarcados.

Em 2011, um esquema parecido foi desmontado na Itália. O esquema fraudava resultados na série B e C daquele país. Dezesseis pessoas foram presas, entre elas, Giuseppe Signori, atacante da seleção italiana na Copa de 1994. Cinco anos antes, em 2006, outro esquema foi desmontado na Itália. Dessa vez o Juventus perdeu dois títulos nacionais e acabou rebaixado para a segunda divisão.

Enquanto houver lógica do lucro, haverá corrupção
Esse, na verdade, é um problema constante do futebol. Porque o que vale hoje, é a lógica do lucro, do espetáculo mercantil. E enquanto for assim, haverá corrupção.

Na verdade esse tal “futebol moderno” não passa de uma grande indústria. E muito lucrativa. Por isso os estádios novos, elitizados e com ingressos caros. Por isso o fim das gerais. Os passes milionários (usados para lavar dinheiro), as exportações de nossos jogadores, as apostas. Enquanto for assim, vai haver corrupção. E se a crise continuar, logo logo vão fraudar até jogo de várzea.

Infelizmente, o futebol brasileiro caminha para uma encruzilhada. Um lance decisivo como em uma final de campeonato. E sinceramente, não podemos pensar duas vezes. Se precisar, temos que entrar de sola e impedir que esses caras avancem. Só isso pode salvar nosso esporte. E para os que pensam que isso é antiesportivo, digo que nada mais antiesportivo do que a corrupção. Como dizia Nelson Rodrigues: “Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.”