Protesto reúne 15 mil e reafirma greve geral do funcionalismo dia 11 de junhoOito horas da manhã do dia 5 de junho na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Os primeiros ônibus começavam a estacionar em frente da Catedral de Brasília. Os servidores federais desembarcavam com suas faixas, bandeiras, apitos e vuvuzelas. Alguns fizeram longas jornadas, desde Belém do Pará, no Norte do país ou de Pelotas, no Rio Grande do Sul, na fronteira do extremo sul.

Antes da 10 horas a larga avenida já estava ocupada pelos manifestantes; lutadores que se insurgem contra o congelamento salarial, a retirada de direitos, a precarização e a destruição dos serviços públicos. Neste momento, já passavam de 12 mil, incluindo mais de 2 mil estudantes que se incorporavam à marcha em uma emocionante unidade dos trabalhadores com a juventude. É a resistência contra a política do governo Dilma, do PT. Do alto do carro de som, os representantes do Fórum Nacional das Entidades dos Servidores Federais convocavam os manifestantes para dar início à grande marcha pelas avenidas da capital.

Unidade
Ao longo da caminhada, que se estendeu por quase três horas, os representantes das entidades nacionais se revezaram ao microfone denunciando a falta de negociação e o desrespeito do governo com os servidores. As palavras mais pronunciadas pelos oradores foram “unidade”, “luta” e “greve”.

Saulo Arcangelli, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, conclamou o conjunto dos servidores federais a seguir o exemplo dos professores das universidades e deflagrar a greve unificada nacional a partir do dia 11 de julho. “Não negociam com os servidores, mas despejam recursos no pagamento da dívida pública e em isenções fiscais para grandes empresas. Chega disso! Nossa paciência esgotou e agora vamos parar o país em defesa de nossas conquistas, salários e um serviço que atenda às necessidades da população”, disse.

Zé Maria, do PSTU, destacou a importância da unidade de ação construída ao longo desses dois anos, que garantiu o alicerce necessário para que o funcionalismo federal pudesse avançar na organização coletiva e na perspectiva da greve nacional.

“Esse governo da presidente Dilma é o governo dos banqueiros, dos grandes empresários e do agronegócio, baliza suas políticas na defesa do Estado capitalista em benefício da burguesia. Aplica no Brasil o mesmo receituário dos países europeus em crise, ou seja, planos de ajustes fiscais que significam ataques às conquistas dos trabalhadores e da juventude para manter os altos lucros das empresas e instituições financeiras capitalistas. Nós, do PSTU, estamos na mesma trincheira com os servidores federais e a juventude estudantil, contra o desmonte do serviço público e defendemos a greve que os bravos companheiros estão construindo” falou.
A ponta da marcha chegou à Praça dos Três Poderes, enquanto as últimas alas de servidores deixavam a Praça da Catedral. Nesse momento, avaliavam as lideranças, a manifestação já atingia os 15 mil. Em frente ao Palácio do Planalto, os servidores bloquearam o trânsito e manifestaram sua indignação contra o governo, seguindo em direção ao Ministério do Planejamento.

No Ministério, após um “empurra-empurra” entre os manifestantes, a segurança do local e a polícia militar, os representantes do Fórum Nacional das Entidades foram recebidos pelo Secretário Executivo, Walter Correia. Novamente não houve nenhum avanço. O secretário reafirmou que o prazo do governo é 31 de julho para apresentação de uma proposta orçamentária para despesa de pessoal, com reflexos em 2013. Mais do que isso, Correia desafiou os servidores dizendo que é “postura do governo Dilma não receber ou negociar com setores que estão em greve”. A reação dos dirigentes das entidades foi imediata, reafirmando o processo de mobilização e deflagração da greve em 11 de julho, uma vez que nada de novo foi apresentado nessa mesa.

Repressão
Perto dali, no Ministério da Educação, os estudantes faziam uma manifestação em defesa da educação pública, que acabou sendo reprimida pela truculenta polícia militar de Brasília. No momento em que entravam no Ministério, para exigir serem recebidos pelo ministro Aloizio Mercadante, foram fortemente reprimidos. Apesar do conflito, uma comissão dos estudantes foi recebida pelo ministro, mas, assim como a reunião no Planejamento, não houve nenhum avanço.

E assim foi concluída mais uma grande manifestação em Brasília. Uma marcha que ficará marcada por um duplo emblema: a retomada da ação unitária do funcionalismo federal, após quase uma década de divisão, e a aliança dos servidores federais com os estudantes, unidos em defesa da educação, da saúde e serviço públicos. Os manifestantes encararam a longa jornada de volta com uma certeza: só a luta, a mobilização e a greve podem dobrar o governo e arrancar suas reivindicações.

Greve Geral
Após a Marcha, mais de mil servidores federais ainda tiveram disposição para participar de uma Plenária Nacional Unitária, convocada pelo Fórum das Entidades Nacionais. Uma tenda armada no gramado, em plena Esplanada dos Ministérios, abrigou a base das 28 entidades nacionais e as mais diversas categorias do funcionalismo federal. A direção da plenária ficou sob a responsabilidade das centrais sindicais, CSP-Conlutas, CUT e CTB.

Os representantes dos sindicatos, federações e confederações apresentaram um informe sobre o processo de mobilização e a perspectiva da greve unificada. As falas confluíram para a realização de uma grande greve unificada, ainda que os ritmos de mobilização, em cada uma das categorias, apresentem diferenças. As propostas aprovadas por aclamação na plenária:

-Deflagração da greve nacional unitária dos servidores federais a partir do dia 11 de julho;

-Como primeira atividade da greve unificada, os servidores federais realizarão duas ações no dia 20 de junho, por ocasião da Rio+20: a) Uma manifestação específica dos servidores federais e b) Organização de uma forte coluna do Fórum das Entidades Nacionais na Marcha Internacional da Cúpula dos Povos;

-Constituição de um Comando Nacional Unitário de Greve e Mobilização dos servidores federais.
Post author Paulo Barela, de São Paulo
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