Certamente, não há uma onda de lutas generalizada no Brasil. A resposta dos trabalhadores à crise ainda é muito parcial. Mais do que isso, a crise tem atingido de forma desigual os diferentes segmentos da classe trabalhadora. Independentes disso, as diferentes respostas da classe ganham ruas e praças.

Uma prova disso é a resistência dos servidores públicos contra governos que se esforçam para atirar o peso da crise sobre diversas categorias do funcionalismo. Um exemplo palpável é o que acontece em Fortaleza (CE). Nesse momento, os funcionários municipais estão em estado de greve, e setores deles já se encontram paralisados.

As greves em curso são uma reação à política de Luizianne Lins, a prefeita do PT, que corta o orçamento e estabelece como regra o congelamento dos salários. O Sindfort, sindicato geral dos municipários da capital cearense, encabeça um impressionante processo de mobilização e tem sido uma pedra no sapato da prefeita petista.

No ano passado, para fugir de um protesto organizado pelo sindicato, a prefeita Luizianne Lins despachou no Hotel Praia Centro, que pertence ao Grupo M. Dias Branco, um dos principais grupos empresariais com atuação no Ceará. Com a situação agora de mobilizações e greves, para onde irá Luizianne?

Há um processo de mobilização local do serviço público. Isso é mais visível no setor da educação. Do mesmo modo, os professores não aceitam perder direitos e reivindicam reajuste salarial. A paralisação em curso incorporou professores de Fortaleza e da rede estadual. Aqui temos uma particularidade. Há dois sindicatos de professores: Apeoc e Sindiute. Essa divisão, de uma maneira geral, tem prejudicado os trabalhadores do magistério.

Apesar disso, a greve é forte e une capital e interior. A Apeoc tem destacado a não implantação da progressão horizontal, devida desde setembro de 2008, e a luta por um reajuste salarial de 19,2% – forma de garantir o pagamento do rebaixado piso nacional e que o governo Cid Gomes (PSB) se nega a cumprir – como os principais móveis da greve, mas a sua direção governista não tem poupado esforços para desmobilizar a categoria.

A greve dos professores municipais também está centrada na introdução do piso, na redução da jornada em sala de aula e concurso público. É a quarta greve da categoria em cinco anos de gestão petista. A direção do Sindiute tem, contudo, manobrado no sentido de não garantir a plena unificação da greve do professorado com a do funcionalismo do município, além de ignorar a importância de incorporar os setores precarizados da categoria. Na última assembléia foi obrigada a rever, em parte, os seus conceitos, apontando, para unidade com os funcionários, uma prova da força da mobilização.

A Conlutas – em particular a sua corrente no setor, a Conlutas Pela Base na Educação – tem colocado a sua militância a serviço da greve, apontando o caráter limitado do programa defendido pelas direções governistas, mas se colocando na vanguarda da mobilização e defendendo a unidade da classe trabalhadora para responder ao processo de crise capitalista. Nas passeatas que têm colorido as ruas de Fortaleza, a Conlutas tem atuado destacadamente.

Por fim, no momento em que o estado sofre com as inundações, que se abatem sobre os setores mais pobres da população, as lutas em curso apontam um caminho. Mais do que nunca, Fortaleza se levanta e se rebela e diz para “os de baixo” em que direção eles devem caminhar.