O Fórum Social Mundial, versão Caracas, terminou em 29 de janeiro. Apesar de ter tido pouca cobertura da imprensa burguesa, teve um significado importante para a América LatinaO FSM reuniu cerca de 80 mil ativistas de todo o mundo em protestos contra o imperialismo e debates sobre vários temas, desde a Alca e a dívida externa até os direitos dos povos indígenas.

A grande polêmica do Fórum foi entre os que defendem certa independência em relação ao governo Chávez e os diretamente alinhados com o governo venezuelano. O problema é que esta “independência” foi defendida por setores mais à direita, como várias ONGs e Oded Grajew (burguês brasileiro do setor de brinquedos e um dos fundadores do FSM), que propõem a manutenção do evento só como um fórum de debates.
Outro setor – com apoio de Ignácio Ramonet (do Le Monde Diplomatique), outras ONGs e toda a esquerda reformista – defendeu transformar esta edição do FSM em um grande evento chavista. Como resultado, o Fórum, que já foi lulista antes do desgaste de Lula, agora virou uma festa chavista.

Isso fez com que a reunião, que poderia ser um instrumento catalisador e unificador das lutas contra o imperialismo, novamente não servisse para isso.

Apesar de terem ocorrido grandes atos (com Chávez como figura central), o FSM não apontou para um plano de lutas concreto contra o pagamento da dívida externa, pela nacionalização do petróleo e do gás ou contra a Alca.

Ao mesmo tempo em que uma resolução do encontro dos movimentos sociais, por exemplo, propôs que se realize, em 18 de março, um dia internacional de luta contra a guerra do Iraque, não houve nenhuma proposta para unificar a luta latino-americana contra o imperialismo. Isso ocorreu assim em virtude da dependência da esquerda reformista em relação a governos como o de Chávez, Evo Morales e Lula.

América Latina: entre insurreições e eleições
A América Latina vive um momento político excepcional, com grandes processos de mobilização e vitórias eleitorais de governos que fazem sua campanha com um discurso anti-neoliberal.

Só em 2005, três governos foram derrubados pela ação direta das massas: em abril, Lucio Gutiérrez, no Equador e, em outubro, os bolivianos sacaram Carlos Mesa, substituído por Sánchez de Lozada, que caiu um mês depois, em um levante popular.
Já pela via eleitoral também foram impostas vitórias de candidatos identificados com a esquerda. Desta lista fazem parte Chávez (Venezuela), Lula (Brasil), Gutiérrez (Equador), Toledo (Peru), Tabaré Vasquez (Uruguai) e, agora, Evo Morales (Bolívia) e Michelle Bachelet (Chile). Ainda existe a possibilidade de vitórias de Ollanta Humala (Peru) e López Obrador (México).

É essa situação que faz com que muitos analistas burgueses e organizações reformistas falem, hoje, em “esquerdização” da América Latina e, também, fez com que o FSM tenha sido organizado para se transformar num momento apoteótico da esquerda reformista, buscando reforçar as ilusões que as massas têm nas eleições e desviá-las da via revolucionária.

Isto apesar dos planos neoliberais e do FMI continuarem a ser implementados e as negociações da Alca, mesmo com muita crise, prosseguirem, já que a maioria destes governos se transformou em agentes da aplicação dos planos imperialistas.
Exemplos não faltam: Chávez fala contra Bush, mas aplica, na Venezuela, um plano econômico parecido com o de Lula, e Evo Morales já diz que nacionalização é coisa do passado. Lula e Tabaré Vasques dispensam comentários.

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