As eleições de 2006 serão recordadas não só pela reeleição de Lula, mas pela presença da Frente de Esquerda, formada por PSOL, PSTU e PCB, ao redor da candidatura de Heloísa Helena à Presidência.

A Frente de Esquerda trouxe para o Brasil um processo que já tinha se manifestado na França (com a frente eleitoral formada pela LCR e a Lutte Ouvriére), em Portugal (com o Bloco de Esquerda) e em outros países europeus. Poderia também ter se manifestado na Argentina, durante a crise política de anos atrás, mas foi impossível devido à miopia dos setores majoritários da esquerda daquele país.

Com a frente, foi possível, nestas eleições, expressar a reorganização que se dava em nível sindical e político, como uma alternativa aos dois grandes blocos burgueses de Lula e de Alckmin. A frente permitiu que disputássemos o espaço à esquerda do PT, nos setores mais avançados de massas organizadas sindicalmente, como metalúrgicos, bancários, petroleiros, professores, funcionalismo público e estudantes, nos quais o PT foi hegemônico no passado.

Se a frente não tivesse sido concretizada, a dispersão da esquerda só fortaleceria a polarização artificial entre o PT e o PSDB, que foi montada pelos partidos majoritários. Por outro lado, o fiasco da campanha pelo voto nulo só reforçou a esterilidade dos setores ultra-esquerdistas que embarcaram nesta canoa. Não conseguiram, em momento algum, estabelecer um elo real com o movimento de massas, e a campanha pelo voto nulo degenerou melancolicamente em brigas físicas entre os “revolucionários”.

Sentimos orgulho dos 6,5 milhões de votos dados à Heloísa. Nos setores mais avançados das massas trabalhadoras e estudantis, o percentual alcançado pela Frente de Esquerda foi, seguramente, maior que no conjunto da sociedade.

O fraco resultado na eleição para deputados não muda esta avaliação. Realmente, o PSOL baixou de sete para três deputados federais e o PSTU não elegeu nenhum deputado. Isso não é bom. No entanto, foi apresentada uma alternativa de esquerda para os trabalhadores, o que tem um valor maior do que qualquer outro resultado.

Os limites da Frente
O primeiro limite para a frente foi programático. Apesar de o manifesto acertado entre os três partidos ter um eixo de ruptura com o imperialismo e apontar para a luta contra as reformas neoliberais (em particular, a trabalhista e a da Previdência), os programas de Heloísa no horário eleitoral buscavam centralmente desconstruir a imagem radical da senadora.

Pior ainda, César Benjamin, candidato a vice, aprontou um projeto de programa para a frente sem nenhuma discussão prévia, que defendia como eixo a diminuição dos juros, sem qualquer ruptura com o imperialismo. Infelizmente, Heloísa, em suas entrevistas, defendia este programa. Para completar, nossa candidata cometeu um sério equívoco ao se colocar contra o direito ao aborto, chocando-se com bandeiras históricas do movimento feminista.

A luta do PSTU, assim como de setores da esquerda do PSOL, impediu que o programa de César Benjamin fosse apresentado como se fosse do conjunto da frente. Isso gerou um enfrentamento, que só terminou ao final das eleições, com a ruptura de César com o PSOL. Um final lamentável para uma candidatura a vice que só ocorreu por um erro grave da direção do PSOL.

Nenhum dos erros cometidos, no entanto, pode apagar a importância da existência da Frente. Fica uma experiência rica, que deve ser desdobrada em outras práticas unitárias, como a luta contra as reformas neoliberais no segundo mandato de Lula. Hoje, essa unidade tem um nome no movimento social: Conlutas.
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