Em Fortaleza, a Frente de Esquerda, composta pelo PSTU e pelo PSOL, lançou uma carta-manifesto aos trabalhadores da cidade. O evento aconteceu no dia 21 de agosto, quinta-feira, e teve a presença dos candidatos e de Plínio de Arruda Sampaio.

O texto busca, além de oferecer um programa de governo classista, demonstrar que a Frente de Esquerda é a única alternativa para a classe trabalhadora nessas eleições.

Próximas atividades
Neste sábado, será lançada a candidatura de Raquel Dias a vereadora. Conocrrendo com o número 16.000, Raquel é Professora do curso de pedagogia da Universidade Estadual do Ceará. Junto com outros companheiros, ela liderou a greve dos professores de universidades estaduais em 2007-2008. Raquel se coloca como uma voz a serviço dos direitos dos servidores públicos tão humilhados e enganados pela prefeitura, e da luta das mulheres trabalhadoras.

No domingo, haverá uma caminhada na Granja Portugal, bairro operário em que reside Gonzaga, militante do PSTU e candidato a vice-prefeito pela Frente. O ato acontece a partir das 9h. Durante o ato, todos os candidatos poderão falar, além de representantes dos sindicatos e dos movimentos sociais.

LEIA A CARTA-MANIFESTO:

Por uma fortaleza da classe trabalhadora socialmente justa e ambientalmente responsável
Somos oposição aos governos Lula, Cid Gomes e Luizianne. No Ceará, existe uma falsa unanimidade de que as alianças feitas na partilha de cargos públicos e vantagens são a única forma de fazer política. É isso que vemos nas “grandes campanhas” com seus milhões de reais, dezenas de partidos sem princípios ideológicos e que fazem da eleição espetáculo de marketing.

Não concordamos com esse jeito de fazer política, pois mantém o poder, a riqueza e o conhecimento nas mãos dos poucos de sempre, excluindo as maiorias sociais – as mulheres, os jovens, os negros, as crianças, as pessoas idosas e trabalhadores. Por esta razão, queremos outra política e faremos uma outra campanha.

Somos oposição a todos estes governos e ao sistema capitalista. Somos anticapitalistas porque o lucro deles não deve ser maior que a vida. Somos socialistas porque o mundo não é mercadoria. Somos ecologistas porque a cidade não suporta mais tanta destruição promovida por um modelo de desenvolvimento que em Fortaleza, segue os mesmos parâmetros do estado, e busca integrar os ciclos da natureza á lógica da acumulação capitalista. Tem sido nesta perspectiva que a propriedade privada em nossa cidade tem sido falsamente colocada como capaz de assegurar a proteção das áreas verdes, dos mananciais e da qualidade de vida da população.

No Ceará, há 20 anos vivemos um ciclo que se sustentou em falácias, desmantelou atividades econômicas populares, consolidou o estado como mantenedor dos interesses privados. Nosso estado foi transformado em laboratório da agenda neoliberal que tem sua expressão maior na figura do governador Cid Gomes. Em Fortaleza a partir da eleição de Luizianne Lins esse ciclo de poder se ampliou com a aliança selada entre a administração atual, o governo do estado e a iniciativa privada para garantir a manutenção dos mesmos interesses.

Estas são eleições peculiares na história de Fortaleza. Há muita desilusão e a desilusão é justificável. A desilusão atual não vem somente das intermináveis denúncias de corrupção. A desilusão decorre não somente do fato do poder instituído ter capturado os sonhos e ideais das pessoas e tê-los aprisionado e domesticado, mas também pelo explícito consentimento e participação nessas atitudes, de pessoas e partidos nos quais acreditávamos. Os projetos políticos de PT, PSDB e Democratas não são incompatíveis, os três defendem os interesses da lógica destrutiva da burguesia. Nestas eleições PT e PSDB estão coligados em 1130 municípios. No Ceará o PT de Luizianne e o PSDB que apóia Patrícia fazem dobradinha em 23 municípios e com o Democratas de Moroni, o PT está aliado em 26 municípios.

Estas alianças transformam a política na matemática previsível dos conchavos eleitorais e nos trazem a certeza de que uma possível vitória de PT, PSDB ou Democratas significará mais ataques a classe trabalhadora e ao povo pobre de Fortaleza. Por isso, nunca foi tão necessário libertar a política e afirmar que há outras possibilidades de fazê-la.

Temos a certeza de que há outros jeitos de viver para além do capital e defendemos a necessidade de realizarmos cotidianas rupturas para esse fim. Disputamos as eleições porque temos projeto. Pensamos a disputa pela prefeitura de Fortaleza não como fim, mas como uma das possibilidades de fortalecer a construção do projeto socialista, a auto-organização da população e realização de direitos. Temos lado. Somos oposição pra valer e na contradição originária da sociedade capitalista é necessário afirmar que nosso lado é o da defesa dos interesses dos trabalhadores/as, do meio-ambiente, da saúde pública, da educação de qualidade, e do trabalho justo.

Fortaleza é como muitas cidades do Brasil: palco de graves contrastes sociais, mas de muitas belezas. Cidade de cidades misturadas. De um lado o ataque que se manifesta através de serviços públicos, riquezas e recursos naturais monopolizados por uma parcela minoritária da população que transforma os sistemas de saúde e de educação em mercadoria para quem pode pagar. De outro a resistência popular que se expressa nas ocupações, e nas greves de diversas categorias a exemplo dos servidores públicos municipais, rodoviários e dos trabalhadores da construção civil.

A falta de saúde, educação de qualidade, transporte, segurança e um ambiente ecologicamente equilibrado se assenta também na existência e aplicação de alguns instrumentos criados nos últimos anos que têm como perspectiva o aprofundamento dessas desigualdades, caso da lei de responsabilidade fiscal criada pelo governo FHC sob a égide do FMI. Ao contrário do que dizem o governo e a grande imprensa, essa lei não é a solução para os graves problemas de corrupção e desvios dos recursos públicos. Seu objetivo é garantir o pagamento dos juros e amortizações da dívida dos municípios aos banqueiros e não destinar recursos para as políticas os sociais, como saúde, moradia e educação. Na verdade, essa é uma lei de irresponsabilidade social: para os credores da dívida, tudo. Para os trabalhadores e o povo pobre, fome e miséria se aprofundam.

Portanto, não poderíamos oferecer ao debate um programa de governo de conciliação de interesses contraditórios. Nossa candidatura inverte a lógica e buscará assegurar mais verbas para a saúde, educação, saneamento básico e moradia. Para tanto, é necessário deixar de pagar a dívida pública dos municípios com a União e dizer não à LRF, que retira verbas das áreas sociais para garantir o pagamento de juros aos banqueiros.

Seria vender ilusões, propormos a ampliação de direitos no contexto de tão grandiosos e profundos limites de uma realidade tem como pano de fundo uma lógica neoliberal privatista-consumista, praticada no espaço urbano, que nega que o Estado tem papel importante nas respostas às necessidades da população, quando está sob controle da classe trabalhadora e oprimida.

Acreditamos que mudanças efetivas só virão com pressão, organização popular e enfrentamento aos interesses do capital. Apresentamos em Renato Roseno e Gonzaga uma candidatura que vai combater os mecanismos autoritários de gestão, fortalecer a participação, a democracia protagonista e o controle social; que vai suspender o pagamento e auditar a dívida pública do município. Defendemos um combate frontal à lógica do ajuste fiscal e à sonegação dos grandes grupos econômicos. Ao estancar a sangria de recursos, podemos inverter prioridades para falar de verdade em educação, saúde e transporte público de qualidade; e governar com transparência absoluta.

Nossa candidatura não se restringe a disputas eleitorais ou a embates para conquista de mandatos parlamentares, mas essencialmente a construção de uma outra cultura política capaz de animar a resistência ativa e afirmar as lutas por uma Fortaleza social e ambientalmente justa.

Fortaleza, 21 de agosto de 2008