Franceses comemoram a vitória do Não

O bloco econômico que parecia ser o mais sólido do mundo sofreu uma derrota neste final de semana. No dia 29 de maio, cerca de 54,87% dos franceses rejeitaram a Constituição européia. Esse foi o resultado do referendo realizado na França e que está sendo feito em todos os países da União Européia para elaborar as leis que regeriam o bloco.

A votação teve alta taxa de participação, com cerca de 70% dos 42 milhões de franceses comparecendo às urnas. A França é o primeiro país a rejeitar o projeto. Isso pode inviabilizar a aplicação da Constituição, pois a mesma precisa ser aprovada nos referendos populares dos 25 países da União Européia para entrar em vigor. O “não“ francês significa que o projeto da Constituição, na sua forma atual, não poderá ser implementado.

O resultado francês pode influenciar a população dos países que ainda farão o referendo, como na Holanda, onde a votação será nesta quarta, dia 1º de junho, e as pesquisas já indicam uma grande vantagem para o “Não”. Até agora, nove países já aprovaram o projeto, em um processo previsto para terminar no início de 2006.

`IlustraçãoApesar das declarações sobre a manutenção dos referendos onde estão marcados, um encontro de líderes europeus previsto para os dias 16 e 17 de julho pode determinar a suspensão do processo. O mais provável é que os líderes dos países da União Européia tentem agora salvar algumas partes da Constituição, implementando-as através de acordos entre chefes de Estado.

A votação também tem conseqüências para o governo francês. Com a derrota, o presidente francês Jacques Chirac disse que irá divulgar nos próximos dias as possíveis mudanças em seu governo. A principal alteração deverá ser com relação ao primeiro-ministro do país, Jean Pierre Raffarin, que está com um alto índice de impopularidade.

`JacquesUma das razões da derrota da União Européia no referendo francês é a baixa popularidade do atual governo no país. Os dados oficiais apontam cerca de 10% de desemprego no país e há uma estagnação econômica que caminha para uma crise. A votação também representou um protesto contra o governo.

Além disso, muitos eleitores acreditam que a Constituição poderia colocar em risco o atual sistema de proteção social francês. Os trabalhadores franceses temem o rebaixamento de seus direitos trabalhistas. Essa discussão ganhou mais importância com a possibilidade da entrada de novos países na União Européia. Não é à toa que a principal preocupação é relacionada aos direitos trabalhistas ameaçados pelo bloco. Uma pesquisa constatou que 75% dos eleitores ouvidos que se declararam como sendo da classe operária disseram que iriam votar pelo “não“.

Além disso, a população francesa que foi às urnas dizer não à União Européia está ciente do que consta nesse projeto. O governo francês distribuiu 46 milhões de cópias do projeto da Constituição nas últimas duas semanas de maio. Ao mesmo tempo, as pesquisas mostravam o apoio ao “não“ aumentando, deixando claro que quanto mais liam sobre o assunto, mais os votantes se convenciam de que a Constituição só prejudicaria os trabalhadores.