Desde o último domingo, 25 de novembro, foram registrados novos conflitos nos subúrbios de Paris. Manifestantes incendiaram dezenas de carros e diversos prédios públicos em Villiers-le-Bel e na vizinha Arnouville, subúrbio ao norte de Paris.

As ações começaram quando dois adolescentes, de 15 e 16 anos, morreram em Villiers-le-Bel. Eles estavam numa moto e colidiram com um veículo da polícia num cruzamento. Os manifestantes culpam a polícia pelas mortes, pois eles estariam perseguindo os dois adolescentes.

As ações relembram os conflitos em 2005, quando, após a morte de jovens filhos de imigrantes, carros e delegacias das periferias das principais cidades francesas foram incendiados como forma de protesto.

Na época, os confrontos duraram três semanas e deixaram mais de 10 mil carros queimados. O estado de emergência chegou a ser instaurado no país.

Repressão
Para impedir que as ações se alastrem pelo país como em 2005, o presidente Nicolas Sarkozy determinou o envio de mais de mil policiais para as regiões do conflito. Manifestantes e policias chegaram a trocar tiros. Sarkozy qualificou os responsáveis por alvejarem policiais de assassinos, e minimizou as mortes dos adolescentes. “Não é algo que se possa tolerar, seja qual for o drama da morte de dois jovens numa moto”, afirmou o presidente. Nada de surpreendente. Afinal foi o mesmo Sarkozy que qualificou os jovens filhos de imigrantes como “gentalha”.

Após duas noites de distúrbios, a madrugada da última quarta-feira, dia 28, foi mais tranqüila. A forte repressão e a ocupação dos bairros por destacamento de policiais praticamente impediu os protestos.

Dias difíceis
Os conflitos nos subúrbios de Paris ocorreram logo após as greves do setor público que paralisaram a França na semana passada. A greve durou dez dias, mas foi traída pelas direções sindicais ligadas ao Partido Comunista e ao Partido Socialista. Os sindicalistas aceitaram impor o fim da greve em troca da negociação de migalhas com o governo e com as direções das estatais.

Os episódios das últimas semanas mostram que Sarkozy terá muitas dificuldades para implementar sua política de ataque aos direitos trabalhistas e de repressão aos imigrantes.

Muitos comparam Sarkozy à ex-primeira dama britânica, Margaret Thatcher, que derrotou a greve mineira dos anos 1980 e inaugurou a implementação do neoliberalismo em seu País. Thatcher, entretanto, se aproveitou de uma conjuntura internacional reacionária, marcada pelo ascenso do neoliberalismo sobre o mundo. Bem diferente de Sarkozy, que herdou os resultados de um enorme ciclo de lutas protagonizado pelo movimento de massas contra a ofensiva neoliberal levada a cabo por governos de direita e pelos ditos “socialistas”.

Das ações mais destacadas encontram-se a greve geral de 1995, que derrotou o plano Juppe, o levante dos subúrbios em 2005 e as lutas dos estudantes em 2006, que derrotou Contrato de Primeiro Emprego (CPE). A história recente da França leva a crer que novas ações nos subúrbios virão, acompanhadas de mais greves.