Ocupação na Zona Sul de São Paulo
Raíza Rocha

Ao lado das paredes pintadas com frases como “Mais verbas para o SUS”, “pelo Fim da privatização da Saúde” e “Faltam consultas, exames e hospitais”, cartazes espalhados pelo prédio indicavam as salas de Raio X, Pediatria e Enfermaria. Já no térreo, sinalizadores indicavam o andar dos consultórios e, bem no centro do prédio, uma placa inaugural, escrita a tinta, dizia: “Hospital Popular, inaugurado em 09/09/2012 pelo povo”. A inauguração foi simbólica e aconteceu em um prédio abandonada há mais de uma década na Capela do Socorro, Zona Sul de São Paulo, em protesto contra as promessas não cumpridas do prefeito Kassab (PSD).

Em 2008, durante as eleições, o então candidato Gilberto Kassab se comprometeu a construir mais 3 Hospitais Públicos, um na Zona Sul, outro na Zona Leste e mais um na Zona Norte da cidade, além de 50 unidades de atendimento odontológico, o então anunciado projeto “Ama Sorriso”. Apesar de insuficientes, nenhuma das promessas foi cumprida. Nenhum novo hospital ou unidade odontológica foi construído no mandato que se encerra este ano.

Cansados de promessas, o Fórum Popular de Saúde de São Paulo, composto por usuários, trabalhadores da saúde, estudantes e diversos movimentos sociais, junto ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, ocuparam, no dia 7 de setembro, o prédio abandonado que deveria ter sido reformado para a instalação do novo Hospital na zona sul. O objetivo da ocupação foi denunciar o Apagão da Saúde na cidade de São Paulo. “Ocupamos para de denunciar a falta de Hospitais, a demora no atendimento, a falta de concurso público e a privatização do serviço, com o sucateamento da saúde pública, o estímulo dos planos privados e a entrega do serviço para as Organizações Sociais de Saúde (OSS), empresas privadas responsáveis pela administração dos serviços públicos de saúde do município” , afirma Talita Goes, militante do setor de Saúde do PSTU e membro do Fórum Popular de Saúde de São Paulo.

A candidata do PSTU a prefeitura de São Paulo, Ana Luiza, esteve na ocupação e prestou solidariedade ao movimento. Durante a sua visita, fez uma roda de conversa com os ativistas sobre “Saúde da Mulher”.

Apagão da Saúde
Na cidade de São Paulo, o prazo médio para conseguir uma consulta é de 52 dias. A espera entre a marcação e a realização de um exame simples pode chegar a 64 dias. Em caso de cirurgia ou de exames mais complexos, a demora pode levar mais de 4 meses. Horas nas filas de hospitais e a demora de meses para conseguir ser atendido por especialistas fazem parte da dura realidade dos trabalhadores e da população pobre da cidade. Em 26 dos 96 distritos de São Paulo, por exemplo, não existe nenhum leito na rede hospitalar, segundo levantamento da Rede Nossa São Paulo.

O apagão da saúde só tem beneficiado as empresas que lucram com o sistema de saúde cada vez mais privatizado. Por outro lado, a privatização do serviço não significou melhoras no atendimento aos trabalhadores. Mesmo com plano de saúde pago, a espera para a realização de exames e consultas também é grande. Fechamento de serviços, retirada de direitos dos usuários, atrasos nos atendimentos nos hospitais e a demora para marcação de consultas também fazem parte da realidade de 25% da população brasileira que pagam pelos planos privados.

O subfinanciamento segue sendo a principal razão para o “apagão”. A prioridade da atual e das últimas prefeituras de São Paulo foi garantir o pagamento da dívida municipal junto ao governo federal (para pagamento dos juros da dívida pública) e a Lei de Responsabilidade Fiscal, que drenam os recursos da saúde e também da educação.

“A estatização da saúde e o investimento de 6% do PIB na saúde é fundamental para reduzir a espera por atendimento, realizar mais concurso público para contratação de mais profissionais da saúde e investir em políticas públicas específicas para os setores mais oprimidos da nossa sociedade” , defendeu Ana Luiza durante conversa na ocupação.