O Fórum Social das Américas confrontou duas saídas para o movimento: a da conciliação e a do confronto na luta pelo socialismoO Sol chegava ao ponto mais próximo que o índio maia sequer sonhara. Nesse momento, entramos na praça central de Quito, na velha Quito de tantas raízes. Começava a festa de abertura do Primeiro Fórum das Américas, de 25 a 30 de julho. E chegávamos ao mais próximo do que nos une aos povos latino-americanos: a necessidade urgente de lutar pelo que nos sobra de soberania.

Os maias chegaram a este enorme cerro de Quito não para ocupá-lo, mas para buscar os pontos mais próximos do Sol. E revestiram seus templos de ouro não para torná-los mais ricos, e sim mais luminosos. Nós chegamos a este imenso vale, cercado de picos ora verdes ora nevados, para outra batalha política. Delegações de todos os países de nosso continente unidas pela mesma dúvida: o que fazer diante da barbárie que nos ameaça?
 

Dois caminhos
 
Duas alternativas foram apresentadas no Fórum. A primeira era defendida pelos organizadores, pela imensa maioria das ONGs, por organizações que abandonaram as fileiras do marxismo revolucionário, por grupos que defendem a democracia burguesa. Segundo esses setores, para deter a barbárie que nos ameaça com a recolonização de nosso continente o antídoto é mais democracia, eleições, Assembléia Constituinte como suprema e máxima instância de convivência humana. Pedem que confiemos em governos servis ao imperialismo, como os de Lucio Gutiérrez (Equador), Alejandro Toledo (Peru), Lula (Brasil) e Carlos Mesa (Bolívia), que entregam nossas riquezas e pagam em dia a espúria dívida externa.

Nessa primeira alternativa estavam os chavistas (ligados a Hugo Chávez, na Venezuela), que propõem libertar a América sem romper de vez com o imperialismo e sem expropriar a burguesia e as multinacionais. Como se isso fosse possível. Estava Gilmar Mauro, do MST do Brasil, que veio para cá dizer que o MST não quer prejudicar o governo Lula, mas colaborar com ele. Quer colaborar com um governo que não faz a reforma agrária e governa para o latifúndio. Estava Evo Morales, do MAS boliviano, que chamou o povo a confiar no plebiscito do presidente Carlos Mesa para roubar o gás da Bolívia. 

Outra alternativa foi apresentada aos participantes do Fórum: a que reafirma que é preciso derrotar o imperialismo e seu regime baseado na democracia burguesa. A revolução boliviana e o levante do Equador, protagonizado pelas massas, mostram que esse não é um caminho distante ou utópico. É perfeitamente possível por meio da auto-organização do povo construir um poder operário, popular e camponês como única via para recuperar a nossa independência, soberania e um futuro melhor; uma democracia autêntica, baseada na supressão das desigualdades sociais e na construção do socialismo.

A presença da LIT-QI

Na defesa intransigente desse segundo caminho estava a Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional, que marcou presença em Quito com delegações de seus partidos do Peru (PST), Bolívia (MST), Paraguai (PT) e Brasil (PSTU), além do MAS (Movimiento al Socialismo), do Equador. Também esteve na defesa desse caminho o Comitê Universitário de Luta contra a Alca, de Quito, e muitos jovens estudantes, trabalhadores e trabalhadoras de diversos setores que participaram de nossas atividades durante o Fórum.

A LIT organizou três debates, paralelos à programação oficial. Mulheres, Maquila, Direitos Trabalhistas e TLCs (acordos de livre-comércio firmados entre EUA com países latino-americanos), que contou com a presença de Lucha Castro e Alma Gomez, do México. Mundialização e Agricultura contou com Tomas Zayas, dirigente camponês do Paraguai. E a mesa Imperialismo, Alca e Colonização, com Simon Lazara, dirigente sindical do Peru, e de Manuel Salgado, professor da Universidade Católica do Equador.
Post author Cecília Toledo, de Quito (Equador)
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