Aconteceram no Rio de Janeiro, entre os dias 16, 17 e 18 de fevereiro, as reuniões da Frente de Luta Contra a Reforma Universitária, do Fórum Nacional de Executivas e Federações de Curso (Fenex), e das entidades e estudantes que estão discutindo a construção de uma nova entidade representativa.

As três reuniões foram marcadas pela avaliação das lutas de 2007, com destaque para a vitoriosa greve de ocupação da USP contra os decretos do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), como também para as mobilizações desencadeadas nas universidades federais contra o Reuni (a nova reforma universitária) de Lula. Todos concordaram que a Frente cumpriu um papel decisivo em todo o país e que o movimento estudantil se encontra hoje num patamar superior na luta contra as reformas do governo e do imperialismo.

Os DCEs das universidades federais do Paraná e de Uberlândia propuseram a construção de um grande plebiscito nacional sobre o Reuni, com o objetivo de aprofundar a discussão em cada instituição de ensino superior e armar os estudantes para guerra contra a implementação do decreto. Essa proposta vem sendo pautada e amadurecida no interior de várias entidades há alguns meses. Em Minas Gerais e na Bahia, o plebiscito se realizaria ainda em 2007, mas foi adiado para que a Frente o organizasse em nível nacional e colhesse centenas de milhares de votos.

Os representantes da direção das correntes do PSOL tentaram impedir o plebiscito, justificando que o resultado do plebiscito poderia dizer “sim” ao Reuni e que o decreto já havia sido aprovado na maioria dos conselhos universitários. Como se pode ver a direção do PSOL deu pouco valor à inteligência dos estudantes presentes. Como explicar as dezenas de ocupações contra o Reuni apoiadas por uma grande parcela sociedade? Como explicar que as chapas da Frente tenham ganho de lavada os DCEs da UFRJ, UFMG, UFRGS, UnB, entre outros?

Quanto à segunda desculpa pode-se dizer que foi tão ruim quanto a primeira. Se o critério para não realizar um plebiscito sobre algum ataque do governo fosse a sua aprovação, os movimentos sociais cometeram um gravíssimo erro no ano passado no plebiscito sobre a reestatização da Vale do Rio Doce, privatizada em 1997.

Como se tudo isso não bastasse as correntes da direção do PSOL tentaram vetar até mesmo a realização de uma jornada de luta contra a reforma universitária, em nome da unidade com os governistas da UNE, que organizará atos “em defesa da educação”, em que a bandeira da luta contra o Reuni não será parte da pauta oficial. Não precisa ser um profeta para prever que os atos da UNE serão de apoio a Lula e à sua política educacional. Essa divisão fortaleceria o governo e enfraqueceria a Frente de Luta.

A política do PSOL em nada desanimou os DCEs para organizar as propostas rejeitadas. O plebiscito será realizado e deve ocorrer na semana de 12 a 16 de maio. Haverá uma nova reunião nos dias 15 e 16 de março, em São Paulo, para decidir as perguntas e fazer os materiais de divulgação. Os DCEs da UFPR, UFMG e UFJF são os responsáveis por convocar essa reunião. Não restam dúvidas e sobra disposição para levar o plebiscito adiante.

Além disso, no dia 28 de março, a Conlute e vários DCEs resgatarão o que a UNE jogou na lata do lixo e farão amplas mobilizações de rua contra a reforma de Lula. Se os companheiros do PSOL mudarem de idéia, serão muito bem vindos. A data lembra a morte de Edson Luís, que lutou contra a ditadura militar, co-autora da reforma MEC/Usaid. Essa velha reforma hoje ganhou uma nova roupagem e um novo nome. Chama-se Reuni.

A Frente aprovou, também, a confecção de um jornal para as calouradas; a participação nos atos feministas, classistas e de oposição ao governo no 8 de Março (Dia Internacional da Mulher) e nas manifestações em defesa da diversidade sexual no dia 28 de junho; e a construção de mobilizações em junho para cobrar a pauta de reivindicações das ocupações de 2007.

Fenex
No dia seguinte, reuniu-se o Fórum de Executivas com um quorum que há muito tempo não se via. Estavam presentes 19 executivas de cursos, o que demonstra a vitalidade desse espaço para organizar os próximos passos da luta. Deliberou-se, principalmente, pela elaboração de um material de caráter explicativo sobre o Reuni e pelo boicote ao Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

O Fórum contou com a ilustre presença da UNE, que após defender com uma euforia melancólica o Reuni, se retirou mais cedo, discretamente, depois de ser amplamente repudiada.

Nova entidade
A partir da convocação da Executiva Nacional dos Estudantes de Letras (Exnel) e da Conlute, aconteceu a primeira reunião para discutir a necessidade da construção de uma nova entidade representativa, que lotou o auditório da UFRJ. O evento surpreendeu a todos e contou com mais de 150 estudantes e 50 entidades. Entre elas, estavam as executivas de História e Engenharia Florestal, que foram como observadoras. Havia, ainda, estudantes que fazem parte das executivas de Geografia, Medicina, Serviço Social, Educação Física e Enfermagem.

A reunião iniciou com um filme sobre a greve da Fundação Santo André (SP), que denunciou o aumento das mensalidades, os ataques da reitoria, e a brutalidade da Tropa de Choque da Polícia Militar, demonstrando que as lutas também estão chegando às faculdades particulares.

Em seguida, a discussão foi aberta para o plenário, e os estudantes puderam contar suas experiências com a UNE, descrever processos de lutas, propor novas formas de organização e elaborar sobre os princípios norteadores de uma nova entidade. Foram destacadas como as características fundamentais de uma nova entidade a independência frente a todos os governos e reitorias, a democracia interna e a aliança com os trabalhadores.

O debate foi ainda mais enriquecido com a contribuição dos companheiros do PSOL e PCB, que, apesar das diferenças, se somaram democraticamente ao exercício de elaboração.

Para ampliar a discussão, envolver o maior número possível de representações e respeitar os diferentes ritmos e concepções, a plenária indicou uma comissão para redigir um manifesto que aponte a necessidade da construção democrática e coletiva de um congresso, que tenha como perspectiva a fundação de uma nova entidade.

Fica cada vez mais claro que a reorganização do movimento estudantil segue com força e que seu curso natural segue por fora da UNE. Seria um crime desperdiçar uma oportunidade histórica de superar as atuais bases e deixar o futuro da educação pública e da juventude entregue à própria sorte. A Frente de Luta tem, portanto, uma grande responsabilidade em suas mãos.

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