O fracasso da quarentena explica a tragédia da Covid-19 no estado no Rio de Janeiro. São milhares de infectados e mortos. Os principais culpados,  não temos dúvidas, são os genocidas Wilson Witzel (PSC), Jair Bolsonaro (sem partido) e Mourão (PRTB) e seus cúmplices. No Brasil, ultrapassamos, este mês, a fúnebre marca de mais um milhão de infectados e 50 mil mortos. São milhões de trabalhadores, desempregados, pobres atingidos diretamente pela doença ou pelos efeitos dela.

Outra realidade perversa, no Rio, é o fato do vírus ser muito mais letal nas regiões mais pobres da área metropolitana ou áreas que tenham menor infraestrutura para uma vida digna para a população. Dados da Secretaria Estadual de Saúde mostram que a letalidade da Covid-19 no estado (9,3%) é quase o dobro da média nacional (4,7%). O portal Painel Voz das Comunidades indica uma letalidade de 24,5% nas comunidades. Ou seja, em média, uma em cada quatro pessoas contaminadas nas comunidades irão morrer pela Covid-19.

E mais, dados da prefeitura do Rio mostraram que o novo coronavírus é mais letal entre negros e pardos (16,3% entre os negros; 13,45% pardos e 12,2% brancos). Estas estatísticas são um escândalo. Mostram como a barbárie capitalista, que sempre os atingiu com força, agora os deixa totalmente vulneráveis a perderem suas vidas pela Covid-19. Este é mais um capítulo da política consciente do Estado de praticar o genocídio do povo negro, tanto em nível nacional, estadual e municipal. Agora, ela ocorre por outros métodos, o da guerra biológica.

O governo assassino de Witzel não implementou medidas que realmente pudessem garantir que a quarentena fosse uma opção viável para os pobres ficarem em casa e, assim, se proteger do vírus. Não há quarentena sem emprego, renda integral, comida, moradia decente, água, educação gratuita e de qualidade e sem sistema de saúde que dê segurança aos que ficarem doente.

Até agora, Witzel entregou somente um hospital de campanha (Hospital do Maracanã) dos sete que foram prometidos. Ainda assim, este hospital funciona de forma parcial. Sabemos que houve uma diminuição no tempo de espera para os leitos de UTIs, mas, quantos já morreram nestas filas do Estado por causa da total inação do governo Witzel? É um número incalculável, infelizmente. Até porque, nós sabemos, as autoridades não mapeiam corretamente o desenvolvimento da pandemia. Não há testes para todos, então muitas vítimas da Covid-19 não são contabilizadas nos dados. Chegamos ao ponto de Bolsonaro simplesmente esconder os dados diários de óbitos. Um completo absurdo, e mais uma ferramenta para desarmar a população diante da crise séria que está em curso.

Witzel e Bolsonaro vêm operando uma política criminosa de reabertura da economia fluminense e nacional. Batalham para convencer a população de que é a hora de voltar ao trabalho, às aulas, às fábricas e retomar os serviços não essenciais. Pior, eles forçam a população a voltar às atividades ao não garantirem o seu sustento diário, o prato de comida na mesa do trabalhador e dos pobres. E ainda culpam a população por não ficar em casa. Os dois sabem o que estão fazendo: mandando o povo para o abatedouro!

Witzel defende a violência policial

Quando a Polícia Federal (PF) bateu na porta de Witzel, no palácio Guanabara, para investigar as denúncias de fraudes na saúde envolvendo ele, sua esposa e secretários, o governador se apressou em dizer que estava “lutando contra esse fascismo que se instala no país e contra essa ditadura de perseguição“.

O governador não passa de um oportunista. Sabemos que ele foi eleito por uma plataforma política reacionária, na esteira do bolsonarismo. Em seu programa de governo, na página 12, ele defendia bem claro a “Autorização para abate de criminosos portando armas de uso exclusivo das forças armadas”. Reafirmou isto em entrevista ao RJTV, em 10 de outubro de 2018: “Quem está de fuzil na mão está pronto para disparar contra quem quer que seja e coloca em risco a sociedade. Por isso, tem que ser abatido“. Com que moral Witzel pode chamar Bolsonaro de “fascista” se ele também defende a execução sumária de criminosos em meio à população desarmada e desprotegida? Esta política coloca em sério risco as vidas dos moradores destas comunidades. Foi deste modo que os adolescentes João Pedro e João Vitor da Rocha foram brutalmente assassinados, pela polícia, nas comunidades onde moravam. E isto em plena pandemia.

Em junho de 2019, durante uma solenidade na Baixada Fluminense, Witzel defendeu que se lançassem mísseis nas comunidades para “explodir aquelas pessoas”. Ele se referia aos traficantes e os comparou a terroristas que operam nas comunidades como fossem territórios de guerra controlados por forças inimigas.

Witzel mostrou que cumpriu o que prometeu. Houve, pelo menos, um episódio em que a polícia chegou a lançar granadas de um helicóptero sobre a comunidade Cidade de Deus. É demonstração mais do que clara de que o governador não se importa com a vida das pessoas que vivem nessas regiões. O próprio Witzel esteve inclusive dentro de um helicóptero da polícia que fuzilava as favelas na expectativa de acertar os bandidos. Lembremos, também, da cena absurda em que desceu de um helicóptero comemorando o “abate” de um de um jovem com problemas mentais que acabava de praticar um sequestro em um ônibus na Ponte Rio-Niterói.

Em 2019, a polícia do estado, controlada por Witzel, bateu recordes de homicídios (1.814). Foi o maior número desde 1998 e um aumento de 18% em relação a 2018, segundo o Instituto de Segurança Pública. Estas mortes, praticadas pelo Estado, representam aproximadamente 30% do total de casos dos crimes que resultaram em morte no Estado. E mais, os negros e pardos representaram 78% dos mortos pela intervenção policial no Rio de Janeiro em 2019.

Neste mês, o mesmo instituto divulgou os dados de mortes policiais até junho. São alarmantes e cruéis: foram contabilizadas 741 mortes causadas por policiais nos primeiros cinco meses de 2020. São quase cinco pessoas mortas por dia pela polícia no estado.

O que a polícia pratica é um verdadeiro genocídio do povo negro pobre e trabalhador.

Trabalhadores, desempregados e servidores na penúria.

Como enfrentar uma pandemia, desta magnitude, com a taxa de desemprego no estado beirando os 12%, segundo informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)? Os que estão empregados temem ser demitidos e, por esta razão, são obrigados a se sujeitar as condições precárias impostas pelos patrões, têm direitos suprimidos, salários congelados, benefícios cortados etc.

Os servidores públicos estão, há anos, sem reajuste e veem seus rendimentos derreterem com as perdas históricas provocadas pela inflação. Os trabalhadores da educação já veem a possibilidade de serem testados como cobaias do governador e do secretário da pasta, Pedro Fernandes, que estão preparando a limpeza das escolas para se voltarem às aulas. Salas de aulas lotadas, parte dos alunos em situação de miséria, escolas que parecem presídios e muitos profissionais com doenças adquiridas no trabalho formam o ambiente perfeito para disseminação do vírus e caminho para uma tragédia nas escolas. Enquanto isso, o secretário implementa uma verdadeira farsa com o Ensino à Distância (EaD) em que o pobre, sem condições alguma, não consegue apreender e os professores são massacrados em jornadas extenuantes e com muito assédio moral. A situação da educação é tão drástica que os servidores já avisaram que, se as aulas voltarem, eles poderão fazer greve sanitária para garantir a vida e a saúde da comunidade escolar.

O arrocho que vem sendo aplicado aos servidores foi garantido, também, por meio de uma negociata perversa com a União, promovida pelo atual presidiário, e ex-governador, Luiz Fernando Pezão (MDB). Foi o tenebroso Regime de Recuperação Fiscal. Witzel segue tentando privatizar a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), bem como a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), a qual ele quer entregar de mão beijada para iniciativa privada, para pagar a dívida de R$ 4,5 bilhões contraída com o Banco BNP Paripas, sediado na França. Apenas um detalhe – o patrimônio líquido da Cedae ultrapassa os R$ 7 bilhões.

Corrupção e Impeachment

A corrupção é outro veneno amargo que estamos engolindo durante esta pandemia. Foi o que levou Wilson Witzel e seus comparsas a serem investigados em plena pandemia por desvio de recursos da saúde. E o que fez com que dois secretários de saúde caíssem em poucos meses. Foi a chamada Operação Placebo, executada pela PF sob orientação de um chefe ligado a Bolsonaro. Nesta briga entre Witzel e Bolsonaro, é muito provável que este último tenha usado a PF para seus fins políticos que são blindar seus filhos corruptos e os possíveis desdobramentos do caso do assassinato de Marielle, além de acelerar as investigações contra seus desafetos.

Para Witzel, não basta matar o povo com a Covid-19, ao não oferecer hospitais, renda, moradia, educação e alimentação. Estes crápulas roubam até nos contratos dos poucos equipamentos e insumos que eram destinados para enfrentar a pandemia.

Esta situação levou a conformação de uma espécie de circo na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que resultou na aprovação e instalação de um processo de impeachment em que 69 dos 70 deputados votaram a favor abertura do procedimento. Supostamente, descobriram agora que Witzel é um corrupto como seus antecessores.

Achamos que é necessário construir uma ampla mobilização que coloque abaixo este governo. Sabemos que a pandemia, neste momento, nos dificulta de fazer ações mais contundentes nas ruas. No entanto, podemos e devemos fazer todo tipo de manifestação que permita ao povo expressar seu desejo de colocar para fora o governador, seu vice e toda a Alerj. Este será, sem dúvida, o caminho a ser trilhado.

Não confiamos a Alerj a tarefa de derrubar Witzel. Esta não é a casa do povo, como os demagogos de plantão vivem repetindo. Esta instituição, situada no centenário Palácio Tiradentes, nunca esteve ao lado dos trabalhadores e de seus interesses. Pelo contrário, dali se ajudou os ratos da estirpe de Sérgio Cabral (MDB), Pezão (MDB), Garotinho (então PDT) e Rosinha (então MDB) a governar o Rio nas últimas décadas. Os dois primeiros estão atualmente presos ou os últimos são ex-presidiários. Finalmente, Wilson Witzel está em indo à direção ao caminho da tradição fluminense entre os governadores: vestir o uniforme do presídio por terem roubado.

Uma boa parte dos deputados que compõem a Alerj são bolsonaristas. Muitos têm origem, ou ainda atuam, no crime, na milícia, no tráfico de drogas e no que há de mais podre na política fluminense. O bandido particular da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, que acabou de ser preso na casa do advogado da família Bolsonaro, trabalhou durante anos na Alerj como assessor de Flávio Bolsonaro.

Nós achamos que todos estes corruptos, bem como os cúmplices do genocida Wilson Witzel, tem que sair das cadeiras desta instituição reacionária já. As eleições gerais têm de ser convocadas.

O atual presidente da Alerj, o petista André Ceciliano, tem sido o mais fiel defensor do governador, e recebeu elogios pela sua cooperação. Ceciliano se reuniu com Witzel, no dia 18/06, para conversar sobre os procedimentos do impeachment, mas também acertou (ou negociou) os detalhes da entrega da Cedae para o capital privado.

Mesmo o PSOL, que possui 5 dos 70 deputados da Alerj, e que vendem a ilusão de que é possível reformar ou fazer diferente naquela Câmara apodrecida, não mobiliza seus parlamentares para denunciarem o teatro que se processa na Alerj ou convocam a opinião pública para derrubar imediatamente o governador.

O que o PSTU defende?

Nós seguimos defendendo a quarentena total já, contra todos aqueles que estão abrindo a economia neste momento. Defendemos todas as condições para que a quarentena seja realmente possível de ser realizada pelos trabalhadores e os pobres do estado. Moradia digna, alimentação, tarifas e serviços bancados pelo estado, emprego e a renda integral. Os ricos é quem têm de pagar os custos desta crise. É necessário suspender os pagamentos da dívida pública a União, bem como a suspensão das isenções bilionárias aos grandes magnatas e os especuladores que atuam no Estado.

Nós achamos que, tanto pelos constantes ataques policiais à população pobre e negra do estado, quanto pelo projeto privatista e o tratamento dispensado ao funcionalismo público, aos trabalhadores e aos pobres, o governador e seu vice devem cair já.

E não somente isto. Ao roubarem milhões, em contratos fraudulentos na saúde em plena pandemia, e após não terem garantido uma quarentena real para a ampla maioria da população, esperamos que os dois terminem suas carreiras como a de seus antecessores, na cadeia.

Não confiamos em nada na Alerj, que garantiu a posse a deputados eleitos que estavam presos naquele momento, em um ritual constrangedor. Witzel deve levar consigo esta Alerj Bolsonarista, corrupta e a serviço do que temos de pior no estado. A luta para derrotar Witzel, seu vice Claudio Castro e a Alerj está totalmente conectada a luta nacional pelo Fora Bolsonaro e Mourão já, que fizeram estragos ainda maiores que o governador em todas as áreas.

Na atual conjuntura, em que a pandemia tem impedido maiores mobilizações e ações das massas fluminenses, bem como o próprio desenvolvimento da luta geral entre os trabalhadores e os patrões, não se permitiu ainda o surgimento de organismos ou entidades auto-organizadas democraticamente pelos trabalhadores. Achamos que as eleições gerais são, neste momento, a melhor saída para a grave crise no Rio de Janeiro.

Isto não significa que não enxergamos os limites destas propostas ou que não mantenhamos nossa defesa incondicional do socialismo. É necessário que os trabalhadores tomem o poder, não há outra saída para nós. A partir de suas próprias organizações, sejam nos bairros, fábricas ou locais de trabalho, os trabalhadores elegerão os conselhos populares que poderão governar toda a sociedade. Uma democracia dos trabalhadores!

Este passo decisivo nos permitirá um governo que, de fato, enfrente crises como a atual pandemia. Um estado preocupado em salvar vidas, em preservar os trabalhadores e o povo e não os interesses dos patrões e dos ricos.

Nós achamos que os trabalhadores devem chamar o Fora Witzel e seu Vice já, assim como de todos os deputados da casa composta, em sua ampla maioria, por corruptos e bandidos que é a Alerj.