Há cerca de 15 meses o governo Lula mantém soldados do exército brasileiro na vergonhosa ocupação do Haiti. As tropas brasileiras lideram um efetivo de 6.250 militares “capacetes azuis”, que reúne contingentes de 13 países, entre os quais 1.200 brasileiros.

Contando com a bênção da ONU, a chamada Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), tenta se disfarçar como uma missão de paz, para “reconduzir o país ao caminho da democracia”. Mas toda essa linguagem pretensamente humanista não consegue ocultar o verdadeiro significado da operação militar: trata-se de uma ocupação colonial que mantém a ordem no Haiti sob as pontas das baionetas e obedece ao plano de recolonização da América Latina, aplicado pelo imperialismo ianque.

Desde que o corrupto governo de Jean Bertrand Aristide foi derrubado por uma intervenção dos soldados norte-americanos, o país caribenho transformou-se em um protetorado dos EUA. No lugar de Aristide, foi instituído um governo fantoche, cuja missão é reprimir a população e organizar novas eleições. Para se ter uma idéia do caráter fantoche do governo, o primeiro-ministro haitiano residia nos EUA e freqüentava os círculos políticos republicanos.

“Terceirização de tropas”
Como não pode sustentar mais uma ocupação militar, o presidente norte-americano resolveu “terceirizar os serviços militares”, apelando para os governos capachos da região. Lula não tardou em socorrê-lo e se dispôs a fazer o trabalho sujo.
Como o Haiti não conta com um exército nacional, as forças da ONU desempenham o papel de exército substituto, oferecendo o suporte militar necessário à polícia para reprimir a população e opositores do governo.

Desde que os primeiros coturnos dos soldados brasileiros pisaram no Haiti, surgiram inúmeras denúncias de violações contra os direitos humanos. No começo do ano, por exemplo, um relatório da ONG Centro de Justiça Global, ligada à universidade de Harvard, acusou os soldados brasileiros acobertam os crimes cometidos pela polícia haitiana.

Trocando em miúdos, o governo brasileiro cumpre no Haiti o papel de pistoleiro de aluguel dos EUA. O que as tropas brasileiras fazem no país caribenho é o mesmo trabalho sujo que os soldados norte-americanos fazem no Iraque. Coincidência ou não, o nome de uma das últimas incursões dos soldados brasileiros contra uma favela haitiana foi chamada de “Operação Bagdá”.

Mas o descontentamento da população contra a ocupação vem crescendo. Aos poucos, a missão vai afundando junto com o governo fantoche, que dá mostras de enormes dificuldades para preparar a farsa eleitoral.

A farsa eleitoral
Em outubro, serão realizadas as primeiras eleições no Haiti desde a ocupação militar. Como no Iraque e Afeganistão, Bush prepara no Caribe a velha receita de bolo das eleições que vem aplicando aos países ocupados militarmente pelo imperialismo. As eleições de outubro serão para escolher os governos dos municípios do país. Em novembro, serão promovidas eleições para presidente e para o Congresso.
Para tentar obter sucesso nas eleições e eleger um novo governo fantoche, foi imposto ao país um verdadeiro estado de sítio. Ou seja, as forças de repressão impõem o terror à população, prendem arbitrariamente opositores e preparam uma ampla fraude para legitimar a eleição. O próprio general Heleno Ribeiro Pereira, ex-comandante da Minustah, prepara o espírito dos futuros críticos das eleições: “Não serão eleições austríacas nem suíças. Esperamos dos julgadores a mesma tolerância demonstrada ao analisar pleitos efetuados, recentemente, em outras zonas ‘quentes’”.

Um dos episódios mais escandalosos foi a prisão de um dos principais opositores ao atual governo fantoche, Jean- Juste, do partido Lavalas de Aristide. Jean é o principal candidato da oposição, mas foi impedido de se inscrever porque está preso sem ao menos ter uma acusação formal contra ele. Os membros do Lavalas tentaram inscrevê-lo, mas foram impedidos pela Comissão Eleitoral que exigia “a presença física do candidato”. O episódio é semelhante ao que ocorreu na Palestina com Marwan Barghuti e Ahmad Saadat, que foram impedidos de se candidatar porque estavam nas prisões israelenses.

Mais uma vez a comparação com o Iraque é inevitável. Milhares de opositores estão encarcerados nas prisões do país, como os prisioneiros de Abu Ghraib, submetidos a todo tipo de violência e torturas.

Desânimo
Ao lado das arbitrariedades, encontra-se também o enorme ceticismo da população com as eleições. Uma prova disso é o baixo comparecimento da população aos postos de inscrição eleitoral. Muitos se inscreveram porque temem algum tipo de retaliação. “Fiz minha inscrição porque me disseram que a carteira de eleitor será necessária para os demais tramites administrativos, mas eu não tenho intenção de votar”, disse a jovem haitiana Julie Martin. Já Guy-Serge Pompilus, diretor de uma escola no Haiti, explica o porquê da falta de empolgação. “Assim como ocorreu no Iraque, as eleições vão ocorrer porque a comunidade internacional decidiu, mas elas não vão resolver nada”, disse.

Fora Lula do Haiti
A manutenção da ocupação no Haiti é uma questão estratégica para o imperialismo norte-americano. A localização na América Central, próximo a Cuba, permite aos EUA ter eficiência no controle da região. Existem várias lutas sociais em curso nos países da América Central contra os Tratados de Livre Comércio implementados pelos governos subservientes a Washington. Além disso, o Haiti poderá ser utilizado como base militar dos EUA para gerar instabilidades na Venezuela e em Cuba. Como se não bastasse, multinacionais estão instalando industrias maquiladoras sob o pretexto de ajudar na reconstrução do país. Essas empresas são conhecidas por submeterem seus trabalhadores a condições de trabalho semi-escravo.

Como Bush no Iraque, Lula afirma que a permanência das tropas brasileiras será fundamental para a “retomar a democracia no Haiti”. Mas como pode haver democracia em um país que sofre uma ocupação militar? Como pode existir democracia quando o direito de autodeterminação do povo haitiano é reprimido pela força das baionetas?
A degradante submissão do governo brasileiro a Bush deve ser denunciada por todos os ativistas dos movimentos sociais. É preciso denunciar essa ocupação colonial, a farsa eleitoral que se prepara e exigir a retirada imediata dos soldados brasileiros do Haiti.
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