O ministro Ricardo Salles e a madeira ilegal apreendida pela PF
Redação

Enquanto tenta ensaiar uma suavização do discurso pró-desmatamento e anti-ambiental nas vésperas da cúpula do clima convocado por Joe Biden, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por aqui, avança em sua política de destruição e terra arrasada, agora sem nem disfarçar.

A última de Salles e do governo Bolsonaro foi a exoneração do superintendente da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva. Seu crime: ter comandado a maior apreensão de madeira ilegal da história. A operação ocorreu em dezembro do ano passado na divisa do Amazonas com o Pará e confiscou mais de 43 mil toras, cerca de 65 mil árvores derrubadas num valor estimado em R$ 130 milhões. Grande parte disso muito provavelmente dirigida à exportação.

Em março, Salles viajou à região, mas não para apoiar a fiscalização e a repressão ao desmatamento, pelo contrário. Ele foi se reunir com grileiros e madeireiros e criticou a apreensão da PF. Atuando como advogados dos madeireiros, o ministro afirmou que a carga seria “legal”, apesar da ausência de documentação que comprovasse isso. Na ocasião, Saraiva respondeu dizendo que a “na Polícia Federal não vai passar a boiada”.

Depois da reunião do ministro com os desmatadores, foram apresentados documentos que supostamente comprovariam a legalidade das toras apreendidas. Salles ainda cobrou celeridade da PF com a análise. Mas a a verificação da documentação reafirmou se tratarem de madeira ilegal oriunda de terra grilada.

Pouco antes de ser demitido, Saraiva enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma denúncia contra o ministro e o senador Telmário Mota (PROS-RR) por advocacia administrativa, organização criminosa e por dificultar a fiscalização do poder público sobre o meio ambiente. À Globo News, o delegado explicou que “não é todo dia que o superintendente faz isso, mas também não é todo dia que um ministro de outra pasta promove a defesa de infratores ambientais“.

A notícia-crime enviada ao STF pelo delegado da PF motivou ainda que o Ministério Público pedisse ao Tribunal de Contas da União (TCU) o afastamento de Salles.

Ao invés de demitir Salles, porém, o governo Bolsonaro exonerou o delegado. Assim como trocou o comando da PF no Rio de Janeiro para proteger seu filho, Flávio Bolsonaro, investigado pelo órgão por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica nas eleições de 2014, 2016 e 2018. Agora, a intervenção se dá para proteger grileiros, madeireiros e mineradores.

Desmonte do IBAMA

Enquanto tenta parecer bonzinho no estrangeiro, mendigando 1 bilhão de dólares aos países imperialistas para reduzir o desmatamento da Amazônia, Ricardo Salles avança em sua estratégia de completa destruição ambiental, devastação da floresta e genocídio da população indígena. Ao mesmo tempo em que protege desmatadores, avança a perseguição contra servidores do Ibama e no desmonte do órgão.

Agora, acabou de baixar uma medida que, entre outros empecilhos, obriga que as autuações ambientais no Ibama devem ser “autorizadas” por um superior. Documento assinado por 27 servidores da linha de frente das fiscalizações alertam que a medida “tornou impraticáveis os procedimentos vinculados à fiscalização ambiental, provocando o risco de paralisia imediata das atividades”.

Não é por menos que a Amazônia bate recordes históricos de desmatamento. Assim como o projeto de Bolsonaro na pandemia é justamente o genocídio programado, atuando de forma deliberada para o alastramento do vírus, o projeto de Salles no meio ambiente é a destruição da floresta e o extermínio das populações indígenas em prol dos lucros dos grandes madeireiros, grileiros e mineradores.

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