Eram quatro horas da tarde do dia 19 de abril quando as milhares de pessoas começaram a se dirigir ao Parque da Carolina. Às sete da noite, já haviam mais de 50 mil pessoas, quando saiu a maior marcha da cidade em direção ao Palácio do Governo. No meio do caminho, foram se unindo dezenas de outras marchas menores que vinham das universidades, escolas, bairros. Haviam famílias, grupos culturais, sindicalistas, aposentados, crianças, jovens e pessoas de vários setores sociais.

Desta vez os setores populares dos bairros da periferia participaram masivamente. As passeatas vinham de todas as partes da cidade em direção ao centro colonial, que parecia um formigueiro, recebendo as colunas de formigas.

Até as 10 horas da noite não havia uma via do Centro e dos bairros vizinhos onde não houvessem protestos e concentrações. A palavra de ordem mais agitada era: FORA LUCIO, FORA LUCIO! Eram mais de 100 mil protestando em todas as ruas que dão acesso ao Palacio Carondelet. Um dia inesquecível para a história política do Ecuador. Nos últimos anos, manifestações maiores do que a desta noite só ocorreram na inssurreição de 21 de janeiro de 2000. Até às duas horas da madrugada haviam focos de protestos nas vias centrais perto do palacio governamental.

O governo Lucio colocou mais de oito mil soldados para tentar dispersar as manifestações. O Centro da cidade estava tomado por um ar contaminado de gás lacrimogênio e gás pimenta. Mais de 100 pessoas ficaram asfixiadas e houve duas mortes por inalação de gás, um jornalista chileno e uma criança de oito meses.

Os limites do movimento de massas e a crise de direção
O principal entrave do movimento de massas que se generalizou depois da paralisação do dia 13 de abril é que não há nenhuma organização social de trabalhadores, camponesa ou popular dirigindo o movimento. Depois da participação das direções do movimento no governo de Lucio, houve uma fragmentação e desmoralização dos principais partidos de esquerda e das grandes organizações como Conaie, Organizações Populares, Centrais Sindicais e Federações de Estudantes.

A principal referência das manifestações é uma rádio FM chamada La Luna, cujo diretor Paco Velazco, é o principal porta-voz e principal figura pública das massas. O povo de Quito está escutando em massa a Rádio todos os dias, todas as horas, para saber o que fazer nos protestos e para onde ir a cada dia da semana.

Assim o principal problema das mobilizações é que até agora não surgiu nenhum organismo de poder popular, operário ou camponês para organizar e dirigir a luta. Derivando para um caráter pequeno-burguês e democrático das ações e do programa da luta. Por isso estão se generalizando as atitudes pacifistas e do tipo “cidad㔠como método de luta. Assim, o que mais se escuta depois do FORA LUCIO é o hino nacional equatoriano e consignas vangloriando a cidade de Quito. Em vários momentos, percebe-se inclusive atitudes reacionárias para impedir a expressão de bandeiras (de cor vermelha ou preta) que não sejam as do Equador e a de Quito.

A crise de direção se expressa não somente na ausência de organizações de massas, mas também de grandes partidos revolucionários que possam dirigir ou influenciar nos rumos do movimento. Assim, já se percebe nas intervenções de várias personalidades as saídas que estão construindo para caso Lucio venha a cair. As principais são Assembléia Constituinte e antecipação das eleições nacionais.

Neste sentido o MOVIMENTO AL SOCIALISMO (MAS), partido da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI), está desenvolvendo um trabalho de mobilização nas universidades e propaganda nas marchas, chamando a CONSTRUÇÃO DAS ASSEMBLÉIAS POPULARES para reconstruir o PARLAMENTO DOS POVOS como alternativa de poder. Antecipar as eleições ou convocar uma Constituinte, nos marcos do regime burguês, significa ajudar a recuperar a autoridade do Congresso, da Justiça e da Presidência, enfim, do do Estado burguês, ora totalmente paralizados e desmoralizados diante das massas.