O presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, acaba de partir para o exílio. Enquanto a confusão se espalha pelas ruas, o presidente do Conselho de Relações Exteriores dos EUA, Richard Hass, declara: “Temos que aceitar que os haitianos simplesmente não são capazes de governar a si próprios”. A declaração e os episódios após a queda de Aristide demonstram que o imperialismo planeja mais uma intervenção militar.

Uma história de lutas e intervenções
Há exatos 200 anos, em 1804, o Haiti tornava-se uma nação independente, depois de uma vigorosa revolução protagonizada pelos negros escravizados, que conquistaram a liberdade e impuseram uma fragorosa derrota aos colonizadores franceses.

De lá para cá, a história do país foi uma sucessão de lutas e intervenções imperialistas, muitas vezes apoiadas pela corrupta burguesia local. Apenas para localizar a história de Aristide, é preciso lembrar que entre 1957 e 1990, o Haiti foi governado pela sangrenta ditadura dos Duvalier (Papa e Baby “Doc”). Aristide era um sacerdote católico vinculado à Teologia da Liberação que se tornou importante figura na luta contra estes ditadores e que, num complexo processo de idas e vindas, tornou-se presidente em 2000, depois de ter sido reconduzido ao país por 20 mil marines norte-americanos e ter “ganho” uma eleição com 92% dos votos.

O governo Aristide, as oposições e os rebeldes
Os compromissos de Aristide (foto) com o FMI e os EUA fizeram com que ele governasse contra aqueles que o haviam seguido. Após três anos, sem resolver nenhum problema de fundo, Aristide começou a se utilizar amplamente de forças repressivas para controlar a situação, gerando enormes protestos e o crescimento de uma oposição “civil”, mas também alimentando o surgimento de “forças rebeldes” compostas por ex-militares. Tanto no campo “civil” quanto militar há setores identificados com o regime anterior ou relacionados à CIA e ao imperialismo.
Com o acirramento da crise política e econômica nos últimos meses, o imperialismo norte-americano começou a estimular uma negociação entre Aristide e a oposição “civil”, propondo a aceitação de um primeiro-ministro ou ainda a antecipação de eleições. Mas, na medida em que os rebeldes armados iam avançando, o imperialismo norte-americano, com o francês, começou a defender a saída do presidente como uma forma de “impedir um banho de sangue”. Argumento reforçado pelo próprio Aristide, que também clamava por uma intervenção militar internacional para “pacificar” o país.

Imperialismo quer transformar o Haiti em uma colônia
A atual intervenção do imperialismo francês e americano — com o vergonhoso apoio do governo Lula, que não só faz parte de uma farsa chamada “Amigos do Haiti” como também votou a favor da intervenção, no Conselho de Segurança da ONU — não tem nada a ver com preocupações humanitárias.

O governo fantoche do Haiti será totalmente submisso ao imperialismo. Exemplar neste sentido foi a cerimônia de posse do presidente interino, o presidente da Suprema Corte de Justiça Boniface Alexandre. Escoltado por soldados norte-americanos ele prestou juramento na presença dos embaixadores dos EUA e da França e para mostrar a quem deve obediência, telefonou para pedir uma intervenção da ONU na presença de ambos.

Este governo irá negociar com os paramilitares que controlam boa parte do país e não resolverá a miséria porque se ajustará aos planos neoliberais do FMI e de Washington. Também reprimirá qualquer protesto e atacará liberdades democráticas e organizações populares, como ocorre no Afeganistão, onde o imperialismo se apóia nos bandos desses “senhores da guerra“ para garantir a “ordem”.

Cabe destacar a total colaboração e coordenação estreita dos imperialismos francês e norte-americano, superando as diferenças abertas na invasão do Iraque, comprovando como, em última análise, seus interesses coloniais e contra as massas se unem quando necessário e possível e como utilizam a ONU para legitimar mais uma vez uma intervenção militar em nome da “paz“. Por isso, devemos denunciar a intervenção militar franco-norte-americana no Haiti e exigir sua retirada imediata, como também denunciar todo e qualquer governo que apóie e participe desta intervenção; como, lamentavelmente, é o caso do governo Lula, no Brasil.
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