Entre 3 e 5 de novembro, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, participará da IV Cúpula das Américas da Organização dos Estados Americanos, em Mar del Plata, na Argentina. Haverá uma mobilização grande na Argentina contra Bush e até o ex-jogador Maradona já se comprometeu a estar presente.

Logo depois, Bush fará uma visita ao Brasil, a primeira desde que foi eleito presidente dos EUA, marcada para os dias 5 e 6 de novembro. Na verdade, o “senhor da guerra” vai passar em revista o governo brasileiro e agradecer à Lula por aplicar, com tanto esforço, a cartilha ditada pelo imperialismo. Nestas páginas, pretendemos mostrar como o imperialismo está transformando o país em uma colônia, sem esquecer o papel servil que Lula cumpre para o sucesso desse projeto. Em várias capitais, a Conlutas estará organizando protestos contra a visita de Bush. É preciso sair às ruas e dizer Fora Lula! Fora Bush!

Economia: Tá tudo dominado!

A implementação do plano neoliberal no Brasil no início dos anos 90 provocou uma verdadeira invasão das multinacionais. Por meio de aquisições, privatizações e fusões, as multinacionais têm dominado vários setores da economia. Em 1998, as companhias controladas pelo capital externo contabilizaram mais da metade do faturamento líquido de todas as empresas instaladas no Brasil. Em 1980, eram 28%.

Em 1999, o capital estrangeiro esteve presente em 69,5% dos processos de fusão e aquisição registrados no Brasil, segundo estudo da consultoria Price Waterhouse. Em 1990, início da abertura econômica, 56 empresas brasileiras associaram-se ou foram compradas por grupos estrangeiros. Em 2001, esse número chegou a 341. Com o neoliberalismo, áreas inteiras da indústria desapareceram – as de componentes eletrônicos, farmacêuticos e químicos. Outras – autopeças, telecomunicações – passaram ao controle estrangeiro e viraram, em grande parte, importadoras e distribuidoras de produtos da matriz.

As fusões entre empresas seguem de vento em popa. No ano passado, a Ambev – maior cervejaria do país – fez uma fusão com a belga Interbrew e passou a ser controlada por ela. Agora, a própria empresa do vice-presidente José Alencar, a Coteminas (tecidos) vai se fundir com a norte-americana Springs Global S.A.

O reflexo da dominação do capital estrangeiro fica claro quando vemos que das 10 empresas que obtiveram os maiores lucros líquidos no país, 5 são multinacionais.

Bom para o Brasil?
Muitos economistas dizem que a entrada de capital estrangeiro é bom para o Brasil e que, portanto, devemos ter políticas para não afugentá-lo. Nada mais falso. Em primeiro lugar, as multinacionais vêm para o país atraídas pelos baixos salários pagos aos trabalhadores e pela crescente precarização do trabalho. O lucro obtido por essas empresas não fica no Brasil, vai, em forma de remessas, para as matrizes localizadas nos grandes centros capitalistas. De acordo com o Banco Central, somente até agosto deste ano, US$ 6,79 bilhões de lucros e dividendos das multinacionais foram enviados para fora do país.

A sangria desatada da dívida

Talvez a mais forte expressão da dominação política-econômica sobre o país seja a dívida. Segundo os cálculos do governo, o país vai pagar R$ 153,7 bilhões de juros até o final do ano. Até agosto, foram pagos R$ 105,7 bilhões de juros, o equivalente a 7,5% do conjunto do Produto Interno Bruto (PIB) – soma das riquezas produzidas no país. Embora o governo tenha pago toda essa quantia de juros, a dívida do país não diminui. Como no ano passado o valor total da dívida pública (R$ 1,012 trilhão) ainda representa 51,7 % do PIB. Ou seja, o pagamento da dívida é uma verdadeira extorsão. Já pagamos de juros muito mais do o valor real da dívida e mesmo assim ela não diminui.

Conseqüências do pagamento da dívida sobre os trabalhadores
Quais as conseqüências disto? São as piores possíveis. Todo o dinheiro destinado para alimentar os gordos cofres dos banqueiros é retirado, na forma do chamado superávit primário, das verbas para a saúde, educação, reforma agrária. É retirado dos salários do funcionalismo público para garantir o superávit e dos salários dos trabalhadores privados para pagar as dívidas das empresas.

Isso explica porque os trabalhadores brasileiros continuam com baixos salários e porque os serviços públicos estão sucateados.

Agora, se somarmos o conjunto das verbas destinadas pelo governo para saúde, educação, transporte, reforma agrária, veremos que isso representa pouco mais de 16,5% de tudo que já foi pago em juros. Isso sem falar que nem mesmo as previsões orçamentárias são cumpridas pelo governo.

A dívida é uma das grandes amarras para a melhoria de vida do povo. Romper com ela é única alternativa que os trabalhadores têm para alcançar condições de vida dignas.

O que se pode fazer com o dinheiro da dívida?

Para tomar o exemplo da saúde, o Ministério começou o ano com R$ 2,6 bilhões para investir. Mas só R$ 146 milhões foram gastos até 30 de setembro.

Para termos uma idéia do que isso significa, podemos calcular o que se vai pagar da dívida no ano (R$ 153,7 bilhões), e ver quanto se paga por dia dessa dívida (R$ 421 milhões). Os gastos até o fim de setembro na saúde correspondem a pouco mais de um terço do que se paga por dia da dívida aos banqueiros.

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