Tony Snow, porta-voz da Casa Branca, confirmou que o presidente dos EUA, George W. Bush, visitará o Brasil nos dias 8 e 9 de março. Diversos setores dos movimentos sociais definiram um calendário comum de protestos pelo “Fora Bush”. No dia 8, em todo o país, serão realizados atos pelo Dia Internacional da Mulher, em conjunto com os protestos contra o imperialismo norte-americano. Mais uma vez, Lula vai estender o tapete vermelho para o senhor da guerra. Vamos às ruas protestar contra Bush e sua guerra colonial e, também, exigir a retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti, que fazem o trabalho sujo para o imperialismo.

Uma crise do imperialismo
A visita ocorre num cenário de crises e incertezas do imperialismo norte-americano. No campo da economia, os EUA atravessam um período delicado. Vários analistas e economistas alertam para os sinais de desaceleração na economia da mais poderosa nação capitalista. Um dos sinais de crise é o aumento dos chamados “déficits gêmeos” – comercial e fiscal.

Em 2006, o déficit na balança comercial dos EUA (o país importa mais do que exporta) ficou em US$ 763,6 bilhões, um aumento de 6,5% em relação ao ano passado, segundo o Departamento de Comércio. Já o déficit fiscal atingiu US$ 247,7 bilhões. Isso aumenta o caráter parasitário da economia dos EUA, que hoje dependem do saque das riquezas do resto do mundo.

Outro indício da desaceleração econômica são as demissões anunciadas por grandes empresas do país, como GE, General Motors, etc. Por outro lado, o plano do imperialismo de utilizar a indústria armamentista e controlar diretamente as reservas de petróleo para promover o crescimento vem enfrentando sérios problemas com a guerra no Oriente Médio.

Se correr o bicho pega…
A situação dos EUA é muito pior quando se olha para o Iraque. Embora tenham gastado US$ 2,2 trilhões, a guerra mergulhou as tropas de Bush em um pântano. A crescente ação da resistência iraquiana contra a ocupação colonial coloca no horizonte a possibilidade de uma derrota militar do imperialismo. As últimas informações mostram que a resistência está se fortalecendo, mesmo com os bárbaros ataques desferidos pelos ocupantes. Mostra disso é que os EUA vêm perdendo helicópteros ao ritmo de um por semana, derrubados pelas armas antiaéreas da resistência.

O desgaste de Bush diante da população norte-americana não pára. Nas eleições de novembro, seu partido perdeu ao mesmo tempo o controle do Senado e da Câmara Federal. O declínio da popularidade do presidente aumenta ainda mais perante a avalanche de denúncias de corrupção. No último dia 16, um importante auditor do Pentágono disse ao Congresso que foram gastos US$ 10 bilhões em contratos da Defesa para reconstrução do Iraque e apoio às tropas. Tais recursos não foram documentados, incluindo US$ 2,7 bilhões em contratos com a petroleira Halliburton, que já foi presidida pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney.

… se ficar o bicho come
Para piorar, o premiê Tony Blair anunciou que vai retirar parte das tropas britânicas do Iraque até o final de 2007. Aliado incondicional de Bush, Blair não suportou os custos políticos causados pela guerra.

A situação é critica para o imperialismo – por um lado, não pode retirar as tropas do Iraque, exceto se admitir a derrota; por outro, não se sabe como mantê-las. Atualmente há uma divisão da burguesia ianque sobre como conduzir a guerra. Bush reage com um aprofundamento de seus planos de agressão, anunciando o envio de mais 21.500 soldados para “pacificar” Bagdá. Ao mesmo tempo, faz uma enorme chantagem sobre o Irã, ameaçando bombardear o país, caso não aceite se subordinar às ordens imperiais.

Restabelecer a influência sobre a América Latina
A crise do imperialismo está diretamente relacionada ao crescimento das lutas dos povos da América Latina. A visita de Bush é parte de uma turnê do presidente norte-americano pelo continente, que inclui também o Uruguai, a Colômbia, a Guatemala e o México – todos os governos considerados “parceiros” da Casa Branca.

A visita de Bush ao Brasil não tem nada a ver com o biocombustível, como querem fazer crer a Casa Branca e o governo brasileiro. O que estará em pauta é a atual situação política latino-americana, marcada por grandes greves, mobilizações de rua e insurreições que derrubaram governos no início deste século.

Além de proporcionarem um grande avanço na consciência antiimperialista, essas lutas continuam a crescer. No ano passado elas atingiram os estáveis governos do Chile e México. Agora estão se ampliando sobre Colômbia e Paraguai.

Como expressão distor¬cida do avanço da consciência antiimperialista, foram eleitos vários governos de frente popular (formados por organizações do movimento operário e representantes da burguesia) e nacionalistas burgueses. Mas estes novos governos “de esquerda” não propõem nenhuma ruptura. Buscam apenas negociar seus interesses e melhores condições com o imperialismo. Uma boa prova disso é que nenhum deles, nem mesmo os de Hugo Chávez ou de Evo Morales, rompeu com o pagamento da dívida externa. Recentemente a radicalização das massas começou a impulsionar uma onda de nacionalizações, na contramão da ideologia privatista da década passada. Mas os governos da Ve¬ne¬zuela e Bolívia aplicaram um critério burguês às nacionalizações, recusando-se a expropriar as multinacionais sem inde¬nizá-las.

Bush vê o “quintal” latino-americano com preocupação. Para restabelecer a influência norte-americana na região, nomeou Thomas Shannon como secretário adjunto responsável pela América Latina. De perfil negociador, o novo secretário declarou que Washington “deixou a ideologia de lado” e não pretende “evitar os erros” cometidos pela política externa norte-americana. Para ele, 2007 “será o ano de compromissos dos EUA com a América Latina”.

‘Íntimos’
Para concretizar esse plano, um dos objetivos centrais da visita de Bush é fortalecer suas relações com Lula, para que o governo brasileiro contenha as lutas no continente.

Os EUA sabem que Lula é um ombro amigo e pode servir de parceiro na defesa de seus interesses. Como disse Celso Amorim em entrevista à revista Carta Capital do dia 25: “Os Estados Unidos nunca nos valorizaram tanto. Nosso relacionamento hoje é intimo”.

O fato de ser o presidente do maior país do continente faz com que Lula aja como um extintor de incêndio, controlando as mobilizações antiim-perialistas que sacodem a região.

O presidente brasileiro já provou que pode fazer isso. Atuou como bombeiro nas crises revolucionárias em que as massas derrubaram os governos da Bolívia (2003 e 2005) e do Equador (2005), declarando que era necessário preservar as “instituições democráticas”. Agora conduz o país na liderança da ocupação do Haiti, onde, a serviço de Bush, cerca de 1.200 soldados fazem o serviço sujo para o imperialismo. A “tercei¬ri¬zação” das tropas brasileiras no Haiti prova que até militarmente o governo brasileiro se coloca à disposição dos interesses imperiais.
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