O governo do assassino Al Assad continua a matar o povo sírio, agora em cidades como Deir Ezzor (no lestec da Síria) e Hula, seguindo com os crimes de guerra que cometeram em Hama.

Franco atiradores estão posicionados nos telhados de vários edifícios e disparam contra qualquer um que se movimente. Membros da Shabbiha, gangues de bandidos e contrabandistas, atuam como uma milícia atacando e provocando a população. Realizando uma campanha de terra arrasada, queimando lavouras, saqueando casas e atirando aleatoriamente. São culpados de muitas mortes.

Além disso, detenções em massa ocorreram em todo o país, e o medo cresce nos subúrbios de Damasco.

ASSAD NÃO É MAIS O GUARDIÃO DO IMPERIALISMO
Na Síria há um setor da população que ainda apóia o regime de Assad, que tem a esperança de continuar contando com esta “maioria silenciosa”.

Nomeadamente são altos empregados estatais, comerciantes e empresários alawites e cristãos, cujas benesses provêm da proximidade com o Estado e se amedrontam com o levante que consideram islâmico sunita. Eles compõem a maior parte da oficialidade.
No entanto, a pretensão do regime de garantir a estabilidade vai por terra quando é questionada diariamente pelas manifestações e por suas próprias ações que, apesar dos apelos ao diálogo, são de uma repressão brutal. A crise política leva a crise econômica atacando o conjunto da sociedade. E com isso o regime de Assad vai perdendo seus últimos aliados.

O imperialismo está muito preocupado com o curso da revolução árabe e a insurreição síria, a qual Assad não consegue sufocá-la em sangue.

Começa achar que os Assad não são mais os “Leões de Damasco”, e que é necessário buscar outra saída. O problema é que a queda de Assad e a tomada do poder por forças independentes da oposição podem impulsionar a revolução árabe em toda região.
Além disso, a oposição que tem uma composição heterogênea não é de confiança para o imperialismo. Tem desde grupos pró-imperialista (denunciados recentemente pelos WikiLeaks, por terem recebido, entre 2005 e 2009, US$6 milhões de dólares dos Estados Unidos; exilados em Londres chamados de “Movimento para a Justiça e Desenvolvimento”; oficiais desertores, como o coronel Riyad Musa al-Asad; organizações como Irmandade Muçulmana, com fortes ligações com o Hamas palestino e durante reprimida por décadas pelo regime dos Assad; e os recém surgidos Comitês de Coordenação Local, (LCCS, na sigla em inglês).

Isso aumenta os receios do imperialismo para uma saída controlada e mais ainda sobre a possibilidade de uma intervenção direta. Por outro lado, a surpreendente violência do regime sírio contra a oposição é tal que até o Secretário Geral da Liga Árabe Nabil al-Arabi pediu o fim imediato desta no país, manifestando sua “crescente preocupação” após as operações militares em Hama, Deir Ezzor e diversas regiões da Síria.

Um grupo de congressistas dos Estados Unidos enviaram, no último dia 6 de agosto, uma carta ao presidente Barack Obama solicitando um “aperto” ao regime de Al Assad.
Hilary Clinton foi obrigada a admitir que Assad é o responsável por duas mil mortes na Síria, e que acreditava que ele perdeu a legitimidade.
Porém, mesmo assim, o imperialismo tem cautela sobre a saída de Assad, porque teme o risco de caos que se estabeleceria no país, a possibilidade de guerra civil e o vácuo de poder que causaria no Oriente Médio, além dos perigos que a crise poderia para Israel.

Por isso, apesar de ameaçar com sanções o imperialismo norte-americano não retira seu embaixador do país, nem pressiona para a uma ação internacional contra Assad, incluindo seu indiciamento pelo Tribunal Penal Internacional; ou ainda não busca convencer a Liga Árabe, que expulsou a Líbia a fazer o mesmo com a Síria.
Sempre o principal objetivo é evitar que o conflito seja estendido por toda região.

EXÉRCITO ISRAELENSE SE PREPARA PARA CONFRONTOS
A preocupação é tal que o exército de Israel prepara-se para um possível confronto armado na fronteira com a Síria, em setembro.

Isso por que, no próximo mês, pode ser aceita a solicitação dos palestinos à ONU de reconhecimento de seu Estado como Estado independente. Com isso, Israel acredita que centenas de palestinos da Síria tentarão fugir da repressão de Assad e tentarão entrar no território ocupado das Colinas de Golã.

Basta lembra que em 15 de maio, centenas de palestinos marcharam em Ramallah para celebrar o Dia da Nakba, no qual lembram o exílio e a perda de territórios palestinos com a criação do Estado de Israel, em 1948. Foram do túmulo de Yasser Arafat, na Muqata de Ramallah, até a praça de Al Manara, onde realizaram os atos da 65ª Nakba.

E nas Colinas de Golã, palestinos e simpatizantes atravessaram a fronteira com a Síria para protestar contra Israel. Como resposta, as forças de segurança israelenses atiraram nos manifestantes deixando quatro mortos e entre dez e 20 feridos.
Além disso, pelo
menos 15 palestinos foram feridos por disparos das Forças Armadas israelenses no norte da Faixa de Gaza, quando milhares faziam uma manifestação. As vítimas são, em sua maioria, menores de idade, feridos por estilhaços dos disparos de tanques israelenses contra a cidade palestina de Beit Lahiya.

PALESTINOS SE SENTEM UNIDOS A LEVANTES NO ORIENTE MÉDIO
No campo de refugiados palestinos de Shatila, em Beirute, que ainda tem marcas dos massacres que lhe foram perpetrados, o apoio aos levantes árabes é muito grande.
Eles entendem que o crescimento do ativismo no Egito, Líbano, Tunísia e Síria oferece uma refundação da política árabe, pois os velhos líderes da política árabe, autoritários e corruptos, inflamavam cinicamente as diferenças com Israel somente para desviar a atenção dos seus próprios erros e da corrupção, tentando angariar algum apoio, sem de fato fazer nada contra o Estado sionista.
A causa palestina serve para muitos governos árabes para ter apó
io das populações, mas não se reflete efetivamente no tratamento dado aos palestinos nesses mesmos países árabes, particularmente no Líbano e Síria, onde os refugiados carecem de direitos civis básicos.

As atuais mobilizações e revoltas aumentam a possibilidade de uma mudança significativa na política externa destes governos que, tacitamente, como mínimo, capitulavam aos Estados Unidos e a Israel.

Na Tunísia, os ativistas insistiram em manter um artigo na constituição que proíbe a normalização das relações com Israel, tornando assim o apoio aos palestinos uma política de Estado.

No Egito, manifestantes exigem que embarcações possam partir dos portos do país para romper com o bloqueio à Gaza. Na Praça Tahrir, a fúria contra os EUA e Israel era a mesma que contra os corruptos líderes egípcios.
As mobilizações impregnam tanto essa questão que vários embaixadores na ONU evocam o reconhecimento do Estado palestino como membro pleno, evocando as revoltas árabes.

CONTRA A INTERVENÇÃO IMPERIALISTA
De qualquer maneira, a tarefa número um de qualquer revolucionário e das organizações políticas revolucionárias é a de se opor a toda forma de intervenção imperialista na Síria. Essa é a lição que os povos árabes aprenderam com o Iraque, o Afeganistão e recentemente na Líbia.

Nove anos de ocupação do Iraque mataram mais de um milhão de iraquianos, centenas de feridos, milhares de pessoas refugiadas e destruiu a infra-estrutura do país. Dez anos de ocupação do Afeganistão trouxeram a matança sistemática de civis e um governo fantoche, com um país dividido entre os senhores da guerra.

A intervenção imperialista na Síria não ajudará para nada o processo revolucionário. Ao contrário, servirá para detê-lo ou diminuí-lo.

Como disse um dos dirigentes da Oposição Síria Al-Farhan Matar, que em 22 de junho se demitiu da TV estatal Síria e do sindicato dos escritores árabes em razão da repressão: “Nós não queremos a interferência de Otan nem da Turquia, nem mesmo dos países árabes – nós queremos que a revolução seja concluída pelas mãos da Síria, além disso, a intervenção da Otan poderia levar a uma maior simpatia por Al Assad, pois ai a Síria seria um pais ocupado. Estamos contando com a deserção do exército da Síria e da paciência do povo sírio, assim como a pressão através de greves e protestos realizados pelo povo, espera-se que o exército irá juntar-se a luta do povo contra o regime. Mas se uma força estrangeira entra no país o exército vai lutar contra ela”.

OS COMITES DE COORDENAÇÃO LOCAL DA SIRIA
O povo sírio, no calor de sua luta, está formando suas organizações políticas independentes, entre elas as Comissões de Coordenação Local da Síria (LCCS), redes de organizadores dos protestos antigovernamental, que reúne jovens e manifestantes, usadas para espalhar documentos e protestos por toda a Síria.
Os Comitês Locais surgiram no início da revolta em cidades e vilas. Assumiram a responsabilidade de reunião, planejamento e organização de eventos dentro de suas próprias comunidades.

Ao longo do tempo, os comitês têm buscado uma maior coordenação entre si, a fim de sincronizar suas atividades, e posições políticas.

Os comitês existem nos principais centros de agitação, como Deraa (onde a revolta começou), Tel Kalakh, Homs, Talbiseh e Rastan, e Jisr ash-Shugur cidades predominantemente sunitas e próximas às fronteiras onde o contrabando de armas é mais acessível. Foram eles que a construíram barreiras nas entradas da cidade de Hama para tentar bloquear o avanço dos veículos e soldados.

Os LCCS emitiram um comunicado rejeitando qualquer “diálogo nacional” com o governo, pois o mesmo ocorre enquanto as forças militares continuam bombardeando muitas cidades e matando e detendo manifestantes. Denunciam que essa política é uma maneira de ganhar tempo e dar uma satisfação ao imperialismo internacional.

Para qualquer negociação exigem o fim do cerco as cidades, as prisões arbitrárias, das milícias e Shabiha, e a permissão da mídia árabe e internacional de entrar na Síria.

Os Comitês Locais de Coordenação na Síria podem ser a base para a continuidade da organização da revolução.