Há quase seis anos, o governo Lula mantém soldados do Exército Brasileiro na vergonhosa ocupação do Haiti. Com a bênção da ONU, as tropas brasileiras lideram a chamada Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), que tenta se disfarçar como uma missão de paz. No entanto, o verdadeiro significado da ocupação colonial é manter a ordem no Haiti sob as pontas das baionetas, permitindo a aplicação de um plano de recolonização no país.

Trabalho sujo
Desde que os primeiros coturnos dos soldados brasileiros pisaram no Haiti, surgiram inúmeras denúncias de violações contra os direitos humanos. Um relatório da ONG Centro de Justiça Global, ligada à Universidade de Harvard, acusou os soldados brasileiros de acobertar crimes cometidos pela polícia haitiana.

Trocando em miúdos, o que as tropas brasileiras fazem no país caribenho é o mesmo trabalho sujo que os soldados norte-americanos fazem no Iraque.

O trágico terremoto que devastou o país em janeiro deste ano serviu como pretexto para reforçar a ocupação militar no país, sob a desculpa de “reconstrui-lo”. Os EUA enviaram milhares de marines para o Haiti. Passaram por cima das tropas brasileiras para comandar diretamente a ocupação. O governo Lula, por sua vez, dobrou o número de tropas no país. Um contraste enorme diante do escasso número de médicos, remédios e alimentos enviados para a “reconstrução’.

Colonização
O que está em curso é a implementação de um plano econômico no Haiti, que inclui a criação de zonas francas no país, com multinacionais produzindo para o mercado norte-americano. Para isso, foi aplicado um acordo de livre comércio por meio da lei Hope (Haitian Opportunity for Economic Enhancement), aprovada pelo Congresso dos EUA.
A lei abre todas as barreiras para que os dois países possam realizar intercâmbios comerciais livres sem pagar taxas alfandegárias, ou mesmo qualquer taxa que o Estado possa cobrar sobre as mercadorias ou que trave sua livre circulação.

As mercadorias indicadas por essa lei se referem aos produtos têxteis provenientes das chamadas maquiladoras. Assim, as multinacionais se aproveitam do salário miserável pago aos trabalhadores do Haiti, que garante uma taxa de lucro maior do que na China. É por essa razão que se explica a presença do ex-presidente americano Bill Clinton como “enviado especial da ONU para o Haiti”.

Também explica o olho gordo dos empresários brasileiros, especialmente da indústria têxtil, liderados pelo vice-presidente José Alencar, interessados na exploração da mão de obra haitiana.

Por outro lado, a manutenção da ocupação no Haiti é uma questão estratégica para o imperialismo norte-americano. A localização na América Central permite aos EUA ter eficiência no controle da região. Atualmente, existem várias lutas sociais em curso nos países da América Central contra os tratados de livre comércio implementados pelos governos subservientes a Washington.

As tropas brasileiras estão no Haiti para garantir a aplicação desse plano econômico definido pelo governo dos EUA e implementado pelo governo de René Préval.

Mas o descontentamento da população com a ocupação vem crescendo. No ano passado, os operários têxteis haitianos realizaram uma greve contra esse plano. A paralisação terminou derrotada pela repressão violenta das tropas da Minustah, com saldo de duas mortes. Trabalhadores e estudantes que também reivindicavam aumento no salário mínimo foram duramente reprimidos. Muitos foram presos e assassinados, como o professor Jean Anil, ativista que era referência nas lutas pelo 1º de Maio independente e pelo reajuste do salário mínimo.

Pela retirada imediata das tropas!
O governo Lula afirma que a permanência das tropas brasileiras é fundamental para a “retomar a democracia no Haiti”. Dilma Rousseff e José Serra vão repetir o mesmo discurso na campanha. Mas como pode haver democracia em um país que sofre uma ocupação militar? Como pode existir democracia quando o direito de autodeterminação do povo haitiano é reprimido pela força das baionetas?

A degradante submissão do governo brasileiro ao imperialismo deve acabar. O PSTU defende a imediata retirada das tropas do Haiti. Um governo dos trabalhadores também deve exigir a retirada de todos os soldados da Minustah e dos EUA. Também propomos organizar uma grande solidariedade concreta e a luta contra o inimigo comum.

Os haitianos não querem ver os brasileiros reforçando a opressão. Querem seus irmãos de alma na mesma trincheira. Em defesa da soberania e da dignidade de todos os trabalhadores. todos os trabalhadores.
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