Leia abaixo os relatos de militantes do PSTU de Florianópolis que participaram da jornada de lutas contra os aumentos das passagensSebastião Amaral, de Florianópolis (SC)

No dia 28 de maio, o prefeito Dário Berger (PSDB) concedeu um reajuste médio de 8,8% nas tarifas do ônibus de Florianópolis. Assim como em 2004, isso detonou uma série de mobilizações que, por três semanas, resistiram e se enfrentaram com a forte repressão policial.

O dia “D” foi no último grande ato, na quinta, dia 16 de junho. Os já cambaleantes governos do estado e do município mandaram às ruas seus soldados para caçarem cerca de mil manifestantes que fechavam as duas principais saídas da ponte que dá aceso à ilha, em pleno horário de pico, às 18h30. O ato provocou um gigantesco engarrafamento por cerca de uma hora, dando uma resposta ao prefeito Dário Berger que, dias antes, dissera que em seu mandato “ninguém fechava a ponte”. A manifestação foi dispersada por uma polícia descontrolada, que usava bombas de efeito moral como se fossem rojões e acertou balas de borracha até em pessoas que passavam pelo local. Os policiais não perdoaram nem a universidade estadual (UDESC), para onde lançaram gás de pimenta ao ver manifestantes entrarem no histórico prédio da Faculdade de Educação.

A resposta justa dos manifestantes diante da repressão foi a radicalização, resultando na destruição de várias ruas do Centro, policiais e manifestantes feridos e 16 presos ao final do protesto.

A prova da grande vitória conseguida veio quando os vereadores, que há uma semana não conseguiam reunir-se devido às mobilizações, aprovaram a revogação do decreto que concedia o aumento. O “mensalão” desta vez veio através do subsídio dado às empresas pela prefeitura, em troca da redução das tarifas. Até a segunda, dia 20, o prefeito ainda não tinha dado seu parecer sobre o projeto.

“Ilha da Magia! Ela é do povo, não é da burguesia!”
Como na Bolívia, onde a juventude e os trabalhadores vão às ruas para lutar contra os planos de arrocho do capitalismo, não só a juventude, mas também os trabalhadores de Florianópolis e região resolveram dar um basta à exploração dos transportes imposto pela burguesia e fizeram uma verdadeira revolta durante quase um mês, com atos praticamente diários e radicalização perante a repressão policial.

O desgaste desta democracia dos ricos ficou evidente no repudio à Câmara dos Vereadores, apedrejada e quase incendiada. Raros foram os prédios públicos não apedrejados. O rechaço à política econômica do imperialismo, aplicada no país por Lula, teve sua expressão no ataque aos bancos: só os que tinham vidro à prova de balas ficaram inteiros após o último dia de manifestação, no Centro.

As manifestações fazem parte da ruptura nacional com o governo e com o PT, o qual mostra hoje que não é igual ao governo de FHC somente na aplicação dos projetos neoliberais, mas também nas práticas de propina e roubo. Isso deixa claro que o Estado não passa de um balcão de negócios para os ricos e poderosos, pondo fim na ilusão de que com Lula teríamos um governo para os trabalhadores. Este processo deixa cada vez mais claro qual o papel deste Estado capitalista um balcão de negócios, não importando quem o governe. Ele nunca estará ao lado dos trabalhadores e da juventude. Lutar é a nossa única saída.

“Vem! Vem! Vem pra luta vem!”
O grito mais ouvido nas ruas da capital catarinense era o chamado à luta. Com ele vinham centenas e até milhares de trabalhadores e estudantes que não acreditam mais nos governantes e suas instituições. O medo da unificação das lutas fez os patrões atenderem às reivindicações das categorias que ameaçaram entrar em greve (servidores municipais, motoristas e cobradores), bastando a esses somente um dia de paralisação.

Conlutas e Conlute, nas lutas até a vitória!

por Gilmar Salgado, de Florianópolis (SC)

Desde a primeira semana de luta, a Conlutas e a Conlute estiveram apoiando as manifestações e ajudando na construção das mobilizações através da participação no comitê de resistência ao aumento da passagem e na mobilização das categorias, na militância diária nos atos.

Os atos em Floripa foram uma aula para aqueles que acreditavam na CUT ou na UNE e na UBES como instrumentos de luta. Estas participaram na hora de aparecer para a TV ou para negociar com a prefeitura, sem a autorização do movimento. Quando a repressão policial chegou ao seu auge, foram os primeiros a defenderem a prisão dos “vândalos” e o pacifismo que se traduzia em deixar os manifestantes serem presos e espancados pela polícia. Tentaram a todo instante transformar as lutas em palanques para os seus parlamentares, domesticar a luta e transformá-la em uma CPI, semeando a esperança de que este conflito fosse resolvido pelos vereadores ou pela “justiça”.

Mostrando claro que temos que construir uma alternativa àqueles que tentam domesticar as lutas, colocando-se ao lado dos exploradores e corruptos, e a Conlutas e a Conlute nasceram deste processo de rompimento com os novos pelegos, para tentar construir e fortalecer as lutas dos estudantes e trabalhadores, contra o ataque neoliberal do capitalismo.

“Chega de patrão! O que eu quero é municipalização!”
Não podemos parar! Agora temos que por fim à máfia dos transportes, através da estatização dos transportes, sob controle dos trabalhadores e juventude. Só assim poderemos garantir o fim dos aumentos abusivos e o passe livre para os estudantes e desempregados. É hora de organizarmos um grande plebiscito que reúna as entidades sindicais, estudantis e o restante da população em comitês em seus bairros, escola, local de trabalho, para conseguirmos a municipalização dos transportes.

Ditadura policial

por Fábio Bezerra, de Florianópolis (SC)

Esse foi um dos marcos das manifestações, diferente das do ano passado. Por uma disputa eleitoral, o governador Luiz Henrique (PMDB) em 2004 falou que sua polícia não batia em estudante. Tendo alcançado o objetivo de tirar os Amin da prefeitura, ele não poupou esforços para acabar com as manifestações à força. São muitos os casos de abusos policiais, prisões ilegais e torturas. A polícia não poupou esforços e não tinha limites na hora de reprimir os protestos.

O menor J. nos contou que foi levado para uma delegacia com outros menores e foram todos espancados, ao ponto de o delegado se recusar a recebê-los antes de receberem atendimento médico. Danilo, outro estudante presente nas manifestações, relatou que foi levado para a Central de Polícia da Polícia Civil acusado de depredação (sem provas e com testemunhas que afirmam sua inocência) e desacato pelo fato de ter berrado “é ditadura!” aos policiais que avançavam sobre os manifestantes. Alguns dos detidos foram tratados de forma humilhante (tiveram até que tirar as roupas).