Redação

Ministro da Segurança Pública quando a vereadora do PSOL foi executada, Raul Jugman, havia afirmado que o crime tem o envolvimento de “políticos poderosos”.

Se a situação do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) já se enrolava cada vez mais, a operação deflagrada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e a Polícia Civil na manhã desta terça-feira, 22, coloca a situação do filho do presidente em outro patamar.

A operação batizada de “Operação Intocáveis” contra milicianos do grupo Escritório do Crime, envolvido em grilagens de terra e, principalmente, suspeito pelo envolvimento no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, coloca novamente Flávio Bolsonaro em evidência, e desta vez não por conta de “rachadinha” e outras formas costumeiras de corrupção. O grupo miliciano que atua nos arredores de Rio das Pedras e Muzema parece ter ligações bastante estreitas com o senador eleito pelo PSL.

A mãe e a mulher de um dos alvos da operação, o capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-agente do Bope e atual líder do grupo criminoso, estavam até novembro último empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro. Adriano foi homenageado em 2004 pelo então deputado com uma menção de louvor e congratulações a supostos serviços prestados à comunidade proposto por Flávio. Na ocasião, o filho de Jair Bolsonaro disse que Adriano atuava com “brilhantismo e galhardia”. No ano anterior Ronald havia sido implicado na “chacina da Via Show”.

No ano seguinte, em 2005, Flávio Bolsonaro concedeu mais uma honraria ao miliciano: a Medalha Tiradentes, a maior da Alerj. O major Ronald Paulo Alves Pereira, também apontado como líder do Escritório Criminoso, também recebeu homenagem de Flávio Bolsonaro em 2004.

A mãe de Adriano, empregada no gabinete de Flávio Bolsonaro, é ainda uma das mencionadas no relatório do Coaf como uma das que fizeram a série de depósitos na conta de Flávio.

As ligações entre o grupo miliciano e Flávio Bolsonaro são inúmeras. Segundo o jornal O Globo, no tempo em que o ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, esteve sumido até aparecer “internado” no hospital Albert Einstein, ele esteve escondido na comunidade Rio das Pedras, reduto do Escritório do Crime.

Bolsonaro e as milícias
A família Bolsonaro sempre defendeu as milícias. Em entrevista ao jornal britânico BBC, o então deputado federal, Jair Bolsonaro, afirmou: “Elas oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas. E, talvez, no futuro, deveria legalizá-las”.

Seu filho, Flávio Bolsonaro, quando era vereador do Rio, levou a ideia adiante, defendendo a legalização das milícias. “O Estado não tem capacidade para estar nas quase mil favelas do Rio. Dizem que as mílicias cobram tarifas, mas eu conheço comunidades em que os trabalhadores fazem questão de pagar R$ 15 para não ter traficantes“, disse na época.

Pois bem, agora sabemos que a ligação entre os Bolsonaros e as milícias não são apenas da boca para fora. As revelações desta terça-feira são graves e podem ser fundamentais para a resolução do bárbaro crime que vitimou Marielle e Anderson Gomes.

Não se trata mais de denúncia de corrupção. Estamos falando agora de uma milícia envolvida com a execução de Marielle e Anderson e que é ligada a Flávio Bolsonaro. É preciso investigar o caso e punir os responsáveis, tanto os executores como os mandantes que, como disse na época o então ministro da Segurança Pública, Raul Jugman, tem o envolvimento de “políticos poderosos”.