De 25 a 31 de agosto se dará o julgamento final no Senado do processo de impeachment da presidente Dilma (PT). Os debates e os enfrentamentos entre acusação e defesa devem polarizar a atenção do país.

O processo parece definido. É praticamente certo que haverá uma maioria de mais de dois terços de senadores a favor do afastamento da presidente.

Caso se concretize o impedimento de Dilma, volta com força o debate se isso configuraria ou não um tipo de “golpe” parlamentar.

Farsa do golpe
No dia 15 de agosto, Dilma publicou uma carta intitulada “Mensagem ao Senado e ao povo brasileiro” onde reafirma que seu possível afastamento seria um “inequívoco golpe”.

Apesar desta afirmativa categórica, tanto a carta como a ação política de Dilma e do PT são totalmente incoerentes e desmentem a tese do “golpe”.  É só observar os fatos.

Se houvesse realmente um “golpe”, a ação política do governo e do partido que supostamente seriam suas vítimas deveria ser a mobilização popular. Ora, o PT há muito deixou de lado as tentativas de mobilizar o povo contra o “golpe” e apenas tenta convencer os senadores a não votar o impeachment.

Pode-se argumentar que não há condições para mobilizar e seria preciso explicar as razões para tal. Mas, neste caso, o partido deveria adotar, pelo menos, uma atitude intransigente contra o Congresso, autor do suposto “golpe”.

O PT e Dilma atuam de maneira oposta: vem assumindo uma atitude totalmente conciliadora com o Congresso Nacional, procurando convencer os senadores a votar contra o impeachment, em um típico jogo parlamentar.

A maior prova disso é que na carta ao Senado Dilma propõe um “pacto pela unidade nacional, pelo desenvolvimento e pela justiça“. Como seria possível um pacto com “golpistas”?

Por outro lado, na mesma carta, Dilma promete, se reconduzida ao cargo, dar “apoio irrestrito à convocação de um plebiscito com o objetivo de consultar a população sobre a realização antecipada de eleições“.

Mais uma vez, a proposta política não é coerente com a denúncia de um “golpe”. Se fosse verdade, como seria possível que os senadores, supostos autores do “golpe parlamentar autoritário”, se deixassem convencer a convocar um plebiscito para que a população decida sobre novas eleições?
As verdadeiras razões para a queda do governo Dilma

Um “golpe” é uma medida de força de um setor da classe dominante e que sempre atinge em primeiro lugar os trabalhadores e os explorados. Não foi isso que aconteceu no caso da queda do governo Dilma.

Durante anos a maioria da burguesia apoiou e participou dos governos encabeçados pelo PT. Quando explodiu a crise econômica, a burguesia se uniu em torno de um plano para implementar um “ajuste fiscal” que jogasse a crise nas costas dos trabalhadores.

Dilma e o PT compartilhavam totalmente as ideias deste plano. Por isso, Dilma colocou Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e aplicou medidas contra aposentadorias, abonos sociais, seguro-desemprego, diminuição de salários, cortes no crédito e nos orçamentos da saúde, educação e obras públicas, e aumentou os combustíveis e a tarifa de luz.

A partir destes ataques, milhões de trabalhadores que votavam no PT e apoiavam seus governos passaram a rejeitá-lo. Contribuíram para isso ainda os escândalos de corrupção envolvendo altos dirigentes partidários. Os trabalhadores se sentiram decepcionados, traídos e romperam com o partido.

O apoio da burguesia durou até que ficou claro que Dilma não tinha mais apoio popular, e, portanto, condições de aplicar o ajuste. Neste momento, um setor burguês abandonou o governo e resolveu apoiar o impeachment. E o fez usando as manobras típicas do jogo burguês parlamentar.

A direção do PT agita a farsa do “golpe” para esconder que o elemento decisivo para a queda do governo Dilma foi o rompimento da classe trabalhadora e dos setores populares com a presidente e com o PT. A maioria absoluta da esquerda foi cúmplice da direção do PT nisso.

Mas hoje, a fumaça começa a se desfazer. Os verdadeiros motivos da queda de Dilma assim como a traição e o fracasso do PT aparecem. O fenômeno mais importante para o futuro da classe trabalhadora brasileira é sua ruptura com o PT.

Pode haver confusão no princípio, assim como desconfiança em todos os partidos políticos, mas o aumento da exploração e as lutas de resistência empurram as massas a buscar novas alternativas. Só assim pode-se superar uma velha direção oportunista e traidora. É preciso ajudar esta experiência com confiança e paciência.