Ricardo Teixeira tem seu cargo ameaçado
Ag Brasil

A pergunta que todos fazem agora é: ‘Será que desta vez é pra valer?’Poucos conseguiram atrair tanta antipatia, tanto ódio como a figura desprezível de Ricardo Teixeira, presidente da CBF por 23 anos. A saída do cartola do comando da confederação unifica torcidas rivais, sejam flamenguistas ou vascaínos, sejam palmeirenses ou corintianos, todos se unem sob um mesmo slogan “Fora Ricardo Teixeira”.

No entanto, desde o início da semana, começam a crescer boatos sobre a provável e iminente renúncia do cartola. “É uma coisa que ultrapassou o ruído de boato, virou mais do que rumor, é quase um clamor. Como é o clamor popular pela saída dele., disse Juca Kfouri no programa Linha de Passe da ESPN-Brasil. A revelação de mais um novo escândalo sobre o amistoso da seleção em Brasília poderá ser o último empurrão para a saída do mafioso.

Nesta quarta-feira, 15, o jornal Folha de S.Paulo publicou uma matéria revelando a ligação do cartola da CBF com o empresário Sandro Rosell, dono da Alianto Marketing, empresa investigada por superfaturamento do amistoso entre Brasil X Portugal, realizado em 2008.

A Alianto Marketing também é dona da empresa VSV Agropecuária Empreendimentos Ltda, criada oito dias antes da partida. Sua sede era uma fazenda de Teixeira localizada em Piraí, a 80 km do Rio de Janeiro. A empresa recebeu R$ 9 milhões do governo do Distrito Federal, que na época era chefiado pelo corrupto José Roberto Arruda, flagrado cobrando propina no chamado “mensalão do DEM”.

O rei da Copa
Desde ano passado, uma forte campanha pelo “Fora Ricardo Teixeira” tem tomado as redes sociais na internet, e até mesmo às ruas quando um grupo de torcedores organizou uma passeata no centro do Rio de Janeiro.

Teixeira apostou em ser o “Rei da Copa”, mas parece que está perdendo. Seu plano era disputar a presidência da FIFA e centralizar os negócios da Copa de 2014. Foi nesse momento que Joseph Blatter, atual presidente da federação, ameaçou mostrar um farto cardápio de corrupção do cartola brasileiro. Um programa da BBC, rede de TV britânica, mostrou que dirigentes do Comitê Executivo da FIFA, responsável pela escolha das sedes das Copas, recebiam propinas de uma empresa de marketing esportivo, a ISL (International Sports and Leisure). Foram citados na reportagem, Teixeira, o paraguaio Nicolas Leoz e o camaronês Issa Hayatou.

Blatter tentou esconder o maior escândalo de corrupção da história da entidade. No entanto, foi abrigado a ceder e utilizou as denúncias para resolver as disputas internas da federação.

Teixeira foi alvo de 13 pedidos de indiciamento relativos a supostos crimes de evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. “Caguei montão”, disse em entrevista à revista Piauí na época dos escândalos. Sua postura revelava mais do que arrogância. Colocava em evidência sua confiança de que parte da grande imprensa, as organizações Globo em especial, encobriria suas ações. “Só vou ficar preocupado quando as acusações saírem no Jornal Nacional”, disse na mesma entrevista.

O processo FIFA-ISL correu sob segredo de Justiça na Suíça, uma decisão que, por enquanto, evita o acesso de todas as mutretas de Teixeira e de outros dirigentes da FIFA, inclusive de Blatter. Por outro lado, a entidade máxima do futebol mundial tenta renovar sua imagem após tantos escândalos. Para isso, os cartolas apostam no nome de Michel Platini, ex-craque da seleção francesa.

‘Modernidade´ e arcaísmo
Nos anos 1980 e 1990, com a globalização capitalista, o esporte sofreu uma profunda mercantilização. Poderosos monopólios internacionais, que patrocinam os clubes de futebol, começaram a dar as cartas e criaram uma verdadeira “indústria da bola”. Hoje, segundo a Fundação Getúlio Vargas, o futebol mundial movimenta cerca de 250 bilhões de dólares por ano. Foi nessa época que foram cunhados termos com “futebol empresa” e todo tipo de bobagem tentando colar a imagem de um bom futebol com métodos de eficiência empresarial. No entanto, o que reinou foi a corrupção, o enriquecimento de dirigentes e a manipulação de resultados.

Ricardo Teixeira foi um personagem meio síntese dessa nova estrutura emergente do futebol mundial. Combinava a velha “cartolagem” e a estrutura arcaica (exemplificada em dirigente como Eurico Miranda, Caixa D´água etc.) que ainda reina sobre o futebol brasileiro com a “modernidade” imposta pelo capital. Equilibrando-se nessa contradição, Teixeira ganhou sobrevida e reinou absoluto na CBF.

A pergunta que todos fazem agora é: “Será que desta vez é pra valer? Ricardo Teixeira vai sair mesmo da CBF?”. Quem conhece as artimanhas do cartola tem razão de sobra para alimentar esse tipo de desconfiança. Não é a primeira vez que o clamor “Fora Teixeira” poderá ser frustrado por manobras. De todo modo, o que se vê, para o deleite do torcedor brasileiro, é a imagem de um corrupto dirigente em agonia.