Na maior cara-de-pau, o Grupo 9 (que representa nove setores da metalurgia) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) apresentou uma proposta para “superar a crise” que prevê o fim do pagamento do descanso semanal remunerado (domingos e feriados), redução do adicional noturno de 35% para 20%, suspensão temporária do contrato de trabalho e parcelamento do pagamento de férias.

A “pauta de reivindicações” foi entregue a CUT e a Força Sindical no último dia 13.
Os patrões chegam a “propor” até o não cumprimento de acordos assinados durante a Campanha Salarial de Emergência, realizada em abril, de reposição da inflação.
Caso suas reivindicações não sejam atendidas, os empresários ameaçam iniciar uma onda de demissões no setor. A chantagem da demissão é fórmula antiga, usada pela patronal para tentar retirar direitos e rebaixar os salários dos trabalhadores.

Querem jogar a crise nas costas dos trabalhadores

Foi com esse mesmo discurso (com apoio da Articulação e da Força Sindical) que empresários implantaram no início dos anos 90 o famigerado banco de horas, lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) e reduziram salários.

Mas ficou comprovado que onde esse sistema foi implantado as demissões continuaram. Houve aumento do ritmo de produção e a indústria manteve sua margem de lucro, enquanto milhares de trabalhadores ficaram desempregados.

“Em hipótese alguma vamos aceitar a redução de direitos. O poder de compra diminuiu, os salários estão arrochados. Nós queremos reajuste salarial e manutenção de empregos e direitos. Essa ‘proposta’ da Fiesp é indecente. Os empresários que reduzam sua margem de lucro Não podemos aceitar que joguem a crise nas costas dos trabalhadores”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Luiz Carlos Prates, o Mancha. Para ele, a alternativa para garantir emprego e gerar novos postos de trabalho é a redução da jornada de trabalho, sem redução de salário.

Bucha de canhão da Fiesp

Tanto a direção majoritária da CUT, a Articulação, como a Força Sindical formalmente não aceitaram as “reivindicações” da Fiesp. Mas fizeram coro pela queda dos juros e se calaram sobre reajuste de salários, emprego e direitos.

Paulinho, presidente da Força, chegou a realizar uma “passeata” pela queda dos juros. Já Marinho, depois de dizer que proposta da Fiesp agravaria a recessão, declarou ao site da Folha de São Paulo que “é preciso apresentar soluções inteligentes para estimular a retomada do crescimento econômico”. A saída “inteligente” seria descontar diretamente do salário do trabalhador as dívidas com os bancos, para que os banqueiros possam diminuir a inadimplência e os juros.

Evidentemente que ninguém defende os juros de agiota que se pratica. Mas os baixos salários e a flexibilização do mercado de trabalho – uma das maiores do mundo, onde a rotatividade da mão de obra empregada é de 50% – não se deve aos juros. Tanto é assim que o poder aquisitivo da classe trabalhadora vem se deteriorando há 30 anos. Já o lucro das empresas se mantém e até se eleva.

Post author Jocilene Chagas,
de São José dos Campos (SP)
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