O Paraguai realizará eleições presidenciais no próximo dia 2 de abril.
Certamente, as atenções da esquerda se voltarão para o país vizinho nas próximas semanas. Isso porque quem está sendo apontado como favorito é Fernando Lugo, ex-bispo de uma das regiões mais pobres do país. Mas será que a candidatura de Lugo representa mesmo alguma mudança? Procurando responder essa pergunta, nessa edição publicamos um artigo escrito especialmente para o Opinião sobre as eleições do país vizinho

No próximo dia 20 de abril serão realizadas as eleições presidenciais do Paraguai. O processo se dá em uma conjuntura inédita do país, marcada pela possibilidade de derrota eleitoral do Partido Colorado, que governa o país há 61 anos. Esta possibilidade vem das mãos do ex-bispo católico Fernando Lugo, que se encontra em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais, seguido pela candidata colorada Blanca Ovelar, pelo ex-general golpista Lino Oviedo (UNACE) e pelo empresário Pedro Fadul (PPQ).

A candidatura do ex-bispo dividiu águas no movimento social e na esquerda paraguaia, onde vários setores a encaram como “progressiva”, no sentido de conquistar uma “mudança” no poder depois de décadas de governos colorados.

O programa e as alianças de Lugo
O crescimento da candidatura Lugo tem a ver, em primeiro lugar, com um repúdio a mesmice do Partido Colorado e a busca de novas alternativas por parte de amplos setores populares. Neste sentido, é um fenômeno similar ao já visto em outros países latino-americanos, como Bolívia, Brasil e Uruguai, entre outros.
Lugo pretende capitalizar todo o descontentamento contra os colorados e se localizar como o candidato da “mudança”. Sem dúvida, por seu programa e alianças, o ex-bispo está longe de representar uma transformação real para a vida dos trabalhadores e do povo. Ao contrário, seu projeto é conformar um governo de conciliação de classes, com características de frente popular.

Em seu afã de chegar a Presidência, Lugo se aliou ao Partido Liberal Radical Autentico (PLRA), principal partido burguês de “oposição” e co-responsável pela situação calamitosa do país. Lugo ainda buscou um acordo com o fascista Lino Oviedo, quando este ainda estava preso em função de uma tentativa de golpe de Estado.

Posteriormente, o ex-bispo conformou a Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em castelhano), uma frente entre partidos de direta e esquerda que apóiam a dupla Lugo-PLRA.

Lugo promete uma “reforma agrária integral”, sem dúvida, em várias declarações disse que em seu governo se respeitará de maneira irrestrita à propriedade privada e que fará cumprir a Lei com todo o rigor em caso de ocupação de terras. Também assegura incentivo e garantias aos investimentos estrangeiros, fundamentalmente a produção de soja.

Tampouco descarta realizar privatizações das empresas estatais, no marco de uma economia “mista”. O próprio Lugo admite receber o apoio de vários empresários “honestos” e “patriotas”. Entre os que respaldam seu projeto se encontra o mafioso Roberto Requião, governador do Estado do Paraná.
Recentemente, na grande imprensa se ventilou um acordo entre os empresários do transporte de Ciudad del Este e a APC. Os conselheiros liberais votaram pelo aumento do preço da passagem de ônibus e em troca de apoio a Lugo.

A capitulação da esquerda
A maior parte da esquerda capitulou ao projeto de Lugo-PLRA. O argumento central é a questão da possibilidade da alternância de poder.

Dessa forma, se impôs a política do “vale tudo” para derrotar o Partido Colorado, com a afirmação de que “qualquer coisa” seria melhor do que este partido.
A esquerda abandonou assim toda uma política de classe para definir sua política eleitoral, pois a alternância em si não soluciona nenhum problema de fundo. A alternância que propõe Lugo-PLRA é uma simples substituição de partidos burgueses no governo, para que, em vez dos colorados, o povo seja roubado e explorado pelos liberais.
Post author Ronald León, de Assunção, Paraguai
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