Obrador afirma que não reconhecerá governoFelipe Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN), foi declarado oficialmente nesta terça-feira, dia 6, presidente eleito do México. A declaração foi realizada pelo Tribunal Eleitoral, em meio a uma profunda crise política no país.

O candidato López Obrador questiona o resultado das eleições, marcadas por evidentes fraudes. Na contagem eleitoral, Calderón “venceu” as eleições com de 234 mil votos de diferença, o que significa 0,56%. Obrador recusou o resultado e exigiu a recontagem. Contudo a justiça eleitoral do país apenas realizou uma contagem parcial que em nada alteraram os resultados.

Pressão nas ruas
Após o final das eleições, Obrador convocou uma onda de protestos exigindo a recontagem. Desde 30 de julho, milhares de manifestantes bloquearam a principal avenida da capital mexicana. Vicente Fox, o atual presidente mexicano, chegou até mesmo ameaçar de desalojar os manifestantes através do exército. Mas, por ora, recuou.

Obrador convocou uma manifestação após a Justiça declarar Calderón o novo presidente do país. Ele não reconhece o novo governo e disse que vai montar um ministério paralelo. “Expresso minha decisão de rejeitar a decisão do tribunal eleitoral e ignorar quem pretende ostentar o título de chefe do Poder Executivo Federal“, disse Obrador.

Candidatos
Calderón é o representa típico da direita tradicional. Seu governo será a continuidade do receituário neoliberal implementado no México nas últimas décadas. Calderón foi apoiado pelo imperialismo, pois Bush e seu governo o consideram a opção mais “segura” para os negócios imperialistas no México. Em outras palavras, para eles o direitista vai garantir, sem solavancos e surpresas, a implementação de políticas privatistas e a “parceria” entre o México e os EUA. Além disso, vai manter o pagamento da dívida externa do país em dia. Calderón também repete o discurso de Bush em questões como a legalização do aborto e a união civil entre homossexuais, propostas das quais ele se coloca radicalmente contra.

Durante a campanha de Calderón, ele não foi apenas apoiado pelo atual presidente Vicente Fox, como foi claramente beneficiado pela máquina governamental. O tradicional aparato corrupto da máfia que está no poder utilizou-se até das famosas telenovelas mexicanas. Personagens de uma delas declaravam abertamente seu voto em Calderón. Com a crise política, o direitista tentará um entendimento com Obrador. Já se fala em um governo de unidade nacional. Caso o candidato oposicionista aceite esse “entendimento”, isso constituirá uma enorme traição a todos aqueles que lutaram contra as fraudes eleitorais.

Por outro lado, Obrador, candidato do PRD (Partido da Revolução Democrática), tornou-se o “candidato dos pobres”. Todavia, seu programa está bem distante das necessidades objetivas da população pobre mexicana.

Obrador não pretendia realizar nenhuma ruptura de fato com o modelo neoliberal. Respondendo se seu eventual governo provocaria alguma mudança ‘irresponsável´ na economia, respondeu; “Nada disso, não vamos atuar de maneira irresponsável (…) haverá um manejo técnico, não ideológico da economia (…) haverá controle do déficit público, será garantida a autonomia do Banco de México e se evitará a inflação”.

Polarização
A crise política no México reflete a polarização social do conjunto México. Depois de anos de neoliberalismo e livre comércio o fosso entre pobre e ricos no país se ampliou de maneira imensurável.
O voto da parcela mais pobre da população em Obrador expressou, de maneira distorcida, a insatisfação com esse modelo econômico e despertou o sentimento de mudança, embora Obrador de fato não propusesse nenhuma mudança real.

O sentimento de mudança que percorre a América Latina também se expressa abaixo do Rio Bravo.

As manifestações contra a fraude política são mais do que justas e provocaram uma profunda crise na direita tradicional do país. Calderón já começa a governar derrotado.