No dia 24 de janeiro, foi confirmada a décima morte por febre amarela no Brasil em 2008. O governo vem tentando mostrar à população que não existe risco de epidemia, mas os números falam por si. As 10 mortes em janeiro são superiores às de todo o ano passado, quando seis pessoas morreram. Proporcionalmente, já é o maior número de doentes desde 2003 e, se a doença continuar a se expandir na proporção em que vem se dando, poderemos chegar a uma epidemia.

Além de matar mais, a doença vem se expandindo e já atinge áreas urbanas, o que era usado até então como um argumento pelo governo. “Não existe risco de epidemia, o Brasil não tem casos de febre amarela urbana desde 1942”, afirmava o ministro da saúde, José Gomes Temporão. O cinturão foi quebrado no dia 23, com a confirmação da doença em Raimundo Pereira Ramos, 64 anos, vigilante da Universidade Federal de Goiás (UFG), falecido em 30 de dezembro. Os casos deixaram as zonas endêmicas (rurais ou de mata), chegaram às cidades de Goiás e Mato Grosso do Sul e, agora, ameaçam outros estados, como parte de São Paulo.

Retorno inaceitável
A febre amarela existe desde meados do século XVII, mas foi somente no século XIX que uma epidemia assolou o Brasil, matando milhares. A doença se transformou no maior problema de saúde pública e foi contida por uma vacina, desenvolvida pelo médico Osvaldo Cruz, na primeira metade do século passado.

Na época, é importante lembrar, os métodos autoritários utilizados pelo governo deram origem a uma enorme rebelião popular, conhecida como Revolta da Vacina.
Em 1908, a febre amarela, em sua forma urbana, foi erradicada no Brasil. Persistiu a forma silvestre, transmitida em regiões endêmicas e em casos isolados. A transmissão nestes locais normalmente se dá pela contaminação de macacos. Eles são picados pelo mosquito que, em seguida, pica o humano, transmitindo-lhe o vírus.

As causas do retrocesso
Busca-se uma explicação para a volta de uma doença que foi epidemia no século XIX.
Uma das causas seria o aumento de mortes de macacos. Para plantar mais soja, o latifúndio derruba as árvores, onde estes vivem e de onde tiram seu alimento. Com a diminuição da população de macacos, os mosquitos vão para áreas urbanas e picam as pessoas.

Mas isso não explicaria tudo. As principais causas são a falta de investimento em saúde e os cortes que o governo faz no orçamento todos os anos. Mesmo com a arrecadação maior, os aumentos no gasto com a saúde têm sido ínfimos. Em 2006, segundo estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o governo federal gastou apenas o equivalente a 1,73% do PIB com Saúde. Somando os gastos de estados e municípios, chega-se a apenas 3,47% do PIB.

No governo Lula, gasta-se mais pagando as dívidas externa e interna do que com Saúde. Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, só no primeiro semestre de 2007 foram economizados R$ 80 bilhões (ou 5,58% do PIB) para as dívidas. É o chamado superávit primário, gerado através do corte de gastos públicos.

Em 2007, a disputa pela CPMF, o imposto do cheque, colocou a saúde novamente na berlinda. O imposto foi criado quando o PSDB, da atual oposição burguesa, era governo e tinha como justificativa o investimento em saúde. Esse objetivo nunca foi cumprido: a CPMF era desviada para outros fins e continuou assim no governo Lula.
O fim da cobrança é utilizado agora para cortar gastos, no total de R$ 30 bilhões. Também sofreram cortes o reajuste do funcionalismo, inclusive dos funcionários da Funasa, e investimentos em diversas áreas. Ao mesmo tempo em que usa a Saúde como desculpa, o governo renegocia com a bancada ruralista novos prazos para as dívidas do setor. Por coincidência, estas somam o mesmo valor dos cortes de Lula: R$ 30 bilhões.

Dengue
Enquanto o governo mantém o superávit e agrada o latifúndio, a febre amarela avança, acompanhada de outra doença transmitida pelo mosquito Aedes Aegypt, a dengue. Em 1999, a doença transformou José Serra no ministro da dengue. Foram 5.400 mata-mosquitos demitidos naquele ano e a doença só cresceu desde então. No ano passado, o número de casos cresceu 58,4%, com 200 mil casos novos. Foram atingidas 536.519 pessoas e 136 morreram.

Em janeiro deste ano, 800 pessoas contraíram dengue apenas no Rio de Janeiro. A tendência é que, como nos anos anteriores, os números sigam crescendo. Os sintomas estão aí: descaso, falta de investimentos, superávit e ataques ao serviço público. Com tudo isso, percebe-se que o verdadeiro transmissor da febre amarela e da dengue não é exatamente um mosquito.

O que é a febre amarela?

A febre amarela é uma doença infecciosa causada por um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue, e com risco de morte muito alto. Em sua forma silvestre, a transmissão se dá pela contaminação de macacos. Eles são picados pelo mosquito do gênero Haemagogus que, em seguida, pica o humano.

Os efeitos no indivíduo são devastadores e podem surgir em até seis dias após a picada do mosquito. Os primeiros sintomas são febre alta, dor de cabeça, vômitos e insuficiência renal, hepática e cardíaca e podem durar até dez dias.

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