Greve Geral de 28 de abril na Guararapes em Natal
Nazareno Godeiro, de Natal (RN)

O Grupo Guararapes é o maior do ramo têxtil e de confecções da América Latina. Recentemente, os donos da empresa divulgaram mensagens atacando o Ministério Público do Trabalho, que autuou e multou a empresa por uma série de irregularidades

Circula na Internet, através do whatsapp um “desabafo” de Jairo Amorim, diretor industrial do Grupo Guararapes, que basicamente diz que a Guararapes está sendo atacada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT-RN), que estaria multando indevidamente a empresa com cláusulas trabalhistas absurdas e que atacaria o programa Pró-Sertão. Como o MPT-RN é o “pior que existe no Brasil, as empresas estão saindo do RN. Se continuar assim, a Guararapes terá que sair do RN e ir para o Paraguai, para a China”. Que a Guararapes tinha quase 20 mil empregos no estado e agora tem menos de 8 mil.

E conclui: “Tô revoltado, não tô conseguindo dormir. Minha última esperança é que ganhe na Justiça, senão vamos sair daqui….”

Além disso, os donos da Guararapes, através de Flávio Rocha, dizem a mesma coisa e estão organizando manifestações de trabalhadores e “faccionistas” para protestar contra o MPT-RN, dizendo que é “para defender o emprego”.

O MPT-RN está defendendo os trabalhadores
O Ministério Público do Trabalho multou a Guararapes em R$ 38 milhões porque, desde 2013, a empresa resolveu abrir pequenas fábricas no interior do Rio Grande do Norte, vinculadas à produção da Guararapes, mas sem ter vínculo trabalhista com a empresa. Aí se paga menos que na fábrica em Extremoz e tem menos direitos trabalhistas. O MPT identificou muitas irregularidades, como atraso de pagamento, ambiente de trabalho inadequado e sem segurança.

O MPT também sustenta que os trabalhadores destas facções devem ser contratados diretamente pela Guararapes, já que produzem sob controle e medida da empresa. Centenas de ações judiciais de trabalhadores das facções estão na Justiça porque foram demitidos e não receberam seus direitos. Muitas facções já fecharam as portas, endividadas, porque a Guararapes paga uma mixaria pela costura das peças, que não cobre nem os gastos da facção.

O que esconde a Guararapes?
As grandes indústrias do RN (onde a principal é a Guararapes) tiveram benefício fiscal na ordem de R$ 272 milhões em 2016, através do Programa PROADI, isto é, pagaram menos ICMS neste valor para que garantissem o emprego no RN. Só que há 3 anos que a Guararapes demite na sua fábrica de Extremoz: saiu de 10.034 em 2013 para 7.539 agora em 2017. Portanto, a fábrica demitiu 2.495 trabalhadores quando recebia isenção fiscal para garantir emprego.

Segundo, enquanto demitia 2.500 trabalhadores na sua fábrica, incentivou o projeto Pró-Sertão, para gerar 2.300 empregos precarizados no interior do RN, ganhando menos, em piores condições de trabalho e sem direitos trabalhistas. Então, ela não abriu emprego no interior para favorecer a população local porque ela fechou vagas em Natal na mesma proporção. A própria Guararapes informou que transferiu 17% da sua produção da fábrica de Extremoz para as facções do Pró-Sertão.

Terceiro, a falsidade da empresa é tanta que ela, enquanto demitia em Natal, gozando de benefício fiscal, abriu uma fábrica no Paraguai em 2015. A fábrica da Guararapes no Paraguai deve empregar 2 mil operários.

Quarto, a Guararapes esconde também que a multa de R$ 37.723.000,00 é uma pequena fração (11,8%) de seu lucro líquido em 2016, que chegou a R$ 317.600.000,00.

A verdadeira história de exploração da Guararapes
Vamos analisar a situação da empresa de 2011 até agora.

Por estes números, as vendas da Guararapes chegam a, aproximadamente, R$ 6 bilhões por ano e crescem ano a ano.

O lucro bruto também cresce a cada ano, desde 2011, e alcançará quase R$ 4 bilhões em 2017.

O lucro líquido da empresa é de cerca de R$ 400 milhões por ano. Como são 4 donos da família Rocha, cada um ganha R$ 100 milhões por ano.

Uma costureira, que ganha salário mínimo, teria que trabalhar 820 anos para ganhar o que um dono ganha em 1 ano.

A superexploração da operária da Guararapes
A Guararapes tinha no final de 2016, 37.101 trabalhadores em todo o grupo. Desses, 12.859 são operários da produção, portanto, são os verdadeiros produtores de toda a riqueza da Guararapes.

Numa jornada de 8 horas diárias, em 2016, a trabalhadora da Guararapes gastou 3 horas e 46 minutos para pagar seu salário e as 4 horas e 14 minutos restantes, ela trabalhou de graça para a família Rocha.

Para se ter uma ideia do valor astronômico disto, é como se cada um dos 37.101 funcionários da Guararapes tivesse dado de presente de Natal à família Rocha dois carros HB20 da Hyundai ao preço de R$ 48 mil cada um. Se enfileirasse todos eles, encostando para-choque em para- choque ocuparia a BR 101 saindo de Natal a Recife. Toda esta riqueza lucrada em cima do sofrimento dos funcionários em apenas um ano!

Como se isso fosse pouco, a Guararapes é uma das empresas que pagam os menores salários do Brasil, sendo a terceira pior (que pagam menores salários médios) do ranking nacional entre 150 grandes empresas, segundo informação do Anuário Estatístico do ILAESE ano 2017.

Aqui é onde reside o segredo do enriquecimento espetacular da Guararapes, além da “ajudinha” do governo do RN que isenta a empresa de pagar ICMS.

Donos da Guararapes gritam para esconder sua traição ao povo potiguar
Então, toda a agitação que está fazendo a Guararapes e os grandes empresários do RN, com apoio dos partidos patronais, são lágrimas de crocodilo.

Grita para esconder sua traição ao Estado que tem enriquecido a família por muitas décadas e agora, a Guararapes está virando as costas ao trabalhador potiguar, que produziu muita riqueza para a família Rocha e agora sequer é reconhecido. A Guararapes, com fome de lucro, vai para o Paraguai e para a China porque lá não tem direitos trabalhistas como férias, 13º salário, aposentadoria, etc.

Patrão é igual a vampiro, vive do sangue alheio e quanto mais melhor. Depois de explorar muitas mães de família por muitos anos, demite sem piedade, como se tivesse descartando bagaço de laranja. Nem liga para a epidemia de adoecimento dos seus funcionários.

A solução é a estatização da Guararapes sob controle dos trabalhadores
Por isso, a saída para o problema não é concordar que a Guararapes aumente a exploração dos seus trabalhadores diretos e terceirados (faccionistas), mas estatizar a empresa sob controle dos seus trabalhadores. Assim, os R$ 3,5 bilhões de reais de lucro bruto da Guararapes deve servir para melhorar as condições de vida e trabalho dos seus funcionários e melhorar os serviços públicos de saúde, segurança e educação do Estado.

Esta pesquisa foi realizada por Nazareno Godeiro, pesquisador e membro da Coordenação Nacional do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos) em 19 de setembro de 2017