A pior das utopias é esperar que, com um superávit de 4,25%, o país possa avançar na solução de seus problemas de educação, saúde e reforma agráriaExiste um caminho distinto ao da globalização e ao da submissão do país ao imperialismo? Existe uma alternativa à nova crise que já se anuncia?
Os defensores do governo e a oposição de direita certamente dirão que não. Para eles, não existe nenhuma alternativa “realista” ao neoliberalismo e à globalização. O caminho seria, então, o de humanizar o capitalismo, para tentar melhorar a situação social do povo.

O problema é que isso não tem nada de realista. Se faltassem mais provas, bastaria ver o fracasso dos programas sociais prioritários do governo, como o Fome Zero e o Primeiro Emprego, comprovando que o capitalismo não pode ser humanizado.
As grandes empresas buscam lucros máximos e não têm nenhum compromisso com as necessidades da população. A pior das utopias é esperar algo distinto delas ou ter qualquer esperança que, com um superávit de 4,25%, o país possa avançar na solução de seus problemas de educação, saúde e reforma agrária.

O caminho alternativo é a ruptura com o imperialismo e o FMI, avançando para uma via anticapitalista. Em dois anos, com o dinheiro com que se pagaria a dívida externa e interna, seria possível financiar um Plano de Obras Públicas Populares para a solução do déficit habitacional no país – com a construção das 5,4 milhões de casas populares que faltam (ao custo de 15 mil reais cada). Este plano empregaria os milhões de desempregados hoje existentes em um mutirão nacional para a construção de casas populares.

Esse mesmo dinheiro também financiaria o assentamento, em terras desapropriadas dos latifundiários, das 4,5 milhões de famílias sem-terras do país, com um crédito de R$ 30 mil cada uma. Utilizando o mesmo dinheiro, dobraríamos as verbas para a educação e saúde em dois anos.

Esse seria o núcleo de um plano econômico imediato, que teria o caráter inédito de atacar o lucro das grandes empresas internacionais e nacionais e solucionar os problemas sociais.

Utopias reacionárias
Então, “seria o caos”, o “fim da estabilidade”, diriam os defensores do governo e da burguesia. O problema é que o caos já existe hoje, na barbárie do cotidiano das grandes cidades: crianças garimpando seu almoço nos lixões, o desespero de milhões de desempregados, a violência urbana. De que estabilidade está se falando? Na vida dos trabalhadores, não existe estabilidade, com o desemprego que não termina, o salário menor a cada dia e a insegurança no futuro.

Não é correto dar um calote, dirão os defensores dos banqueiros. O problema é que é preciso optar por qual calote deve ser feito. Até hoje, os governos vem dando um calote social no povo, ao impor um salário mínimo miserável e cortes sociais, para garantir que não haja um calote aos banqueiros.

O não pagamento das dívidas afugentaria os capitais? Que capitais? A maioria dos que chegam ao país tem um caráter especulativo, não resultando no aumento da produção. O Brasil hoje exporta capitais, que saem do país em quantidade muito maior do que entram.

Por último, os propagandistas do status quo dirão que não se pode fazer isso porque o governo Bush invadiria o Brasil. São os mesmos que dizem que não se pode fazer uma greve porque a burguesia tem a polícia e o exército ao seu lado. Falaram a mesma coisa para dizer que era impossível derrubar a ditadura militar ou Fernando Collor.

Não existem mudanças profundas sem rupturas. Não existiria a Revolução Cubana, ou nenhuma outra revolução, se prevalecesse essa postura conformista. A ruptura de um país como o Brasil provocaria uma mudança na situação da luta de classes em todo o continente latino-americano. Uma onda de simpatia se generalizaria pelas massas do continente, ainda mais neste ambiente anti-EUA, gerado pela administração Bush. Poderíamos ir a um processo conjunto com outros países, de ruptura com o imperialismo, abrindo novas possibilidades políticas e econômicas.

Utópica é a proposta de melhoria da situação social de nosso povo sem ruptura com este modelo. Aliás, utópica e reacionária.

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