Carro fuzilado por soldados do Exército. Reprodução
Redação

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Mais de 80 tiros. Foi assim que soldados do Exército brasileiro fuzilaram uma família no último domingo, 7. A fuzilaria aconteceu em Guadalupe, área pobre na Zona Norte do Rio de Janeiro. No carro havia uma família que estava indo para um chá de bebê.

Músico Evaldo Rosa, executado pelo Exército

O músico e segurança Evaldo Rosa, de 51 anos, morreu na hora. Seu sogro foi ferido. Sua esposa, o filho de 7 anos e uma amiga da família conseguiram escapar dos disparos.

Imediatamente, a revolta tomou conta das pessoas que passavam pela região e viram tudo. O Exército tentou negar a responsabilidade, dizendo que os militares estavam reagindo a um ataque de bandidos. Mas um delegado que investigou a ação refutou a versão do Exército. Disse que não foi encontrada nenhuma arma. “Tudo que foi apurado é que eles eram realmente pessoas, uma família normal, de bem, e que acabaram sendo vítimas dos militares”, afirmou.  Diante da repercussão do caso, o Exército teve que voltar atrás e decretar a prisão de 10 militares.

O racismo na fuzilaria é evidente. Evaldo Rosa não “foi confundido”. Ele tem a pele negra, o que faz dele alvo das balas do Exército. Em todo o país, particularmente no Rio de Janeiro, a população negra é a principal vítima da violência policial que, aliás, se “engana” com tudo, menos com a cor de suas vítimas.

Isso é resultado da guerra aos pobres desatada pela burguesia, como mostrou a pirotecnia da intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro que não resolveu em nada o problema da violência, só provocou mais vítimas – a maioria pobre e negra, como sempre.

Governador do Rio, Wilson Witzel (PSL), que defende a execução sumária por snipers. Foto Antônio Cruz/Agência Brasil

O fuzilamento ocorre em um momento em que o Rio de Janeiro registra crescimento nos homicídios provocados por policiais, estes vinculados diretamente ao governo de Wilson Witzel (PSC), apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Em dois meses, o braço armado matou 305 pessoas, crescimento de 67% em dois anos e se tornando responsável por um a cada três homicídios dolosos registrados no estado. Witzel é um populista de direita que ficou conhecido por defender o uso de snipers para abater criminosos em favela. Mas todo mundo sabe que os snipers vão abater mesmo a população pobre e negra da favela.

O crime cometido pelo Exército teve requintes de crueldade. Segundo a esposa da vítima, os soldados ficaram de “deboche” após o fuzilamento, rindo diante de seu desespero.

Como se não bastasse, um repórter da Rede Globo, Carlos de Lannoy, foi ameaçado após reportagem feita pelo mesmo no Fantástico, sobre o fuzilamento da família. Erik Procópio de Moura, o autor das ameaças escreveu no perfil do jornalista do Twitter: “mexeu com o Exército, assinou sua sentença. Sua família vai pagar. Aguarde cartas“.

Erik é conhecido como militante da direita no Rio Grande do Norte. Pertence a uma família influente de juristas e está acostumando com a impunidade. Por ter “pistolão”, o palerma foi nomeado para uma boquinha em um cargo de comissão do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN).

Os dez militares do Exército foram presos, mas o caso está com a Justiça Militar. A justificativa é a lei sancionada pelo ex-presidente Michel Temer em 2017, que tirou da Justiça comum crimes cometidos por militares em serviço.

Em 13 de outubro de 2017, Temer sancionou a lei 13.491, que amplia as possibilidades de militares suspeitos de crimes cometidos no exercício da função deixarem a Justiça comum e serem julgados na Justiça Militar, em caso de crimes contra civis. As regras estabelecidas pela lei valem para casos de homicídios dolosos (com a intenção de matar) e outros crimes dolosos contra a vida, como tentativa de homicídio, durante operações de paz e de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Essa lei procurava livrar a cara dos militares em eventuais crimes cometidos durante a intervenção militar decretada pelo próprio Temer.

Exigimos a mais completa investigação e punição exemplar para todos os militares envolvidos. É preciso revogar lei 13.491 para que os militares respondam na justiça civil pelos seus crimes. Basta de genocídio negro!