Na noite do dia 5 de julho, o governo Evo Morales informou que havia enviado mais de 825 policiais para desbloquear as principais rodovias trancadas pelos trabalhadores mineiros de Huanuni e suas esposas.

O governo exigia a suspensão dos bloqueios para negociar. Os mineiros decidiram continuar com o protesto e exigiram a presença de Evo ou de seu vice, que não apareceram.

A resposta do governo foi o envio de tropas da polícia para tirar à força os mineiros. O pânico se apoderou dos moradores e motoristas que estavam nas rodovias. Os policiais lançaram gases lacrimogêneos e entravam armados nas casas dos familiares dos mineiros que vivem no local. Os trabalhadores resistiram e enfrentaram as tropas com suas dinamites. A repressão resultou na prisão de 30 mineiros, 14 feridos e a reabertura da rodovia. Os enfrentamentos fizeram recordar a repressão do governo de Sanchez de Losada em outubro de 2003.

Apesar da repressão, a greve dos mineiros de Huanuni, iniciada em 2 de julho, continua. A assembléia popular do dia 8 aprovou a reivindicação da renúncia dos ministros de Minérios e do Trabalho. O governo disse que “os mineiros se converteram em um setor que prejudica o país” com sua greve.

As razões do bloqueio
Os mineiros da empresa estatal Huanuni bloquearam durante três dias a principal rodovia da Bolívia, impedindo o trânsito para Oruro, Potosí, Cochabamba e Santa Cruz, os principais estados bolivianos.

Os trabalhadores exigem o cumprimento de 12 reivindicações, entre elas o monopólio do Estado sobre a comercialização de estanho, aumento salarial e investimento do governo para reativar a mina. O eixo da mobilização é a exigência ao governo do monopólio pelo Estado da mina de estanho de Cerro Posokoni. Os mineiros exigem que não haja mais concessões para exploração de estanho nessa área para o setor privado, sejam empresas transnacionais ou cooperativas. Os mineiros estatais querem evitar a retomada do local pelos cooperativistas, que foi a causa do conflito de outubro do ano passado, quando houve enfrentamentos entre cooperativistas e assalariados em Huanuni.

Somente depois desse conflito o governo resolveu atender a reivindicação dos mineiros estatais e colocar Posokoni sob controle da estatal Corporación Minera de Bolivia (Comibol), e integrar 4 mil trabalhadores cooperativistas à mineradora estatal de Huanuni.

Mas a política do governo foi uma medida parcial. Não se pode solucionar o problema do cooperativismo mineiro na Bolívia empregando apenas 4 mil trabalhadores, num universo de mais de 60 mil cooperativistas. A questão de fundo é que o governo não está desfazendo o que os anteriores governos neoliberais fizeram: a destruição da companhia estatal de minério, e o incentivo e apoio ao setor cooperativista (que possui grandes empresários por trás).

O atual ministro de Minérios declarou ser preciso “existir os quatro setores da exploração dos minérios: empresas mistas, estatais, privadas e cooperativistas. A estatal Comibol não pode monopolizar nada e o país está aberto aos investimentos estrangeiros”. (La Razón – 1/07).

Todo apoio à greve mineira
Evo está traindo a confiança e o apoio que os trabalhadores depositaram nele. Aos mineiros e demais trabalhadores bolivianos só resta uma lição: não podem confiar em governos, sejam de direita ou ditos populares (governos de colaboração de classe), que estão a serviço da burguesia. Devemos acreditar somente em nossas lutas. Por isso defendemos:

Post author Nericilda Rocha, de La Paz (Bolívia)
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