Durante o mês de novembro deram-se importantes mobilizações de trabalhadores e estudantes em vários países europeus. Os governos da Europa, independentemente de sua coloração política, e a burguesia querem despejar o peso da crise sobre os trabalhadores. Todos os governos transferiram bilhões de euros aos bancos para garantir seus benefícios.

As multinacionais, principalmente do setor automotivo, iniciaram processos de regulação de emprego: desde férias remuneradas, não renovação de empregos precários até anúncios de demissões. As empresas auxiliares começaram diretamente a fechar ou a realizar demissões em massa. A construção civil na Espanha está paralisando e milhares de trabalhadores, principalmente imigrantes, estão no olho da rua.

Diante desta realidade, os trabalhadores e a juventude começaram a dar sua resposta. Na Itália, trabalhadores da educação e estudantes saíram às ruas de forma em massa contra o governo de Berlusconi e seus planos de privatização e demissão de mais de 70 mil professores. O dia 30 de outubro foi uma jornada histórica de mobilização na escola e em universidades italianas: assembléias em massa, ocupação de escolas e faculdades se estenderam por todo o país.

No dia 13 de novembro foram realizadas greves e manifestações em diversas cidades espanholas. Estudantes e trabalhadores do setor público somavam-se assim às mobilizações dos dias anteriores dos operários metalúrgicos da Galícia e dos trabalhadores da montadora Nissan e as empresas auxiliares do setor automotivo na Catalunha. Novas mobilizações em dezembro, incluindo uma contra a monarquia no dia 6, deixam um final de ano vermelho no Estado Espanhol.

Em Portugal, os professores seguem na vanguarda com mobilizações. Mais de 100 mil saíram às ruas de Lisboa no dia 8 de novembro. Nos meses anteriores, além das mobilizações de professores, ocorreram greves importantes no setor de servidores públicos, trabalhadores do aeroporto de Lisboa e os transportadores.
Na Grécia uma nova Greve Geral paralisou o país, a segunda deste ano, contra a reforma da seguridade.

No dia 20 de Novembro, na França, duzentos mil manifestantes saíram contra reforma educativa que pretende demitir 85 mil professores. Os trabalhadores da companhia aérea Air France também realizaram greves, bem como nos Correios e hospitais e nos meios de comunicação estatais.

Por uma resposta unificada
O ascenso do movimento de massas começa a surgir em grande parte do continente europeu de forma simultânea.

Enquanto isto, a resposta da burocracia sindical está sendo bastante insuficiente às necessidades dos trabalhadores que pagam caro pela brutalidade dos ataques dos governos e empresas.

As convocações tentam debilitar e não unificar as mobilizações. Assim a burocracia convoca um protesto no mesmo dia em diversos lugares para não confluir numa grande mobilização. No caso das montadoras isto é dramático, enquanto os trabalhadores da Nissan em Barcelona saem às ruas aos milhares contra as demissões, não há nenhuma convocação que unifique todos os trabalhadores afetados das empresas auxiliares.
Quando há a oportunidade de unir todos os setores, como podia ter sido a resposta à diretiva européia cujo objetivo é aumentar para 65 horas de trabalho a jornada semanal, a convocação da Confederação Européia de Sindicatos (CES – que agrupa os principais sindicatos) se resume a uma greve de cinco a 15 minutos. Posteriormente, não se realiza nenhuma publicidade ou divulgação desta convocação.

No entanto, a base dos trabalhadores continua desenvolvendo uma resposta muito forte a crise. Muitas destas greves e mobilizações foram impostas pelas bases. Em outras os trabalhadores tomaram a iniciativa e começaram a se auto-organizar, como é caso, por exemplo, dos professores em Portugal que pela primeira vez convocaram uma mobilização com mais de 15 mil pessoas por fora do sindicato oficial.

Ou ainda, o exemplo dos trabalhadores da Previdência em Madri, na Espanha, que se organizaram numa Coordenação de Trabalhadores e convocaram milhares enfrentando a oposição da burocracia sindical. Foi também o caso dos sindicatos alternativos na Itália, que foram capazes de convocar conjuntamente uma jornada de greve e mobilização no dia 17 de outubro.

Está se afirmando, portanto, uma tendência das bases sindicais encontrarem resposta à crise por fora dos aparelhos tradicionais. Dessa forma, os trabalhadores realizam uma crescente mobilização na Europa quando a crise econômica está apenas começando a mostrar suas conseqüências.

Há grandes possibilidades de avanços nas lutas, mas, por outro lado, existem também enormes obstáculos para que os trabalhadores possam conseguir importantes triunfos.
As burocracias sindicais, mesmo que radicalizem um pouco nos discursos e se vejam forçadas a convocar mobilizações, tratam de controlar o movimento levando para o terreno do acordo com a patronal e os governos. Assim, como em muitos conflitos onde se dá uma enorme resposta dos trabalhadores, os acordos obtidos estão muito abaixo das possibilidades da mobilização. E muitas vezes significam a aceitação de retrocessos. Assim foi com as primeiras mobilizações de professores em Portugal ou em lutas importantes como a dos trabalhadores dos ônibus municipais em Madri.

As regulamentações de emprego e as demissões acabam contando com o apoio das burocracias sindicais, que ademais são as primeiras a pedir ajuda do Estado às empresas, ao invés de defender todos os postos de trabalho. Por outro lado, a esta política de divisão que impõe a burocracia sindical, em muitas ocasiões se somam os sindicatos alternativos.

Os trabalhadores e a juventude da Europa vão ter que enfrentar os planos dos governos. A burguesia do continente deseja que os trabalhadores paguem pela crise com o velho argumento de que teremos que “apertar o cinto”. Retomar as assembléias para tomar decisões, unificar a esquerda sindical e os novos organismos que vão surgindo será fundamental para as lutas e no enfrentamento das manobras da burocracia e os governos.
Post author José Moreno, da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI)
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