Uma ameaça atemoriza a burguesia: a possibilidade de uma explosão social, um ascenso revolucionário com conseqüências imprevisíveis nos países imperialistas, como conseqüência da maior crise econômica desde 1929.

Essa é a explicação de fundo para a eleição de Obama. Trata-se de uma manobra preventiva da burguesia norte-americana para contornar o barril de pólvora em que o país está se transformando com a crise. E é um fato que até este momento, as ilusões no primeiro presidente negro têm cumprido um papel de freio nas mobilizações. Obama conta com a ajuda inestimável da burocracia sindical. No caso da GM, sindicalistas aceitaram que os trabalhadores percam seus planos de saúde e reduzam seus salários para que se feche o acordo acertado com o Congresso.

A crise chegou com força na União Européia: “A situação é preocupante e pode piorar nos próximos meses”, advertiu o diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn. “A crise ameaça provocar protestos em quase em todas as partes”, concluiu (El Paíz).

Os trabalhadores europeus começaram a reagir. Existem situações muito diferentes: há países em que o movimento operário já entrou em cena com força (como a França), outros em que o processo está se iniciando (Itália), e outros em que ainda não entrou na luta (Alemanha). As crises atingem mais facilmente os governos de direita (Sarcozy na França, Berlusconi na Itália e Karamanlis na Grécia), enquanto as direções reformistas protegem mais os governos social-democratas (como Portugal e Espanha). Em vários países do leste, em que ocorreu a restauração do capitalismo, existem brutais crises econômicas e políticas, que podem levar a derrubadas de governos.

No passado, a crise do capitalismo do final dos anos 1960 produziu mobilizações como o maio de 68 na França (veja matéria ao lado) e a revolução dos Cravos em Portugal. Essa é uma perspectiva que não pode ser afastada nesse início da crise. Nada está garantido, mas o que se pode dizer é que o continente começa a se mover.

O exemplo francês
O processo de mobilização mais avançado ocorreu na França, país governado pelo direitista Nicolas Sarkozy. No dia 29 de janeiro, uma greve geral sacudiu o país, acompanhada de 195 marchas que juntaram mais de 2,5 milhões de pessoas.

Trabalhadores do setor privado e público, desempregados, pensionistas, estudantes e camponeses uniram-se ao chamado das oito centrais sindicais francesas que, certamente, não esperavam tamanha adesão. As direções burocráticas travaram a mobilização em uma greve de um dia, sem continuidade em um plano de lutas.

O descontentamento com o governo Sarkozy é cada vez maior. A crise fechou empresas e fez o desemprego explodir. Temendo uma radicalização das lutas, Sarkozy foi obrigado a recuar temporariamente nos seus planos, como a reforma no ensino secundário (que prevê a demissão 13,5 mil professores) e do projeto que permitia o trabalho aos domingos.

Mas a crise vai forçar a burguesia do país a impor a aplicação destas medidas para recuperar suas taxas de lucro. O que é, sem dúvida, uma aposta cada vez mais arriscada, sobretudo, após o dia 29 de janeiro que marcou uma nova situação da luta de classes no país e colocou o governo contra a parede.

Na Itália, uma mobilização juntou 700 mil metalúrgicos e funcionários públicos em Roma. Uma greve geral está marcada para 4 de abril, se batendo diretamente contra o governo Berlusconi.

Em Portugal, o governo social-democrata está se enfrentando com uma mobilização gigantesca dos professores contra seu projeto de reformas. Por diversas vezes foram às ruas mais de cem mil dos cento e quarenta mil professores. A mobilização passa também por cima das direções burocráticas. Foi o que ocorreu no final do ano, quando professores realizaram uma mobilização com mais de 15 mil pessoas fora aparato oficial do sindicato.

Na Espanha, a 13 de novembro, enquanto o sindicalismo de base convocava uma manifestação unificada de trabalhadores da saúde, professores e estudantes, as centrais boicotavam e chamavam a não aderir á mobilização.

As crises políticas se estendem
A crise já está provocando também crises políticas que podem levar a derrubada de governos. Um exemplo foi o governo islandês do direitista Geir Haarde. A Islândia foi o primeiro a quebrar junto com os bancos norte-americanos. A economia do país vai cair em 9,7% este ano. Em meio a protestos, o governo não resistiu e Haarde apresentou sua demissão.

Na Grécia, a situação do governo direitista de Karamanlis é cada vez mais frágil. Em dezembro, milhares de jovens saíram às ruas e deixaram o presidente na corda bamba. Agora, durante quase duas semanas, um grande protesto de agricultores bloqueou as estradas.

Novos ventos sopram do Leste Europeu
Protestos também sacodem os países dos Leste Europeu. Milhares de manifestantes saíram às ruas na Lituânia, Letônia e Bulgária e atacaram prédios do governo.
Na Letônia, no dia 13 de janeiro, uma manifestação se enfrentou com a polícia em frente do parlamento na capital Riga.

A indústria do país desmoronou completamente devido à redução da demanda na Europa Ocidental. O banco central da Letônia se declarou “clinicamente morto” para a economia.

Os protestos também se espalharam para o país vizinho, a Lituânia. Na capital Vilnius, milhares reuniram-se em frente do parlamento, gritando “ladrões, ladrões!”. A ira popular era dirigida contra o governo, que tinha adotado a “reforma do mercado” por parte do FMI.

Dias depois foi a vez da Bulgária. Estudantes, professores, médicos e funcionários públicos se reuniram na frente do parlamento, em Sofia, para protestar contra corrupção e o desemprego.

Segundo analistas, a Hungria também caminha rapidamente para grandes explosões sociais. A produção industrial húngara está no nível mais baixo em 16 anos.
Essa é a pior crise que estes países enfrentam desde o retorno do capitalismo na região. Com a crise, a situação política destes países poderá se alterar e os ex-estados operários poderão ser palcos das maiores mobilizações sociais desde 1990, quando uma onda de protesto varreu os regimes stalinistas.

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