As mobilizações massivas dos dias 9 e 10 de abril contra a aprovação da lei H.R. 4437 (apresentada no Congresso dos EUA por legisladores republicanos, o mesmo partido do presidente George W. Bush) e as que as precederam nas semanas anteriores, ficarão seguramente como um fato histórico nas lutas operárias e populares dos EUA. Tão importante como as mobilizações pelos direitos civis dos negros, realizadas na década dos 60, ou contra a guerra de Vietnã, poucos anos depois.

Não é um exagero afirmar que milhões de pessoas participaram dos 125 atos em todo o país, desde mobilizações gigantescas nas grandes cidades até aquelas com algumas dezenas de ativistas. A vanguarda e o centro das mobilizações foram os migrantes latino-americanos que já representam 13% da população dos EUA (40 milhões de pessoas, das quais calcula-se uns 12 milhões “ilegais”).

Não é casual que o “idioma oficial” das marchas fosse o espanhol. Também participaram delas comunidades menores (árabes, chineses, indianos, polacos e até irlandeses). Receberam uma ampla solidariedade da comunidade negra e o apoio de setores de norte-americanos brancos.

O fato que a maioria dos manifestantes eram trabalhadores se evidenciou em palavras de ordem levantadas, tais como “não somos criminosos, somos trabalhadores” ou em cartazes que afirmavam “não queremos ser escravos de ninguém”, como o da Rede Nacional de Trabalhadores Eventuais.

Na mobilização realizada em Chicago, dias antes, “grupos de operários das padarias e restaurantes, de fábricas e canteiros de obras (alguns com seus uniformes de trabalho) saíram diretamente de seus postos de trabalho rumo à marcha”, conforme dizia um artigo do El Obrero Socialista, jornal em espanhol da ISO (International Socialist Organization) dos EUA. Também se mobilizaram muitos estudantes secundaristas.

As causas da migração
As migrações massivas das regiões pobres aos países imperialistas são uma necessidade para o funcionamento do sistema capitalista. Para fugir da pobreza, da miséria e da fome em seus países colonizados, milhões de latino-americanos têm como única alternativa emigrar para os EUA.

Um fenômeno semelhante acontece na Europa com trabalhadores árabes, africanos e asiáticos. A necessidade é tanta que se desafiam todos os riscos e, inclusive, a morte no cruzamento da fronteira.

Este processo beneficia tanto as burguesias latino-americanas, ao diminuir o desemprego e receber as remessas de dinheiro dos emigrados, como as burguesias imperialistas, que conseguem um “exército industrial de reserva”, mão-de-obra barata para realizar os piores trabalhos.

A repressão atual e a nova lei
A legislação que reprime os imigrantes sem documentos hoje já é muito dura. O diário New Herald informa que no ano 2005 a ação da “migra” (polícia de imigração) deteve um milhão e duzentos mil imigrantes ilegais na fronteira com o México. No último ano morreram cerca de 500 imigrantes, pela repressão ou pelas péssimas condições do cruzamento da fronteira.

Para isso, a “migra” agora também conta com o apoio dos “vigilantes”, bandos armados de racistas brancos que ajudam na prisão dos “ilegais”. Esta repressão é, em última instância, parte do “negócio”: por um lado, ela permite controlar o fluxo da imigração e regular seu descontrole; por outro, serve para pressionar por salários ainda mais baixos, com a permanente ameaça de expulsão do país que sofre o trabalhador sem documentos.

Depois das mobilizações, vários líderes latinos foram ameaçados de morte por grupos de extrema-direita. Muitas empresas despediram trabalhadores que participaram delas, numa clara intenção de atacar ao movimento.

Mas a lei HR 4437 vai além: não só considera o imigrante ilegal como “criminoso perigoso”, como transforma em “cúmplices” penalmente puníveis os trabalhadores sociais, os trabalhadores da saúde e todo indivíduo ou organização que lhes forneçam assistência.

O conteúdo da lei se enfrenta com a opinião da maioria dos norte-americanos (55% rechaçam a lei, apenas 25% a aprovam). Além disso, tem a oposição de setores da patronal ianque que se beneficiam com a imigração ilegal e que, com a nova lei, enfrentariam, além da possível expulsão de muitos de seus trabalhadores, o risco de serem processados como “cúmplices criminais”.

A nova lei alternativa
Esta oposição de setores patronais à lei se expressou no apoio e na participação nas mobilizações da Igreja Católica e de importantes políticos do partido Democrata, como o senador Edward Keneddy.

Este fato, num sentido, favoreceu a presença massiva nas mobilizações. Por outro lado, prepara uma armadilha. Os democratas estão negociando com os republicanos, no Senado, uma lei alternativa. É uma lei mais “branda” que a HR 4437. Porém, como não podia ser de outra maneira, ao ser um acordo da patronal imperialista, é uma lei profundamente restritiva que levaria a expulsar do país cinco milhões de imigrantes sem documentos.

Por isso, seria um grande erro das organizações de imigrantes aceitá-la com o critério do “mal menor”. A força das mobilizações permite lutar por uma verdadeira e completa solução do problema dos imigrantes.

É possível vencer
O processo de organização e mobilização dos imigrantes nos EUA não é uma luta de “estrangeiros”. É o setor mais explorado e discriminado da classe trabalhadora norte-americana que se colocou em marcha. Um triunfo dos imigrantes fortaleceria a todos os trabalhadores dos EUA na luta pela recuperação de muitas conquistas perdidas nestes últimos anos e nos ataques que se preparam contra o salário e as condições de trabalho e emprego.

O governo republicano de Bush está debilitado, fundamentalmente por seu fracasso no Iraque, e pode ser derrotado. Neste sentido, a unidade da classe trabalhadora norte-americana para apoiar as reivindicações dos imigrantes é de vital importância. A LIT-QI compromete nosso total apoio a essa luta.

Não à lei HR 4437!

Não à nova lei negociada entre republicanos e democratas!

Basta de perseguição e repressão aos imigrantes!

Green Cards (cartão que permite residência) e legalidade já para todos
os “sem documentos”!

Secretariado Internacional da LIT-QI,
12 de abril de 2006
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