No sábado, 14 de fevereiro de 2004, decididos a desmontar a forma de pensar dos muçulmanos, nivelando parte da humanidade ao seu modo de pensar, os EUA lançaram o canal de TV via satélite Al Hurra, que, em árabe significa “O livre“, transmitindo uma programação especial para todo o Oriente Médio. Na fase inicial do empreendimento, os EUA reservaram US$ 60 milhões, inclusive para custear salário de seus 200 funcionários e o funcionamento de escritórios em várias capitais da região, os quais, de antemão, já nascem como belos alvos para atentados anti-EUA. Comemorando mais esse “feito“ da sua administração, numa alusão indireta às TV’s Al Jazeera, do Qatar, e Al Arabya de Dubai, George W. Bush disse que o objetivo da Al Hurra é “contornar a propaganda odiosa contra os EUA veiculada pelas TV’s da região“. Dando largada a sua programação, as telas da Al Hurra mostraram uma entrevista com George W. Bush, que, todo amável, falou do seu “compromisso com o avanço da paz e da democracia no Oriente Médio“. No embalo, veio notícias simpáticas à ocupação, debates com personalidades norte-americanófilas e muito entretenimento (pelos EUA, os muçulmanos vão ver Tio Patinhas e Mickey 24 horas por dia).

A reação do mundo Árabe. A reação dos muçulmanos contra a iniciativa dos EUA foi imediata. O porta-voz da Frente de Ação Islâmica, braço político do movimento jordaniano Irmandade Muçulmana, Jamil Abu Bakr, disse que “o objetivo principal desta emissora é tentar mudar nossos princípios e doutrinas, mas os EUA também vão perder esta luta, pois não terão como enfrentar a natureza das sociedades árabes e muçulmanas e o ódio que nutrimos pelos esforços dos norte-americanos para desafiar nossas crenças“. A maioria dos jornais estações de rádio e televisão da região se manifestaram criticando a iniciativa dos EUA, descrevendo a Al Hurra como “propaganda indesejada e até mesmo perigosa“.

Rami Khouri, diretor-executivo do Daily Star, o mais importante jornal libanês em língua inglesa, alertou que o funcionamento da Al Hurra vai “exacerbar o abismo entre os norte-americanos e árabes“. Com um leve ar de riso, um porta-voz da Al Jazeera, Jihad Balllout, ousou discordar de Bush, dizendo que “será preciso um pouco mais do que um novo canal por satélite para mudar a opinião pública árabe sobre os EUA“. De sua parte, em editorial, o jornal Tishrin, da Síria, alertou aos muçulmanos que “esta estação é parte de um projeto para recolonizar a pátria árabe“. O jornal Daily Star, da Líbia, considerou o lançamento da Al Hurra como um insulto e questionou a razão pela qual os EUA continuam insultando os países árabes.

FONTE: boletim O Sol nº 136