Está perto de ser concluído o acordo entre o governo norte-americano e as montadoras de Detroit que prevê um plano de ajuda para salvar as empresas da falência. Após pedidos insistentes dos presidentes da General Motors, Ford e Chrysler, vários congressistas se posicionaram contrários à qualquer pacote de ajuda às empresas. Nos últimos dias, porém, as montadoras vêm chegando a um entendimento com a liderança do partido Democrata.

O acordo estabelece um empréstimo de 15 bilhões, menos da metade dos 34 bilhões pedidos pelas empresas. O acordo seria uma espécie de bóia salva-vida para as empresas se manterem até o próximo ano, quando um novo acordo deve ser estabelecido com o já presidente em exercício Barack Obama. O democrata vencedor das eleições presidenciais foi um dos principais defensores do pacote de ajuda ás montadoras, pressionando o congresso para um acordo.

A aparente falta de interesse do governo Bush em salvar as montadoras tem a ver com o papel assumido pelas empresas nos últimos anos. Com uma produtividade em desvantagem em relação às unidades de outras regiões, como América Latina e, principalmente China, que possuem inclusive uma mão-de-obra muito mais barata que a norte-americana, as montadoras de Detroit passaram a ser vistas como um peso para a economia do país. O governo condiciona, então, o empréstimo a um projeto de reestruturação do setor no país. As montadoras devem apresentar seu projeto até o dia 31 de março do ano que vem.

O acordo estabelece a nomeação de um dirigente que vai avalizar o projeto de reestruturação. O “czar” das montadoras, como vem sendo chamado, estabeleceria as regras para o recebimento do empréstimo. As empresas têm até o dia 15 de fevereiro para apresentar um profundo projeto de corte de custos para poderem receber o montante do pacote.

Demissões e precarização
A pressão do governo é para que as montadoras avancem num brutal ataque aos trabalhadores, cortando grande parte dos empregos e promovendo, nos funcionários que restarem, cortes de salários e benefícios. A meta é se aproximar do padrão chinês de produção, com mão-de-obra barata e jornadas de trabalho cada vez mais extenuantes, aumentando, desta forma, a produtividade das montadoras.

O presidente eleito, Barack Obama, visto pela grande maioria da população como uma alternativa de mudança ao governo dos EUA, é um dos principais defensores do projeto de reestruturação. Será o primeiro grande ataque do governo Obama aos trabalhadores para enfrentar a crise, antes mesmo do novo presidente se sentar na cadeira da Casa Branca.