As mais recentes notícias da economia norte-americana atestam a profundidade da crise econômica que leva o país rumo à recessão. O terceiro trimestre de 2008 registrou queda de 0,5% do PIB, o Produto Interno Bruto, a soma do valor de bens e serviços produzidos no país durante o período.

A retração registrada nos meses de julho a setembro representa a maior queda na economia dos Estados Unidos desde a recessão de 2001. Nesse período, o consumo caiu 3,7%, pior resultado desde 1980. Alguns analistas afirmam que o quarto trimestre vai fechar com uma queda entre 4% e 5%, colocando o país oficialmente numa recessão.
Enquanto isso, o governo Bush aprofunda sua política de despejar bilhões no mercado financeiro a fim de salvar bancos e investidores. O último pacote econômico de emergência implementado por Washington para salvar as instituições financeiras resgatou da bancarrota o Citibank, o maior banco do país. O pacote foi articulado nas altas horas da noite de 23 de novembro, em pleno domingo, sendo pessoalmente autorizado por Bush.

O plano de salvamento do banco inclui a garantia do governo norte-americano para 306 bilhões de dólares em títulos podres da instituição, além de um investimento direto de mais 20 bilhões. Com isso, o governo norte-americano se torna o maior dono do Citigroup, o grupo controlador do Citibank, com 7,8% de suas ações. Em outubro o governo já havia gasto 25 bilhões com o mesmo banco. Coincidentemente, o mesmo valor que as montadoras de Detroit pedem ao governo para escapar da falência.
Com uma perda de valor de mercado que supera os 80%, o Citibank já demitiu 23 mil funcionários desde o ínicio da crise. No Brasil, o Citibank emprega 6.184 funcionários e ainda não se sabe quantos serão demitidos. O banco, no entanto, já afirmou que vai adequar seu quadro de empregados à “realidade do mercado”. A senha para demissões. Considerando que o banco planeja de imediato reduzir 20% do total de seus funcionários, isso dá mais de 1.200 bancários, estimando o quadro de empregados no país.

Mais do mesmo
Poucos dias depois do plano que salvou o Citibank, o governo anunciou mais um pacote, desta vez de 800 bilhões de dólares. Supostamente para “reaquecer o consumo”. Divulgado como um pacote financeiro para os consumidores, o teor do plano não difere muito das medidas anteriores. Prevê uma injeção maciça de recursos em bancos com dificuldades.

Do total anunciado, 500 bilhões irão para a garantia de títulos lastreados em hipotecas, como os bancos Fannie Mae, Freddie Mac, que já contaram com a ajuda do governo para não quebrarem quando a crise se agravou, e o Ginnie Mac. Outros 200 bilhões serão destinados a bancos com títulos em dívidas, como cartões de crédito, e mais 100 bilhões irão para garantir as dívidas de empresas.

A lógica do governo Bush é que as medidas garantirão uma maior oferta de crédito aos consumidores, o que não é certo. A única coisa que será realmente garantida é a continuidade dos lucros do mercado financeiro enquanto a chamada economia real se afunda em uma grave recessão. Todas as medidas implementadas por Bush após as eleições estão sendo formuladas em conjunto com Barack Obama e sua equipe de transição.

Quem quer dinheiro?
Segundo a rede da TV financeira CNBC, só o governo norte-americano torrou 5,4 trilhões de dólares desde o inicio da turbulência financeira, em planos de ajuda e resgates. As cifras gastas pelo império cresce no ritmo em que a crise se aprofunda.

Estima-se que o total de dívidas financeiras assumidas pelo governo Bush, entre compromissos diretos e indiretos, como a compra de parte de bancos e empresas, chegue a inacreditáveis 7 trilhões de dólares.

O governo norte-americano despeja bilhões no mercado financeiro de forma indiscriminada, a fim de conter o avanço da crise. Além de insuficiente, tal medida colabora com o aumento da dívida pública no país, hoje calculada em 10,6 trilhões de dólares, ou 76% do PIB do país. Com a lógica de não economizar na ajuda aos bancos e pensar no déficit só depois, os EUA se afundam cada vez mais numa espiral em que será muito difícil escapar.

Crise avança
Os ganhos dos bancos estão garantidos pelo Estado. O mesmo não pode ser dito dos empregos. A taxa de desemprego no país, de 6,5% em outubro, já é a maior em 14 anos. O próprio Fed, o banco central dos EUA, prevê que esse percentual atinja os 7,6% no ano que vem.

Os pedidos do seguro desemprego atingiram 542 mil só na semana do último dia 20. Na semana anterior, 515 mil trabalhadores norte-americanos davam entrada no pedido. Em períodos recessivos, esse número é de, em média, 400 mil, o que dá uma pequena mostra do significado do atual momento vivido pelo império.

Uma prévia do relatório das perspectivas econômicas para o mundo em 2009, realizada pela ONU, coloca a possibilidade de uma queda na economia da ordem de 0,4% para o próximo ano. Esta seria a pior retração mundial desde a depressão inaugurada com a crise de 1929. Anualmente, a ONU analisa as tendências da economia, estabelecendo três cenários possíveis: um otimista, um pessimista e uma média desses dois cenários. “A cada diz que passa o mundo se aproxima mais do cenário pessimista”, chegou a afirmar o próprio autor do relatório, Rob Vos, economista-chefe das Nações Unidas.

Na Europa, a recessão já é uma dura realidade. A Inglaterra já entrou oficialmente em recessão, já que geralmente se define uma recessão por dois trimestres seguidos de crescimento negativo. O desemprego no país, na casa dos 3%, já é o maior desde 2001. Desta forma, o país faz companhia à Alemanha, França Itália e os países da Zona do Euro, que assistem suas economias retraírem, apontando uma dramática recessão global.

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