Estudantes em uma das muitas reuniões nos cursos e em ato, em frente ao prédio da reitoria
Diego Cruz

Após a invasão da Tropa de Choque, alunos interromperam aulas e fizeram protestos. Assembléia unitária discute próximos passos

O forte aparato policial que invadiu o prédio da Reitoria da USP nas primeiras horas da manhã pôs fim a ocupação do prédio, com a saída pacífica dos manifestantes que ali estavam há vários dias. Mas, nem de longe, encerrou a batalha aberta na universidade, sobre o convênio entre a reitoria e a PM, que permite a presença dos policiais no campus. Ao contrário, a presença de dezenas de veículos, de bombas de gás e do efetivo de 400 policiais desencadeou a revolta na comunidade universitária.

Imediatamente após a operação militar, grupos de estudantes se formaram em frente a reitoria, formado por alunos que chegavam para as aulas, ativistas que não foram presos ou que não estavam participando da ocupação, professores, funcionários e sindicalistas. Os manifestantes que chegavam se deparavam com o forte cordão policial, que permaneceu montado durante todo o dia, com dezenas de policiais do Batalhão de Choque e da Força Tática, e veículos sendo usados para impedir a passagem até a frente do prédio da reitoria.

A esse grupo, se somaram também moradores do CRUSP, a moradia estudantil, que foram acordados, por volta das 5h, com a operação policial. “Nós acordamos com o som dos helicópteros sobrevoando a USP e as sirenes. Logo depois, lançaram bombas de gás lacrimôgeneo para que a gente não deixasse o prédio e fosse até a reitoria. Ao menos três bombas foram jogadas”, denuncia uma moradora, que não quis se identificar.

No meio da manhã, os manifestantes fizeram uma reunião e decidiram formar vários grupos, para percorrer a universidade, paralisar as aulas e conversar com os alunos, denunciando o ocorrido. Na Faculdade de Letras, os estudantes fizeram uma assembléia, e decidiram parar as aulas, aderindo a mobilização. Também resolveram adiar a eleição do Centro Acadêmico, que estava marcada, e publicaram uma nota pública, contra a PM no Campus.

No final da manhã, cerca de 200 estudantes de vários cursos, como Letras e Arquitetura, também foram em passeata até a 91ª Delegacia Policial, onde os 73 estudantes haviam sido levados presos, em ônibus. “Caminhamos cerca de uma hora até a delegacia, cantando palavras de ordem, pela liberdade aos presos”, conta o estudante Paulo Henrique “Bahia”, estudante da Letras e militante do PSTU, que chegou na USP às 6h50, se deparando com a invasão.

Até o final da tarde, 70 estudantes permaneciam detidos, muitos nos ônibus, em frente à delegacia. Eles divulgaram uma carta, na qual denunciavam: "Nos obrigaram a entrar em salas escuras e agrediram estudantes. Homens com farda e sem identificação". Com a queixa feita contra os estudantes pela reitoria, foi fixada uma fiança de R$ 1.050, 00 para cada um dos detidos. Durante a tarde, sindicatos e entidades, como a CSP-Conlutas, se mobilizaram para entrar com um pedido de habeas corpus e também para arrecadar a quantia necessária para a libertação do grupo.

De volta da delegacia, os estudantes se somaram aos que realizavam um ato perto da reitoria, somando cerca de 300 pessoas. Ali, de frente para os policiais, protestaram contra o ataque, com palavras de ordem, discursos e aulas-públicas de professores da USP, que também lançaram um manifesto e abaixo-assinado online, contra a invasão.

O ato concentrou forças e, com as aulas paradas, aglutinou os que estão ainda perplexos e revoltados com a ação da reitoria. No início da tarde, um grupo de estudantes do IME (Instituto de Matemática e Engenharia) veio em delegação apoiar o protesto. Eles carregavam um cartaz, com os dizeres: “Se até o IME está aqui, quer dizer que a coisa tá feia”, ironizando a baixa participação e adesão a protestos dos alunos do instituto.

UNIDADE
No início da noite, os alunos começaram reunioes nos cursos e, às 20h, iniciariam uma assembleia central, para decidir os próximos passos. “Sem liberdade, não tem universidade. Esse ataque derrubou a máscara do reitor, que já vem aplicando a militarização da USP, com a presença da PM e com processos contra alunos e funcionários”, afirmou Dirceu Travesso, da CSP-Conlutas, que permanecia no local. “O que está em jogo é a defesa da universidade e das liberdades. É necessário uma grande unidade contra esse ataque.”

Greve
Em assembleia geral que reuniu mais de 2 mil pessoas na noite dessa terça-feira, os estudantes decidiram decretar greve geral. Eles exigem o fim do convênio entre a reitoria e a PM e o arquivamento de todos os processos contra os estudantes detidos.