Reitoria ameaça estudantes com repressão policialO reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Roberto Salles, diante de mais uma forte mobilização contra o ReUni – que juntou cerca de 400 pessoas -, decidiu suspender a reunião do Conselho Universitário no dia 23 de outubro. A data era véspera da Marcha a Brasília contra as reformas neoliberais de Lula. Salles tomou essa medida para não ter de acatar a decisão da maioria da comunidade universitária, que é contrária à reforma universitária e ao ReUni.

Diante de mais esse golpe da reitoria da UFF, que já tentou mil manobras, desde a mudança de local do conselho até a realização de um Conselho Universitário ampliado, com todos os conselhos superiores, ou seja, o conjunto da burocracia universitária interessada nas verbas do ReUni, os estudantes e trabalhadores da universidade resolveram fazer mais uma ocupação de reitoria.

Havíamos ocupado a reitoria nos dias 16 e 17, depois de um ato com 500 pessoas. Nessa última ocupação, no dia 23, organizamos uma Assembléia Comunitária que votou um sonoro “não” ao ReUni.

Uma parte significativa dos ativistas foram à marcha e à Plenária Nacional da Frente de Luta contra a Reforma Universitária para fortalecer a luta nacional contra os ataques do governo às universidades. A reitoria tentou, então, dar sua última cartada: entrou com um mandado de reintegração de posse do prédio e ameaçou chamar a Polícia Federal.

Isso é parte do crescente processo de criminalização dos movimentos sociais vivido hoje no Brasil e está em consonância com a política do governo Lula que quer aprovar a lei antigreve. Houve uma série de processos de repressão a ocupações de reitorias em São Paulo. O movimento estudantil deve estar atento a esses ataques. Nem na ditadura militar as reitorias lançavam mão de tão odioso artifício para fazer valer sua vontade. Na verdade, em geral, o que acontecia, é que muitos reitores barravam a entrada da polícia na universidade.

Na greve da educação de 2005, vivemos na UFF um processo de repressão policial com a entrada da Polícia Militar no campus e o espancamento de grevistas. Naquele momento, tal atitude fortaleceu a greve. Não ter aprendido esta lição foi o maior erro de Roberto Salles.

Com essa atitude vergonhosa da reitoria, o atual reitor cavou sua própria cova e demonstrou toda a sua fraqueza frente ao movimento. O reitor não só teve que retirar o ReUni de pauta diante da mobilização unificada dos setores que compõem a Frente de Luta contra a Reforma Universitária e diversos setores independentes, como na negociação da desocupação garantimos uma audiência com a reitoria para debater o ReUni e assistência estudantil, a manutenção do acampamento do movimento pela moradia na UFF no campus do Gragoatá. Além disso, a reitoria foi obrigada a retirar o processo que havia movido contra ativistas do movimento estudantil. Os estudantes disseram explicitamente para a reitoria que o ataque a um companheiro seria o ataque a todos e que não aceitaríamos a criminalização do nosso movimento.

Conlute e FOE atuaram em conjunto nessa luta. Já a UNE, mais uma vez, ficou de fora da mobilização, indo, na verdade, contra a vontade dos estudantes que votaram massivamente contra o ReUni, numa assembléia que reuniu cerca de 500 estudantes. A unidade dos três segmentos – estudantes, técnicos-administrativos e docentes – e de suas respectivas entidades (DCE, Sintuff e Aduff) também foi decisiva para a vitória.

A Assembléia Comunitária ocorrida no lugar do Conselho Universitário, desmontado pelo reitor, contou com a participação de cerca de 400 pessoas. Os militantes do PSTU e do coletivo “UFF que queremos-Conlute” defenderam que esta assembléia deveria ocorrer antes para fortalecer a posição frente à burocracia e que não poderia ser depositada nenhuma confiança na reitoria truculenta, privatista e governista, nem no Conselho Universitário, controlado pelos mesmos burocratas.

Como formulação coletiva do movimento, foi aprovada uma moção de repúdio à atitude de Roberto Salles e contra a repressão. Também foi definida a proposta de organização de um Congresso da UFF, paritário e, portanto, verdadeiramente democrático para debater a concepção de universidade do movimento e para fazer avançar a luta contra o ReUni, a fundação privada e os cursos pagos, além de defender mais verbas para a assistência estudantil e contra o atual processo de precarização do trabalho, promovido por este governo neoliberal.