Cerca de 500 estudantes foram detidos pelos carabineros

Protestos de estudantes secundaristas tomaram as ruas e enfrentaram a repressão policialNesta quarta-feira, dia 31, mais de 600 mil estudantes secundaristas foram às ruas de todo o Chile para lutar por melhores condições de ensino. As manifestações, as maiores já registradas desde 1972, atingiram a capital Santiago e outras cidades como Valparaíso, Arica, Iquique, Concepción, Temuco e Puerto Montt. Os secundaristas reivindicam a gratuidade para a Prova de Seleção Universitária (PSU), o vestibular de lá, que hoje custa cerca de R$ 120 e o passe-livre nos transportes públicos

Eles também exigem a revogação da Lei Orgânica Constitucional de Ensino (Loce), promulgada sob a ditadura do general Pinochet. Tal lei provocou ao longo dos anos um tremendo desequilíbrio entre as escolas públicas do país, pois repassou às prefeituras a responsabilidade pela educação pública. Assim, as desigualdades entre as escolas de regiões mais pobres e ricas aumentaram. O gasto mensal, por exemplo, de uma mesma vaga de um aluno numa escola pública pode variar de R$ 140 a R$ 800, dependendo da região. Os estudantes exigem o fim da municipalização e defendem que a educação pública volte a ser responsabilidade do governo nacional.

Após os protestos, os estudantes deram ultimato ao governo. Caso este não atenda suas reivindicações até a sexta-feira, eles prometem realizar na próxima semana uma greve geral no país. Uma frase que está sendo símbolo do movimento é ‘El cobre por el cielo. La educacion por el suelo´. O slogan é um protesto contra o sucateamento da educação, que se encontraria no “solo”, enquanto o cobre, principal riqueza do país, tem seu preço nos “céus” e rende divisas que não são repassadas para o povo.

Repressão
Durante os protestos, houve uma brutal repressão policial contra os ativistas. Com bombas de gás lacrimogênio e jatos d`água. Os carabineros, a polícia militar chilena, marcharam com seus esquadrões sobre os estudantes. Houve registro das ações dos carabineros, inclusive, nas ruas próximas ao Palácio La Moneda, sede da Presidência, em Santiago. Até o momento, a ação repressiva resultou em cerca de 500 estudantes detidos e 41 feridos. A polícia praticamente proibiu a circulação de jovens pelas ruas do centro da capital. Ato que foi comparado ao verdadeiro “Estado de Sítio”, como denunciou um estudante a uma rádio.

Governo
Há três meses no poder, a presidente chilena, Michelle Bachelet, do Partido Socialista, enfrenta com os protestos sua primeira crise. Já prevendo dias difíceis no decorrer da semana, disse no domingo passado que, ao seu ver, as exigências dos estudantes são justas. “Queremos que a educação no Chile seja cada dia melhor. Estamos completamente de acordo que será preciso mudar uma série de coisas para que a educação seja de melhor qualidade para todos, para as escolas públicas e privadas“. Naquele momento os protestos ainda não haviam tomado conta do país. E nem a polícia havia reprimido as manifestações. Depois, para tentar não se responsabilizar pela violência dos carabineros, condenou a repressão e demitiu o chefe da polícia.

Contudo, é preciso muita precaução com as possíveis armadilhas que o governo pode preparar. Durante anos a coligação Concertácion (que reúne os partidos Socialista e Democrata-Cristão) governou o país e aprofundou os planos neoliberais iniciados com Pinochet. Entre eles, a mercantilização do ensino público chileno. Por isso, o movimento estudantil do Chile não deve depositar nenhuma confiança no governo Bachelet. A exemplo do que aconteceu há alguns meses atrás na França, somente a mobilização independente dos estudantes pode fazê-los vitoriosos e, assim, conquistarem suas reivindicações.

Nesse sentido, o PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores – seção da LIT-QI) publicou nota defendendo: “Devemos criar a nível nacional uma coordenação que aprove um plano de lutas que estabeleça nossas reivindicações imediatas, baseando-se em recuperar a educação pública das mãos do mercado capitalista, como o excessivo custo do PSU e os créditos universitários privados com aval do estado. Para isso, devemos exigir que todos os excedentes do cobre se destinem a educação e não aos bolsos da burguesia e do governo. Devemos também exigir plenos diretos democráticos e políticos para as organizações estudantis nas escolas e colégios que são fortemente reprimidas pela lei LOCE, a qual devemos abolir, pois consagra nossa atual situação de opressão. Nossas propostas para a luta:

Abaixo a lei LOCE!
Abolição do P$U!
Ingresso irrestrito na universidade!
Por uma Federação Única de Estudantes Secundaristas!
Coordenadora Nacional com plano de luta e mobilização permanente!
Não ao pagamento da dívida externa de 47 mil milhões de pesos!
Renacionalização do Cobre e todos seus excedentes milionários para a educação!
Por uma educação pública, gratuita, laica e pluralista!
Pela unidade operária-estudantil!”